Capítulo 9

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Por Yan

— Ah droga... não acredito que estou fazendo isso. — murmurei para mim mesmo dentro do carro.

Eu estava há uns dez minutos parado em frente ao prédio em que a Victória morava. Não gostava da ideia de admitir que estava errado. Eu não sou do tipo que se desculpa. Talvez os anos de guerra tenham me endurecido em relação a isso. Estava acostumado a perdoar, não ser perdoado. Mas a velha Forbes me obrigou e ela é a única, desde os meus pais, que consegue me fazer sentir culpa.

Claro, eu exagerei um pouco com a policial rebelde, mas com a reação dela, ficamos kits. Ou não?

— Ah velha desgraçada! — Bufei, exasperado. — Eu deveria voltar lá e demiti-la — destravei o cinto.

Verifiquei as horas no celular. Era quase uma da manhã, mas como não fazia meia hora desde que a srta. Lewis saiu, tinha certeza que estava acordada.

Respirei fundo e subi pelas escadas. Pelo elevador seria rápido demais. Eu queria tempo, para saber quais palavras iria usar.

Verifiquei no arquivo do meu celular qual o número do apartamento. Mais uma vez George fez um bom trabalho. Eu havia lhe pedido todas as informações sobre as duas policiais que Erick tinha indicado. Confesso que me surpreendi quando vi a foto da srta. Lewis. No mês anterior quando nos conhecemos em Norfolk, ela despertou minha curiosidade. Tenho uma queda por mulheres duronas e aquela, além de durona, era gostosa pra caralho. Quando ela me imprensou na parede do restaurante, minha mente viajou por lugares excitantemente indiscretos. Mas depois de alguns dias esqueci dela. A vida seguiu normalmente.

Estava me aproximando do número 103 quando ouvi um barulho de vaso quebrando dentro do apartamento. Fiquei em alerta, pensando ser algum assalto, então ouvi a risada de um homem e recuei de imediato. Pensei em bater na porta, mas desisti. Se eles estavam sorrindo alto daquela maneira, era porque minhas palavras não a magoaram tanto.

Meu cérebro mandava eu aproveitar aquela oportunidade e ir embora, mas meu corpo não moveu um músculo sequer de cima do pequeno tapete de boas-vindas.

De quem era aquela risada? Um namorado?

Eu estava curioso, meu coração deu duas batidas descompensadas e voltou ao ritmo normal. Ouvi a voz masculina novamente, só que dessa vez mais baixa e tranquila. Aproximei mais para poder ouvir o que diziam e coloquei a mão na madeira da porta. Para minha surpresa, ela abriu alguns centímetros. Esperei alguém vir me atender, mas não aconteceu.

Que irresponsável.

Pensei.
Como uma policial deixava a porta aberta daquela maneira?

— Agora vamos ver se é valente mesmo, sua vadiazinha — o homem tornou a falar.

Naquele momento sabia que havia algo errado. Tirei a minha pistola da cintura e empurrei a porta com cuidado, para não fazer barulho. Andei por um pequeno corredor, onde havia um abajur estilhaçado no chão.

Eu realmente não queria ter revivido uma cena daquelas novamente. Mas diferente do que aconteceu com a minha irmã, que já se encontrava violada e em prantos, dessa vez tinha chegado a tempo.

Victória estava caída num tapete cinza, com a testa cortada, desacordada e completamente nua. Os restos do seu vestido rasgado estavam jogados ao seu lado. O culpado por aquilo terminava de abaixar a cueca para poder abusá-la. Por Deus, senti meu corpo gelar dos pés à cabeça num segundo, e no outro minhas mãos suavam e meu sangue fervia. O cara estava tão distraído que nem me notou na sala. Quando ele a tocou nas coxas destravei meu revólver e mirei no meio da sua testa.

— Acho bom tirar essas mãos podres dela. — Fingi uma calma que não tinha. Na verdade, não sei como consegui ser tão frio, porque no meu interior só queria estourar a cabeça do verme.

Ele se assustou. Tentou pegar a arma que tinha colocado no sofá, então dei o primeiro tiro em sua mão. Seu grito foi como música para meus ouvidos.

— Não se mexa. Estou tentando te ajudar aqui. Realmente tô me esforçando para não alojar uma bala na sua cabeça, mas se quiser contribuir para a segurança da sociedade, tenta pegar a arma mais uma vez. Me aproximei rápido e ele se arrastou para trás, parecia menos corajoso dessa vez.

— Quem diabos é você? — perguntou, antes de eu lhe dar uma coronhada e vê-lo apagar de primeira.

— Fraco — resmunguei, decepcionado. Eu queria lhe dar a surra que merecia, mas para isso ele teria que estar acordado.

Victória murmurou atrás de mim. Ela estava acordando, mas parecia desorientada. Tirei o paletó e a cobri. Aos poucos a ajudei a se sentar. Fiquei nervoso, não sabia bem o que dizer, ou fazer.

— Ele fugiu da cadeia ... Alonso... tá aqui.

— Calma, tá tudo bem. Você está segura agora.

Percebi que sua cabeça ainda sangrava. Ela apertava os olhos como se estivesse se situando. Peguei o celular e liguei para Erick, meu amigo era delegado da unidade onde Victória atuava.

A todo momento fiquei de olho no sujeito desacordado. Ele não se mexia, mas por precaução, peguei uma algema na gaveta do quarto dela e o prendi.

Erick já estava a caminho, então só nos restava aguardar.
Me sentei no sofá e percebi que os ombros dela tremiam.
— Tá tudo bem? — Tentei tocá-la para confortar, mas ela recuou. Um soluço se sobressaiu e eu não soube o que fazer.

— O que ele fez comigo? Ele...

— Não — adiantei para tranquilizá-la. Acho que esse é um dos maiores pesadelos das mulheres — cheguei antes.

Ela me olhou, com alívio. Senti vontade de ajeitar uma trança que caiu em seu rosto. Queria ajudar de alguma forma, mas novamente falhei, como fiz com a minha irmã. Ao invés de lhe dar atenção, carinho ou seja lá o que ela precisava quando aconteceu com ela, eu foquei na vingança, virei dias e noites atrás do culpado, queria matá-lo, queria que sofresse como fez com ela. Mas no fundo eu sabia que a culpa era minha. E por essa razão eu não tinha mais coragem de olhar pra Olie. Me senti impotente. E mais uma vez, estava sem saber o que falar a Victória para amenizar um pouco da sua confusão.

Talvez passaram-se minutos, no entanto, o silêncio que se prosseguiu enquanto ela se acalmava pareceu horas.

— Tenente Lewis, seu chefe está vindo aí. Quer que todos a vejam assim? Sei que está abalada, mas é melhor que esteja vestida quando chegarem — foi o que consegui falar. Rude demais para o momento, eu sei.

Ela se analisou por instantes e enxugou as lágrimas. Naquele momento não parecia a destemida e corajosa, Victória Lewis, que me colocou contra a parede e apontou uma arma para minha cara, tampouco a leoa que me colocou no devido lugar cinquenta minutos atrás. Ela estava visivelmente frágil, desarmada. Uma versão diferente de todas que vi até aquele momento. Queria poder dizer algo que a fizesse se sentir melhor, mas em minha mente não surgiu nada.

— Tem razão — ela abraçou seu próprio corpo e tentou cobrir o máximo que desse com meu paletó.
Me levantei e virei de costas, para lhe dar privacidade. Eu não a queria mal, mesmo lhe jogando palavras duras e ofensivas lá no hotel, não queria vê-la daquela forma. 

A minha vez, Victória Livro 4 CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora