Primeira página

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Eu estava eufórica, ansiosa e mais do que nunca, muito agitada! Meu coração parecia que ia sair pela boca. Eu tentava respirar e estava ficando cada vez mais difícil. Eu precisava de calma. O Padre Toninho sempre me falava isso quando ia até a igreja. "Tenha fé minha filha, tenha calma, espere em Jesus". Não que eu achasse que ele estava errado, lá na igreja era o único lugar que eu tinha paz, ele era a única pessoa que fazia algo bom pra mim, mas ter calma, não tinha me ajudado em nada até agora. Eu sinceramente esperava em Jesus, torcia muito e rezava mais ainda para que tudo acabasse, no entanto eu também tinha que fazer alguma coisa. Deixar tudo nas mãos de Jesus era muita folga da minha parte.
Eu sempre busquei frequentar uma igreja, mesmo com as mudanças frequentes de casa. O sossego que nunca tive em qualquer lugar eu encontrava ali, na casa do Senhor.
Pra quem não tem nada, nem ninguém, conseguir acreditar em alguma coisa é maravilhoso. E eu tenho fé. Espero que um dia eu consiga mudar minha vida.

Pensando assim, com as mãos trêmulas e um desejo insano de sair daquela casa comecei a procurar. Ela disse que tinha deixado o tal caderno com alguém, mas é mentira. Ela não tem ninguém, nenhum amigo ou parente. Ele estava ali, naquela casa.
Andreia era umas das piores pessoas que eu conhecia e encontrando esse caderno eu ficaria bem longe dela e dele, claro.

Se o objeto era tão importante assim, eu tinha que encontrá-lo. Passei a noite toda após ter ouvido a conversa procurando. Eu tinha muita dificuldade pra dormir, mesmo depois de passar o dia todo no colégio e estar cansada eu não conseguia me desligar. Repassei a conversa que eu ouvi atrás da porta mais cedo da minha mãe com aquele demônio.

— Você nem sabe o que significam aquelas anotações, sua rata de esgoto. Eu deveria matar você. — O homem estava bravo, eu não conseguia vê-lo, pois estava bem escondida dentro da dispensa. Mas os gritos dele e os passos nervosos e pesados davam pra ser ouvidos de longe.

— Mas tenho certeza que alguém deve saber. Principalmente alguém inimigo seu. — Eu a conhecia muito bem, a voz dela mostrava o quanto estava se achando com aquela situação. O quanto estava se sentindo vitoriosa por ter algo tão valioso por Olavo — Se acontecer alguma coisa comigo, meu amigo vai postar na Internet. Então nem pense em me matar.

Foi aí que peguei a mentira, e tive certeza que o que ela tinha dele não estava com alguém. Essa cobra não tem amigos, não tem ninguém.

— Eu vou acabar com você sua desgraçada. Você sabe quem eu sou, eu destruo pessoas como você todos os dias — Olavo gritava e deu um murro na mesa. Senti uma satisfação que até sorri. Pelo menos ele estava fora daquela pose de homem poderoso. Ordinário!

— Ah, já estava me esquecendo. Coloquei um pen-drive junto com o seu caderninho precioso.

Silêncio! Não dava pra ouvir nada. Eu estremeci. Que pen-drive era esse?

— Do que você está falando, sua maldita?

— Fiz alguns vídeos, onde você bate na minha filha. Mesmo ela implorando pra você parar, você continua batendo e comendo ela. "Estrupo" que chama né? — Senti minha cabeça latejando, filha da puta, ela tinha gravado tudo? Será que estava mentindo? Interrompi meus pensamentos quando um barulho de coisas sendo quebradas se fez, ele estava quebrando a cozinha toda.

— Eu vou te matar, sua desgraça!

— Não vai, não. Porque se eu não ligar para o meu amigo todos os dias ele vai postar tudo e adeus sua vida de homem do bem e família perfeita.

— O que você quer? — Olavo berrou e eu tremia. Como ela pode? Minha própria mãe. Já não me era surpresa que ela sabia de tudo e ainda ganhava dinheiro do patrão, ela nunca fez questão de esconder que me vendeu pra ele.

Marina (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora