Terceira página

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Meu corpo todo doía, era insuportável. Não conseguia me mexer, meu braço  queimava, parecia estar despedaçado e quando eu respirava sentia que fosse morrer. Até meus olhos estavam difíceis de manter abertos.
Acho que perdi a consciência em algum momento, parecia que estava dentro de um carro em movimento. Tentei me movimentar, mas a dor foi tanta que desisti.

Acreditei que estivesse morrendo, era dor demais. O movimento cessou e o porta-malas foi aberto. Não consegui focar meus olhos, estava muito embaçado. Meu corpo foi tirado do carro e prendi a respiração com a dor alucinante que atravessou meu corpo.

Fui deixada em cima de algo muito duro, mas não fazia ideia de onde estava. Estava muito escuro e silencioso, mesmo assim conseguia ouvir alguns passos a minha volta. Mais uma vez tentei me mexer e foi inevitável gemer com a dor.

— Que porra, garota! — Ouvir aquela voz me fez tentar me manter consciente. Eu precisava saber onde estava e quem era ele. O desconhecido segurou meu queixo e analisou meu rosto. Só conseguia enxergar um borrão. — Que merda ele fez com você, aquele desgraçado! — Eu queria falar, me mexer, mas não conseguia. Estava inteira quebrada.

E mais uma vez ele me destruía, eu já me sentia um pedaço inútil de lixo, agora não passava de uma moribunda. A dor que eu estava sentindo não poderia ser um bom sinal. Já sabia qual seria o meu destino. Definitivamente aquele era o meu fim.
Eu quis tanto um futuro melhor. Qual foi o meu erro? Nunca fiz mal a ninguém, nunca roubei, mesmo quando eu estava morrendo de fome, eu sempre pedia, mas nunca pegava nada sem autorização.
Vivia com muito pouco, desde criança. O que tínhamos nem sempre era o suficiente pra matar a fome. E mesmo assim eu nunca fiz mal a alguém.
Eu escolhi estudar e seguir o caminho do bem. Diferente da minha mãe (única pessoa que eu tinha) nunca fui egoísta ou desejei o que não era meu.

O que eu ganhei com isso? E agora? Quais chances eu tinha ali, largada naquele lugar escuro?
Do que adiantou a minha fé? Eu acreditei em um Deus que me abandonou. Acreditei que Ele cuidaria de mim.

"Eu implorei pra Você me ajudar, Deus! E onde Você estava? Você me abandonou como fez com Ele. Me deixou sozinha, me deixou ser espancada por aquele monstro.
Eu não aguento mais. Faça alguma coisa por mim e me leve. Por favor! Me tira daqui... Acaba com a minha dor, Senhor!"

Senti as lágrimas descendo pelo meu rosto e meu grito abafado rompeu o silêncio. Senti a sua aproximação e mesmo tentando não conseguia ver com clareza.
— Cadê o caderno, Marina? — Ele falou pertinho do meu rosto e prestei atenção na sua atitude. Ele estava agachado ao meu lado.
Meu corpo ferido estava largado no chão, um lugar sujo, fedido e úmido, sabe se lá onde. Estava muito escuro e não conseguia enxergar o rosto do homem que falava comigo.

— Vamos, Marina — Ele falou mais alto — Onde está a porra daquele caderno? — Se ele soubesse que seu tom não me amedrontava mais — Se você não disser vou ter que te matar, caralho.

— Já estou morta! — Sussurrei com dificuldade.

— O que disse? — Ele chegou mais perto e eu repeti com o fio de força que ainda me restava — Já estou morta!

Não consegui mais ficar com os olhos abertos, me concentrei nos sons. Ele andava de um lado pra outro, passos pesados e xingava sem parar.

— Eu sei que você não tem culpa de nada, aquele maldito... — Ele agachou novamente próximo a mim — É bom que você esteja morta Marina e que assim continue para que ele nunca mais veja você. Porra! Não acredito que vou fazer isso.

Fiquei ali, jogada naquele lugar e toda vez que eu tentava um movimento quase morria de dor e era obrigada a parar. O homem desconhecido se foi, não ouvi mais sua voz grave e passos pesados. Uma chuva fina começou a cair do céu e eu chorei. Gritei, ou pelo menos acho que consegui, estava com frio, com muita dor.
"Por que Você me abandonou? Me leva de uma vez"

Marina (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora