— Vincent vamos nos atrasar! — chamei meu irmão pela terceira vez naquela manhã.
Costumávamos sair às sete e quarenta. Eu sempre o deixava na escola e depois ia trabalhar.
No entanto, desde que retornei da operação, estava tendo dificuldade com os horários dele. Isso porque a casa da tia Carmen era praticamente ao lado do colégio onde ele estudava, então se acostumou a acordar tarde.
— Tô indo! — gritou do quarto.
Peguei as chaves do carro e virei o último gole de suco.
— Eu nem tomei café! — Resmungou.
— Compramos algo no caminho. Não pode ficar se atrasando sempre.
— Amanhã acordarei mais cedo, prometo.
— Sei — peguei minha bolsa e saímos apressados até o elevador.
💋 💋 💋
Assim que cheguei na guarnição, Alex me alcançou. Ele já estava uniformizado, como todos os outros colegas.
— Se atrasou de novo, Vic?
— Vincent. De novo.
— O delegado já perguntou por você hoje — continuou me seguindo até o vestiário.
— Por que?
— Não sei. Mas vi um cara saindo da sala dele, faz...— olhou no relógio — quinze minutos.
Comecei a me despir e Alex virou de costas. Bufei, revirando os olhos, pois o vestiário era unissex. Sem contar que o bobo do meu amigo já me viu de lingerie várias vezes. Mesmo assim achava fofo da sua parte.
— Continua — falei.
— É só isso que sei.
— Nossa Alex, que informação completa! Me esperou só pra isso?
— Não. Estamos juntos hoje, na patrulha.
— Ah, ok. Já estou indo.
Fechei o último botão da camisa azul marinho e comecei a calçar as botas.
— Pensando bem... — ele continuou — acho que já vi o cara que conversava com o Erick, só não lembro de onde.
Guardei minha mochila no armário e amarrei meu cabelo em um coque alto.
— Ainda bem que não dependemos da sua memória para nada. Vamos.
— Há, há. Muito engraçada.
Sorri e saí com Alex no meu encalço.
A primeira pessoa que me deparei ao sair do vestiário foi o delegado. Ele me chamou até a sua sala, o que me deixou curiosa.
O delegado tinha por volta de cinquenta e cinco anos, seus olhos eram grandes e redondos e sua personalidade era pacífica.
— Aconteceu alguma coisa? — Perguntei.
— Não, exatamente. Na verdade, tenho duas coisas pra te falar. A primeira é que você tem cinco dias de folga pendentes.
— Mas eu não prec...
— Precisa sim, todo mundo precisa de uma folga de vez em quando, Victória.
Seu olhar sério me fez recuar. Na verdade, não me lembrava da última vez que havia tirado folga. Não que eu precisasse, já estava acostumada com a rotina corrida do trabalho e os turnos complexos. Não gostava de ficar em casa sem fazer nada, por isso vinha emendando um turno em outro.
— E a outra coisa?
— Um amigo está precisando de duas mulheres para fazer a segurança da irmã mais nova durante dois dias. Não costumo fazer isso, mas ele é um grande amigo. Então disse que veria com algumas policiais. É um trabalho particular, ele está oferecendo cinco mil por dia.
— CINCO? — Arregalei os olhos. — Seu amigo é o governador, por acaso?
— Ele quer um trabalho de quarenta e oito horas. Almoço e demais necessidades serão feitas na casa deles.
— Tá, acho que posso fazer isso, a grana vai ser boa. Vou ver se o Alex não quer ir comigo.
— Não. Ela só aceita mulheres fazendo sua segurança. E Yan não conseguiu ninguém a tempo. Se topar, pode usar seus dias de folga.
— Por quê? Do que exatamente estaremos protegendo a moça?
O delegado respirou fundo e sentou em sua cadeira acolchoada.
— É que ela é herdeira de uma pequena fortuna da família. Ano passado, um dos seus seguranças a violentou. Por isso, nada de homens.
— Ah, droga — engoli em seco.
Se tem um ser que desprezo no mundo, são os estupradores.
— Quantos anos ela tem? — perguntei.
— Vinte e quatro.
— Ta. Eu aceito. Pra quando é o serviço?
— Amanhã e sábado. Ela participará de um evento beneficente amanhã e o Yan não poderá comparecer, pois estará fora até sábado a tarde.
— Tudo bem.
— Vou falar com ele. Obrigado. Se não fosse tão urgente, não pediria.
— Tudo bem. Obrigada por lembrar de mim.
Ele sorriu e eu acenei com a cabeça, antes de sair.
Alex me esperava inquieto do lado de fora da sala.
— E ai?
— Vou tirar uns dias de folga.
— Só?
Sorri com a curiosidade dele.
— E também irei fazer um serviço de segurança particular.
— Uau... e pra quem é? Não me diz que é pro delegado.
Gargalhei alto enquanto alcançava a viatura no pátio.
— E por que diabos o delegado precisaria de segurança particular?
Ele deu de ombros.
— Eu dirijo — se adiantou.
Coloquei o cinto e voltei a falar:
— É um favor para um amigo dele.
— Humm. Legal.
— Vou tirar uns dias pra descansar também.
— E quando volta?
— Na próxima semana.
Alex abre a boca pra falar algo, mas é interrompido pelo rádio.
— Atenção, todas as unidades, confusão em frente ao Global Education Office.
Peguei o rádio e respondi ao chamado.
— Viatura 1504 a caminho.
Alex ligou as sirenes e seguimos rapidamente.
Ao chegar no local indicado, avistei um senhor aparentemente conhecido, não me recordava de onde, segurando um garoto pelo braço. À medida que me aproximei, reconheci as roupas e a mochila do menino. Um calafrio percorreu minha espinha.
— Vincent?
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A minha vez, Victória Livro 4 Completo
RomanceVictória é uma mulher que vive a vida inten-samente. Acostumada a enfrentar desafios diários como policial, se vê dedicada a desistir do maior desafio da sua vida; encontrar um amor. O que ela não contava, era que o destino colocaria um homem tão in...