Sétima página

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Conheci o apartamento todo, Caio me mostrou todos os cômodos. Não era um lugar grande, dois quartos, um era suíte, havia também um banheiro social, a sala, cozinha e a lavanderia. Deixou a sacola com as coisas que tinha comprado pra mim em cima da cama do quarto que ficava em frente a suíte.

— Esse quarto é o seu. Você pode ficar à vontade.

— Caio, a gente precisa conversar sobre isso.

— Pode falar.

Ele se sentou na cama e eu fiz o mesmo ao seu lado.

— Não quero tirar sua privacidade, essa é a sua casa...

— Para de besteira. — Ele me interrompeu — Se eu achasse isso, não teria te trazido pra cá. Eu quero que você fique à vontade, que se sinta em casa. Eu vou ficar fora o dia todo trabalhando, chego tarde, às vezes de madrugada. Você pode fazer o que quiser aqui.

— Não quero ser um peso pra você. — Comentei sem graça.

— Eu jamais pensaria isso, você não será um peso. Você fica até ajeitar sua vida.

— Eu vou arrumar um emprego, vou cuidar da casa enquanto você tá fora e prometo que não vou te atrapalhar. Você nem vai perceber que eu tô aqui.

— Vamos criar alguma regras? — Confirmei, regras eram algo bom, coisa que minha mãe não exigia, mas eu sempre fui muito responsável.

— Primeiro você vai seguir as recomendações da médica. Se cuidar, fazer repouso. — Tentei argumentar, mas ele não deixou. — Enquanto isso, vamos tirar novos documentos, daqui dez dias você tem retorno, se estiver tudo bem, aí sim você vai procurar um emprego.

— Mas Caio...

— Quero que se sinta em casa, Marina. Não estou fazendo isso por caridade, estou fazendo porque eu quero. Eu prometi ficar ao seu lado e vou fazer isso. Com o tempo voce vai perceber que eu não faço ou digo nada pra agradar alguém.
Entenda que você não precisa ser cuidada, você dá conta sozinha. Tenho certeza que já passou por muita coisa. Eu só quero te ajudar, pois eu sei que é capaz de dar a volta por cima.

Ele tinha comando na voz, como se ao dizer tudo aquilo estivesse me dando uma ordem, porém ao mesmo tempo me dava a segurança de deixar claro que eu tinha escolha.
Ele acreditava em mim, confiava e queria me ajudar. Eu não estava na posição de negar qualquer tipo de ajuda e mesmo sabendo que se não ficasse ali, iria para a rua, no fundo eu não queria ir para longe.

Agora eu tinha algo que mais cedo não existia, uma opção. Eu poderia ficar, ter a possibilidade de me cuidar, conseguir novos documentos e dentro de alguns dias procurar um emprego. Com a ajuda do Caio, seria mais fácil. Apesar dele ser a minha única chance além da rua, eu sentia algo diferente. Não era só a necessidade que me faria ficar.

— Quando você estiver pronta eu quero saber o que aconteceu. Quem fez aquilo com você.

Encarei seus olhos determinados, eu sabia que se ficasse teria que contar. Não era justo esconder dele o que aconteceu, ao mesmo tempo que não queria envolvê-lo naquela história.

Talvez eu devesse esquecer, seguir em frente e deixar tudo para trás. Seria o certo a se fazer? Tentar esquecer o que ele fez?
Ou eu deveria me vingar? Eu teria forças e chance de lutar contra um homem como Olavo? Eu só sabia que ele era muito rico, mas e o que mais? Quem era ele? O que fazia? De onde vinha o seu dinheiro?
Como eu descobriria tudo aquilo?

— É bom que você saiba que eu não vou desistir.

Percebi que estava divagando enquanto Caio aguardava uma resposta. O que eu poderia contar a ele? Eu precisava ter mais informações, precisava montar um plano, uma estratégia para conseguir descobrir tudo que pudesse sobre aquele demônio. E o caderno? O que eram todas aquelas anotações? Por que aqueles números eram tão importantes?

Marina (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora