Capítulo 11

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Estávamos dando altas gargalhadas com um filme de comédia, quando Alex recebeu a ligação de Erick. Já era tarde, por volta das nove da noite. Pelo que entendi, um banco foi assaltado e uma troca de tiros deixou dois colegas feridos. Estavam precisando de reforço, mas fui impedida pelo delegado de ir a campo. Acompanhei meu amigo até a frente do prédio, onde o assistir pôr o capacete e subir na moto.

— Qualquer coisa liga pra delegacia. Amanhã compro um celular e passo aqui pra te ver.

— Tá bom. Vai com cuidado. — Ele piscou pra mim e partiu.

Por puro reflexo, avistei alguém acenando no outro lado da rua. Meu corpo entrou em alerta. Eu o reconheci de imediato. Errando as passadas, parou diante de mim.

— Oi, Vivi! — Abriu um sorriso amarelo e meus olhos pinicaram instantaneamente. Talvez fossem os hormônios aflorados, ou os últimos acontecimentos que me deixaram tão frágil.

— Oi, papai. — Como eu queria abraçá-lo.

Me senti péssima por ter recuado um passo quando ele se aproximou. Eu deveria ser melhor do que aquilo, mas sabia que sua presença ali não significava saudade de mim e do Vincent. Eu precisava me manter firme.

— O que o senhor veio fazer aqui?

— Ah, você sabe... vim ver vocês — seu hálito de bebida me atingiu.

— Estamos bem.

— Claro que estão. Você sempre soube se virar, não é? Eu sou um péssimo pai. — Daquilo eu não podia discordar.

— O que quer?

Ele me encarou por alguns instantes. Seus olhos castanhos me fizeram voltar ao passado, quando ele era um homem sem vícios, um pai amoroso e cuidadoso. Meu peito doeu.

— Preciso de dinheiro, minha filha. Tô devendo a um pessoal barra pesada.

— Pai! — Sorri, amarga. — Você só deve estar de brincadeira. Eu sou uma policial! Como tem coragem de me pedir dinheiro para sustentar seu vício em drogas?

— Mas... eles vão me matar, Victória! É isso que quer?

Eu estava exausta. Não tinha forças para discutir.

— Se precisa de ajuda para se tratar, eu estou aqui, pai. Se quiser denunciar os caras que estão te ameaçando, pode ter certeza que não medirei esforços, mas dinheiro? Não. Já passamos por isso antes, já me deixei cegar várias vezes com seu discurso. O pouco dinheiro que tenho é para o futuro do Vincent. Se não tem mais nada pra falar, por favor, vá embora. Não estou bem, preciso descansar.

— Então é assim que vai ser? Que tipo de filha é você? — Ele me olhou com... nojo?

— Pai...

— Quer saber? — Se aproximou, exaltado — esquece que eu existo! Foi por isso que não quis ficar com você. Não serve pra nada! Se acha superior só porque tem um trabalho importante? Não esqueça que se não fosse por mim, não teria nada!

Meu peito apertou e lutei para não deixar as lágrimas caírem.

— Se pensa assim, fique longe de mim e do Vincent. — Como era difícil falar com aquele nó na garganta.

— Vão pro inferno, você e aquele fedelho!

Ele saiu do meu campo de visão e eu soltei um soluço abafado. Eu estava partida em pedaços. Queria me mexer, mas minhas pernas estavam tão trêmulas que não saíam do lugar. Pus as mãos no rosto e abafei mais um soluço.

Fiz de tudo para ajudá-lo a sair do mundo ilícito, perdi tanto dinheiro sendo enganada por ele, que mal consigo contar. Pensei que já estivesse cicatrizada, acreditei que não seria mais afetada pelo passado. Como eu era tola. Meu estômago se revirou. Um gosto amargo se misturou com o nó na minha garganta e as lágrimas começaram a cair, sem pausa.

A minha vez, Victória Livro 4 CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora