Oitava página

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Descobrir que Caio é um policial federal mexeu com a minha cabeça. Passei a noite em claro pensando se deveria ou não contar tudo a ele. Eu estava confusa pra caramba! Talvez contar fosse a coisa certa, ele me ajudou tanto, me colocou dentro da sua casa e eu me sentia até um pouco ingrata por ainda não ter dito nada. No entanto a gente se conhecia tão pouco, eu ainda não sabia quase nada dele, e ele menos ainda sobre mim.

Eu deveria esperar mais? Ver como seria nossa convivência? Ainda que eu confiasse nele, e ter tido minha vida, literalmente, salva por ele, nossa relação era muito recente. Eu não queria parecer mal agradecida, mas o que eu tinha vivido era muito pesado. Nem sei como ele reagiria, se continuaria a me ver com os mesmo olhos.

E quanto ao pai do Téo, eu precisava saber mais sobre aquele homem. Descobrir quem era ele e principalmente qual a importância das anotações daquele caderno.
Só denunciá-lo não seria o suficiente, a gente sempre fica sabendo de escândalos com esses homens poderosos que não dão em nada.
E ainda tem o fato dele achar que estou morta. Quem será o homem que me largou naquele beco? Por que ele poupou a minha vida? Ele disse que me mataria se eu não contasse onde estava o tal caderno, no entanto me deixou viva, por que?

Como eu descobriria tantas informações? Como eu conseguiria me vingar?
Acabaria louca com tanta coisa na cabeça.
Eu precisava me concentrar, organizar meu pensamentos, focar em uma coisa de cada vez.

Caio com certeza sabe o que fazer. Sabe exatamente quais passos eu devo dar.

Relembrando tudo que aconteceu desde o dia que cheguei aquela mansão, fui me dando conta de tudo que fizeram comigo. Primeiro minha mãe, que não exitou em me deixar nas mãos daquele homem. Ela me entregou a ele por dinheiro. Téo foi embora de uma hora pra outra me deixando naquela casa, sozinha com aquele monstro. Cátia mesmo sendo maltratada pelo marido, não fez nada para me ajudar. Sempre apática, submissa. Aceita ser usada daquela maneira em troca de dinheiro. E por fim aquele nojento, que colocou as mãos em mim.

Como eu fui tola! Por que eu deixei que ele me tocasse? Eu tentei me defender, juro que tentei! Eu lutei contra ele, porém não tive chance alguma. Ele me humilhou, me reduziu a nada. Eu tinha tantos planos, tanta vontade de viver apesar das dificuldades. Sonhava com um futuro melhor. Ele tirou tudo isso de mim.

As lágrimas grossas embaçavam minha visão. Eu precisava lembrar de tudo, de todos os detalhes. Os dias que vivi naquele lugar começaram a passar como um filme na minha frente. Primeiro, o pouco tempo que estive com Téo, eu estava feliz com ele. Depois o inferno.

Eu não podia esquecer o que eles fizeram comigo. Por que enquanto estive no hospital eu me neguei a pensar nisso? Por que até agora eu estava tentando não lembrar? Eu não posso me esquecer, a dor que eu senti ao ser agredida, o nojo de ser tocada sem permissão. Não posso esquecer! 

Eu não posso esquecer, porque quando eu me vingar farei com que ele sinta pior do que fez comigo. Eu farei com que ele pague, com que todos paguem.

Ele quase me matou, e se não fosse aquele homem que me deixou naquele beco sujo, depois o Caio ter me encontrado com a ajuda do Tony, eu estaria morta. Eu não posso me esquecer das horas que passei sendo torturada.

Eu chorei, chorei tanto! Minha barriga começou a doer e aquilo também me lembrava do quanto eu apanhei. Continuei chorando, mas eu não queria mais chorar. Eu queria ser forte, queria dar conta de tudo como Caio disse que eu conseguiria.
Eu queria lutar e vencer mais essa batalha, por que doía tanto?

Sai da cama e fui para o banheiro, lavei o rosto, escovei os dentes, e sai na rua com o Tony. Quando voltei, bebi o café que o Caio deixou pronto e fui organizar a casa.
Eu não conseguia pensar em outra coisa. Precisava agir, só assim minha vida tomaria um rumo. Só não sabia por onde começar.

Marina (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora