Capítulo 8

169 20 1
                                    

Exatas duas horas e vinte e dois minutos se passaram desde que Olivia desapareceu. Procuramos por todo o hotel, ruas próximas, bares, restaurantes e até incomodamos alguns hóspedes com perguntas.

Como última opção, liguei para Emma e pedi que falasse com o Jones, seu noivo e dono de metade do hotel. Emma e eu nos conhecemos no ano anterior. Estávamos em um bar bebendo. Fugindo de nossos problemas.

Eu sofria de coração partido. Foi naquele dia que peguei meu ex com outra na cama. Já ela, passava por uma situação mais séria, fora vítima de violência física. Depois daquele dia nossos caminhos se cruzaram mais algumas vezes e, desde então, cultivamos uma amizade distante, mas sincera.

Felizmente consegui acessar as imagens das câmeras dos corredores e o que vi me acalmou um pouco. Olivia saiu sozinha, logo depois que nós a deixamos em seu quarto. Nas imagens não deu pra saber para onde ela foi, mas uma câmera da entrada a filmou pegando um táxi.

Ela não foi sequestrada!

Fotografei as imagens com o celular e retornei ao quarto, onde deixei Elise acalmando a Sra. Forbes.

Assim que peguei na maçaneta da porta ouvi vozes alteradas vindo do cômodo. Na verdade, foi apenas uma voz. Uma voz que fez meu estômago contrair de nervoso.

Me assustei com a imagem de Yan Foster completamente fora de si. Seus cabelos caiam pela testa, onde uma veia alterada frisava sua fúria e o tornava ainda mais assustador.

Ele estava com uma camisa escura, de mangas arregaçadas até os cotovelos. Suas mãos se movimentavam, desconexas. Ora na cintura, ora gesticulando para reclamar sobre o quanto fomos incompetentes.

Só naquele momento me dei conta de que havia ouvido George falar o sobrenome Foster. Mas também pudera! Existem milhares de pessoas com o sobrenome. Nunca ligaria uma pessoa a outra. Sem contar que Olívia não parecia em nada com ele. E quando George ligou para o então irmão da srta. Philips, não falou de quem se tratava.

Droga... tinha que ser justo ele?!

Yan ainda não havia me notado, estava ocupado demais recriminando todos do quarto.

Olhei para George e Elise, ambos cabisbaixos e visivelmente acuados no meio da sala, escutando tudo calados.

— O que tá acontecendo aqui?

Yan me olhou dos pés à cabeça com o centro da testa enrugado. Me perguntei o porquê ainda estava com aquele vestido. Me desfiz apenas dos saltos quando tive oportunidade.

— Você acha que foi culpa nossa o sumiço da Srta. Philips? — Questionei, irritada. Se tinha uma coisa que aprendi com a vida, era que nunca, em hipótese alguma, deveria baixar minha cabeça aos gritos de alguém.

— Não. Eu não acho. Eu tenho certeza. Estou pagando um absurdo para vocês protegerem minha irmã, e na primeira oportunidade perdem ela de vista? Que diabos estavam fazendo, afinal?

— A questão é que...

A questão, srta. Lewis, é que me equivoquei ao contratar vocês duas — ele apontou pra mim e para Elise, que estava pálida como uma defunta. — Quando recebi seus arquivos realmente pensei que fossem boas no que faziam. E você! — apontou para meu rosto. Meus nervos ferveram — Francamente... eu esperava mais.

— Como assim... — tentei falar, mas novamente fui interrompida por ele.

— Mas o que se esperar de alguém que se recusa a subir na vida? Que prefere ser subordinada para sempre, ao invés de crescer profissionalmente? É notório que não tem a visão necessária para o trabalho.

Fazia tempo desde que conseguiram me atingir tão profundamente, que eu precisei respirar fundo, para não perder o controle.

Não podia acreditar que ele havia me investigado e estava jogando tudo na minha cara. Sim, recusei várias oportunidades de trabalho. Vagas que provavelmente eu não terei mais chances de concorrer, mas eu tinha uma razão para aquilo. Todas as promoções eram longe da cidade e meu irmão foi o motivo para todas as minhas recusas. Eu o priorizei acima de tudo, e não me arrependo um só segundo.

Àquela hora eu não estava mais dentro de mim, me senti humilhada. E nunca admiti isso. Eu era boa no que fazia e ele não tinha o direito de questionar minha capacidade.

Primeiro; — comecei a falar com a voz alterada — nunca mais coloque o dedo na minha cara. segundo; — gritei mais alto, pois ele estava pronto para retrucar — se gritar comigo, não espere que eu me cale, pois vai ouvir no mesmo tom e, terceiro; não pense que sabe sobre a minha vida, por que não tem ideia de porra nenhuma! Não me trate como se me conhecesse, não me subestime, ou tente diminuir minha capacidade. O caralho da sua opinião não me interessa! Não é porque tem dinheiro que me fará suportar seus gritos. E tem mais! A sua irmã saiu sozinha — mostrei as fotos para ele de forma brusca e o aparelho foi tirado de minhas mãos abruptamente. — E outra, depois que acharmos a sua irmã, vou embora!

Seu olhar estava focado no meu celular. Me senti ignorada e aquilo me enfureceu mais ainda. Senti os batimentos pulsando nas têmporas.

Naquele momento a porta foi aberta e Olivia entrou com um sorriso que foi se desfazendo à medida que nos encarava.

— O que aconteceu?

Mesmo não demonstrando vi o peito de Yan soltar um ar de alívio.

— Ollie! Ah, graças a Deus! — A Sra. Foster correu para abraçá-la.

— Onde estava? — Seu irmão perguntou, friamente.

— Ué, não foi você quem insistiu para eu sair de casa?

— Tá, mas o combinado era de você vir a festa.

— Mas eu decidi dar uma volta, convidei a Sophia para conversarmos um pouco. E, senhorita Lewis, — ela me olhou — você estava certa, obrigada por me encorajar. Você também, Elise.

Tentei sorrir para ela, mas só consegui acenar com a cabeça.

— Imagina, querida. Fico muito feliz por estar bem. Mas deveria ter nos avisado, ficamos procurando você por todos os lugares.

— Sinto muito.

Naquela noite prometi a mim mesma que nunca mais aceitaria ser segurança particular de ninguém.

Puxei meu celular das mãos de Yan. Eu ainda não tinha digerido o que me falou, ele agiu como um idiota. Eu precisaria de um tempo para superar suas palavras. Algo que não deveria acontecer, pois sabia os meus reais motivos, sua opinião não deveria ter me atingido tanto.

— Eu vou indo agora. Elise? — Me aproximei pra pegar minha mochila no sofá — você vem?

— Acho que não, preciso do dinheiro e...

— Eu entendo — lhe interrompi sem paciência para ouvir a justificativa. Eu também precisava do dinheiro, mas meu orgulho não deixaria eu ficar nem um segundo a mais naquele lugar — Até mais e boa sorte. Olivia, George, Sra. Forbes... Foi um prazer.

A senhora de cabelos esbranquiçados me sorriu constrangida. A jovem ao seu lado franziu as sobrancelhas.

— Me deixe pagar pelo menos seu dia — Yan murmurou enquanto mexia nos bolsos.

Sua voz estava mais suave, apesar de ainda estar com uma carranca. Eu apenas fingi não ouvir.

Ele achava realmente que eu iria aceitar seu dinheiro depois de tanto desaforo?

— Você sabe o que fazer com esse dinheiro — resmunguei, abrindo a porta em seguida.

— O que quer dizer com isso?

O olhei sem paciência e acabei falando sem pensar:

— Vai pra puta que pariu com ele.

Bati a porta e pisei firme até chegar no elevador.
Se ele tinha em mente que eu acataria suas ofensas, calada, como se eu fosse um soldado obedecendo ordens e ouvindo insultos do seu capitão, é porque não conhecia Victória Lewis.

A minha vez, Victória Livro 4 CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora