Décima oitava parte

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— Não chega perto de mim.

Me afastei e Tony permaneceu ao meu lado. Ele é um cachorro bem grande e forte, observei as pessoas passando, o movimento dos carros na rua, se ele tentasse qualquer coisa eu gritaria por socorro.

— Eu jamais faria mal a você. — Ele deu alguns passos na minha direção e eu recuei.

— Eu não acredito em você.

Olhar pra ele parecia fazer com que o tempo voltasse há alguns meses. Os mesmos olhos gentis e doces, a beleza impressionante. A diferença é que agora eu sabia o que vinha por trás de tudo.

— Vamos conversar, eu preciso que você me ouça.

— Não.

— Por favor!

Ele insistiu, porém, não se moveu mais na minha direção. Ficamos a uma distância que eu julguei segura. Ou ele era inocente, ou sabia fingir muito bem. Nos seus olhos eu via o mesmo Téo de antes, e eles imploravam por uma oportunidade de falar. Mas quem era eu pra achar que sabia de algo. Ele poderia me enganar, mentir...

— Você sumiu, eu fiquei quase louco procurando por você.

— Mentira! — Acusei.

— Me ouve, Marina, por favor amor.

— Não me chama assim. — Gritei e Tony ficou alerta e rosnou. Que direito ele tinha de me chamar de amor? Eu o odeio. Odeio o que me fizeram, odeio o pai dele. Eu sentia raiva, tanta raiva.

— Você me deixou, e ele quase me matou, Téo. — Quando percebi as lágrimas já lavavam meu rosto. — Ele me estuprou, me bateu, me jogou num buraco pra morrer sozinha e onde você estava?

O acusei e ele baixou a cabeça, vi quando uma lágrima caiu dos seus olhos. As pessoas continuavam passando por nós, indiferentes a nossa conversa. Nós permaneçamos na mesma posição. Os seus olhos fitaram os meus e ele deu um passo a frente. Não saí do lugar, não me movi. O olhar dele dizia tanto, confusão, culpa, medo, desespero. Mas eu poderia tá vendo tudo errado, talvez ele seja como o pai dele.

— Se você der mais um passo eu vou gritar. Não chega perto de mim, Téo. — Ameacei com a voz trêmula, estar diante dele mexia comigo.

— Eu nunca machucaria você. — Ele apenas sussurrou e mais uma lágrima escorreu no seu rosto. — Por favor, me deixa falar. Você quer que eu me ajoelhe aos seus pés? Quer que eu implore por uma chance de te explicar tudo?

— Eu não quero nada de você. — Afirmei me afastando. — Fica longe de mim.

Não aguentava mais ficar perto dele. Tony caminhou ao meu lado e fomos até a praça. Me sentei num banco e fiquei observando as pessoas que estavam ali. Havia uma pista onde algumas corriam, outras caminhavam... A praça sempre estava cheia de gente nesse horário praticando exercícios. O sol estava agradável e aguardei enquanto Tony dava a sua costumeira volta pelo local. Aproveitei para mandar uma mensagem rápida ao Caio.

Estremeci quando Téo sentou ao meu lado, o perfume era o mesmo. Eu não disse nada, aguardei e por um tempo o silêncio era tudo que ficou entre nós. Continuei olhando ao redor, se ele tentasse qualquer coisa, teriam muitas pessoas para pedir ajuda.

— Eu não sabia de nada. Eu juro, pela minha mãe, que eu não sabia. — Permaneci em silêncio e ele continuou. — Desde que a assassinaram aguardo por justiça, e nunca conseguiram prender o culpado. Eu lembro de como eles procuravam por algo, reviraram tudo, e ela ofereceu o que tínhamos de valor na nossa casa, joias, dinheiro, mas eles queriam outra coisa. Na época eu não entendia isso. Eu não me lembro com clareza dos detalhes, mas quando os bandidos não encontraram o que procuravam, ameaçaram me matar e eu penso que eles me matariam mesmo para fazê-la entregar o que queriam.
Foi tudo muito rápido e no desespero do momento eles atiraram e ela morreu, na minha frente.

Marina (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora