Sexta página

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O momento que eu mais temia chegou. A médica veio me felicitar, pois receberia alta no fim daquele dia. E agora? O que eu faria? Pra onde eu iria? Comecei a pensar em todos os perigos que alguém como eu estaria sujeito na rua, uma cidade tão grande como essa, eu seria apenas mais um morador de rua. Eu precisava de um emprego, porém não tinha documentos, não tinha dinheiro, nem uma troca de roupa sequer eu tinha.

E se eu pedisse ajuda a minha médica? Alguma enfermeira talvez? Pelo menos uma roupa decente pra sair daqui, um trocado para conseguir tirar novos documentos. Eu já pedi antes, aliás, eu já pedi muito, em inúmeras situações eu só comi porque alguém me deu alguma coisa. Eu não teria coragem de pedir para o Caio, sei lá... Eu tenho vergonha dele, apesar de confiar e saber que ele não me fará mal algum, eu sinto muita vergonha de ser alguém tão sozinha e pobre.

Se eu fosse atrás do Téo? Que ideia absurda, ele pode contar ao pai e ai sim ele me mata de vez. Pela primeira vez depois do que aconteceu, consegui pensar com clareza. O caderno, aquele negócio deve valer uma nota pra alguém que tenha interesse naquilo, mas quem? Algo importante é, com certeza. Eu quase morri por conta daquela porcaria.
Minha mãe que não fica esperta que o destino dela será o mesmo que o meu. Ela acha que pode mexer com aquele homem, porque não sabe o quanto ele é perigoso. Eu sei, eu senti na pele a maldade que vive dentro dele.

Se ele descobrir que ela não tem ninguém ajudando, vai mandar sumir com ela. Tenho certeza! Pelo menos ela foi mais esperta do que eu com essa mentira.
Eu estava apaixonada pelo Téo, fiz planos, achei que ficaríamos juntos, confiei e ele sumiu me deixando sozinha. Onde será que ele está? O que faria se soubesse o que houve comigo? Será que ele sabe? O que ele está pensando em relação ao meu sumisso? Será que ele sentiu algo verdadeiro por mim? Eu fui uma estúpida!

Minha cabeça começou doer, eram tantas questões. Certeza mesmo eu só tinha uma: Estava por minha conta. E o que eu mais temia estava prestes a acontecer, ficaria na rua, sem um teto. Eu sempre vias as pessoas que moravam na rua quando era menor. Aquilo sempre me incomodou, a maioria suja, dormindo em pedaços de papelão, sem uma roupa decente, sem sapatos, sem um banho, sem ter o que comer. Totalmente sem dignidade.

Se Deus ama todos seus filhos de maneira igual, porquê ele deixa alguns nessa situação? Em breve eu seria mais uma. Sem teto, sem comida, sem ninguém. E o pior totalmente desprotegida.
Eu deveria ir atrás daquele monstro, mostrar que estou viva. Procurar a polícia, e denunciá-lo.  Era o certo a se fazer, mas quem acreditaria em mim?
Seria uma mendiga contra um homem rico. Ele certamente me esmagaria de novo.

Concentrada nos meus pensamentos, nem vi quando Caio chegou. Ele estava, mais uma vez, todo de preto e trazia uma sacola na mão.

— Oi, a médica já me deu a boa notícia. Trouxe umas coisas pra você. — Foi entrando no quarto e logo estava ao meu lado, colocou a sacola em cima da cama num cantinho.

— Oi, o que é? — Perguntei e com a mão boa fui abrir o pacote. Eram algumas roupas, meus olhos na mesma hora encheram e mais uma vez senti um aperto no peito.
Fui analisando as peças e fiquei sem reação. 

— Aquele imbecil do P.A disse que você ia gostar, eu troco tudo pelo o que você quiser. — Dizendo isso ele já tentou colocar tudo na sacola de novo e eu o impedi.

— Não, eu adorei. De verdade, nossa! Eu nem sei o que dizer.

As roupas eram exatamente como eu gostava. Jeans, camisetas, shorts, um tênis, até roupas íntimas. Terminei de olhar tudo, menos as calcinhas e tops que haviam na sacola. Guardei tudo de novo e decidi que aquele momento seria a hora para que eu agradecesse e me despedisse dele.
Eu jamais me esqueceria do Caio. Ele estava sentado na cadeira, daquele jeito que ele sempre fazia. Com a expressão de poucos amigos e o jeitão de bravo.
Apesar de toda sua postura de durão, ele tinha um coração enorme.

Marina (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora