Marina (CONCLUÍDA)

Vigésima primeira parte

Morto. Ele estava morto. Fácil assim? O quanto uma pessoa que causou tanto mal a outras deveria sofrer antes de morrer? Eu estava errada em desejar que ele sentisse toda a dor que causou a mim e todas as outras vítimas? Que Deus me perdoasse, mas tomara que ele estivesse nesse momento queimando no inferno e passasse a eternidade sofrendo nas mãos do capeta.
Aquele maldito!

Meus pensamentos estavam uma bagunça. Não sabia se sentia alívio por aquele desgraçado não existir mais ou se ficava frustrada por ter sido tão simples o seu castigo. Um tiro na cabeça e fim? Será que ele sofreu? Quem foi que o matou?

Dei um pulo no sofá quando a música do plantão na TV tocou mais uma vez.

— Voltamos com mais informações sobre o envolvimento do senador Olavo em um esquema internacional de tráfico humano. Esse é apenas um dos inúmeros crimes praticados pelo ex futuro candidato à presidência da República do Brasil. O partido ainda não se manifestou sobre as acusações, mas já temos a confirmação da Polícia Federal que Olavo Menezes atuava também no tráfico de drogas e armas, lavagem de dinheiro e muitos outros crimes. A lista de envolvidos e cúmplices do ex senador é extensa e traremos novas informações a qualquer momento. Sobre o seu assassinato ainda não tivemos novas notícias. Esse é, sem dúvida, um escândalo que entrará para a história da política corrupta do Brasil.

Atrás da repórter era possível ver toda movimentação na casa de Olavo. Policiais federais passavam pra lá e pra cá carregando computadores, caixas e pastas.

Fiquei em frente a TV com o celular na mão esperando qualquer notícia. Caio ainda não tinha falado comigo e entendia que deveria estar uma bagunça na delegacia. Na TV não se falava em outro assunto, mas sem novidades. Estavam apenas especulando e repetindo as notícias.
Pensei em Téo, em como ele estaria com toda essa confusão e nesse momento a campainha tocou. O porteiro desse prédio nunca avisava quando alguém estava subindo.

Tony já estava atrás da porta em posição alerta e não acreditei quando olhei através do olho mágico.
Abri a porta e fiquei diante de um Téo arrasado. Ele estava com a cabeça baixa e levantou para olhar para mim. Seus olhos inchados e vermelhos denunciavam que ele havia chorado muito.
Não me fazia bem vê-lo sofrer. Por um tempo eu senti raiva dele também. Acreditei que tivesse me deixado, que simplesmente me abandonou por vontade própria, mas agora sabemos que todos nós fomos vítimas do seu pai.
Olavo não poupou nem mesmo sua família, sua primeira esposa, seu filho. Todos sofreram com a sua maldade.

Téo tinha sido alguém importante na minha vida. Foi bom o que tivemos, ele foi como uma brisa fresca e passageira numa tarde quente de verão. Abri os meus braços e o recebi. Ele se aninhou a mim como uma criança pequena, encostou sua cabeça no meu ombro e chorou. Eu também chorei, não pelos mesmos motivos que ele, mas por entender que a dor que ele sentia era grande demais. Eu o amei, foi um amor breve que não existia mais. Não daquela maneira.
Ali eu percebi que o sentimento ainda existia, só tinha se transformado. Ele era uma pessoa importante que durante um pequeno período foi tudo de bom que eu tive.

Me afastei, segurei sua mão e o coloquei para dentro. Nos sentamos no sofá e de cabeça baixa ele foi se acalmando.
Eu ainda segurava sua mão.

— Não posso dizer que sinto muito, Téo. Me desculpa!

Ele apenas balançou a cabeça, confirmando que me entendia.

— Fui eu que o encontrei.

Meu Deus! Anos atrás a mãe foi morta na frente dele e agora ele encontra o pai na mesma situação. Téo não merecia passar por isso. Era injusto que tantas pessoas estivessem pagando pelos erros de um homem.

— Eu sinto muito por você. Imagino que tenha sido horrível.— Não sabia o que dizer,  eu estava aliviada por Olavo estar morto, se tivesse tido a chance, eu mesma o mataria. Não podia ser hipócrita e mentir.