Capítulo13

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Por Yan


Provocar Victória era satisfatório. Ela era o tipo de mulher que odiava perder as rédeas da situação. Amava desafios, mesmo os que não fossem boa. Não gostava de se sentir inferior, por mais que essa não fosse a minha intenção. Mas o que eu podia fazer, se provocá-la virou um hobby?

Estávamos no segundo giro da roda gigante e ela não parava de gritar. Meus tímpanos já estavam quase estourando. E olha que era o pobre do irmão que estava sentado ao seu lado!

Eu a provoquei para entrar no brinquedo, disse que até minha prima de seis anos era mais corajosa. Eu nem tenho primas. Mas aquilo a fez aceitar o desafio e, por Deus, que arrependimento me deu.

Na quarta volta ela não emitiu nenhum som, o que me fez olhar para trás e ver a cara de desespero do Vincent. A irmã estava agarrando o braço dele com força. Os olhos estavam tão apertados que dava para ver as extremidades molhadas.

Ela era linda demais, mesmo com medo. E naqueles rápidos segundos, quando seus cachos cobriram metade do rosto e ela abriu os olhos, meu peito errou as batidas.

Aos poucos o brinquedo foi parando. Victória desceu, furiosa. Passou por mim como um furacão, em direção ao carro.

Olhei para Vincent, procurando uma resposta. Ele deu de ombros.

— Ela tem medo de altura, eu disse.

— Vou atrás dela. — Abri a carteira e dei alguns dólares a ele — toma, fica naquela barraca de tiro perto da entrada. Não sai de lá. — Ele sorriu e saiu em disparada.

O sol estava perto de se pôr. O clima era agradável. Os poucos raios que alcançavam minha pele aquecia mais do que queimava.

De longe avistei Victória sentada no banco do carro. Ainda não podia dizer que a conhecia, mas sabia, pela expressão emburrada, que não estava afim de papo. Como isso nunca foi impedimento para mim, abri a porta do sedan e me sentei ao seu lado.

— Veio zombar? — Sempre na defensiva.

— Não. — Tentei falar da forma mais suave possível — tá tudo bem?

— Por que veio? Pra mostrar que é mais corajoso do que eu? Pra me fazer passar por patética na frente de todos? — Ela estava tão brava que suas sobrancelhas formaram ondinhas no meio da testa.

Em meus quarenta anos já tinha adquirido experiência com pessoas fragilizadas e orgulhosas o suficiente, para saber o que ela estava tentando fazer. Victória não gostava de demonstrar seu lado sensível, e antes de ser ferida, costumava atacar, como uma bela Leoa.

Eu sabia o que a desarmaria: ser honesto e mostrar minha vulnerabilidade. Eu era orgulhoso e arrogante, jamais admitiria isso em voz alta, mas sabia quando baixar a guarda.

— Eu vim, porque fazia anos que não saía pra me divertir.

— Me poupe — expirou.

— Eu passei metade dos últimos vinte anos na guerra, e a outra metade trabalhando na minha empresa. Nunca trouxe minha irmã ao parque. Nem conversamos direito, pra falar a verdade. — Desviei o olhar para o sol que desaparecia aos poucos, através da roda gigante. Eu tinha vergonha daquilo. De não ter sido um bom irmão. — Gosto de você e, não, eu não me diverti ao te ver assustada. Não te acho menos corajosa por causa de um brinquedo idiota. Eu sei que é uma mulher forte, não preciso que me prove nada. Só quis vir me divertir e... — olhei para ela e sorri com o canto dos lábios — te provocar um pouco.

Ela revirou os olhos, mas sorriu.

— Você sempre sabe o que dizer. Não consigo te odiar. Já tentei, acredite.

— Eu sei.

— Se sabe, por que tenho a impressão de que está sempre na minha cola?

— É mais forte do que eu. Preciso saber como você está indo, depois do que aconteceu.

Ela se virou de frente pra mim e estreitou os olhos.

— Não tá fazendo isso pra me pegar?

— Não. — Sorri largamente — mas não posso dizer que isso não passa pela minha cabeça.

Pela primeira vez, desde que a conheci, a vi inibida. Vic desviou o olhar do meu e não disse nada. Aquilo era novo, Victória não era o tipo de mulher que ficava sem palavras.

— Vamos, meu irmão deve estar nos procurando — ela abriu a porta do carro.

Saí intrigado. Dei a volta rápido o suficiente para impedir que ela se afastasse do veículo.

— Que foi? — Pus as mãos nos bolsos e ela recuou até encostar na lateral do carro. — Ficou envergonhada com o que eu disse?

O vento soprou seus cabelos encaracolados e inspirei o aroma de flores.

— Você é um pecado, Yan. Que não pode ser provado apenas uma vez. E quando eu não posso repetir, não tomo a primeira dose.

Ela saiu, me deixando paralisado.

O que aquilo queria dizer?

A fala de Vic me fez pensar. Pensar muito.

A minha vez, Victória Livro 4 CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora