Décima sexta página

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Era ele na TV. Fiquei paralisada quando o vi. O tanto que eu pesquisei sobre esse desgraçado na internet sem conseguir nada. Nenhuma informação e o filho da puta era um senador.

Agora eu entendo aquela casa, os carros, helicóptero, o poder que ele exibia. Ele era um homem poderoso. Futuro candidato a presidência do Brasil, meu Deus! Um monstro como aquele, líder de uma nação.

A minha mente tentou relembrar cada detalhe do que passei naquele lugar, mas me neguei. Eu não queria lembrar. Caio estava do meu lado esperando uma resposta. Esperando uma explicação, principalmente depois que eu mencionei que tinha como ajudá-lo a colocar aquele verme na cadeia. Mas eu nem sabia o que eu realmente tinha nas mãos contra o senador. Só sabia que aquele caderno era valioso pra ele, ele não tentaria me matar só porque peguei algo sem valor, sem importância. Aquelas anotações, números, nomes, aquilo significavam alguma coisa.

— Marina? Você precisa falar comigo, amor.

Caio se aproximou e eu parei de andar sem rumo de um lado a outro. Suas mãos me seguraram e eu desmoronei em seus braços. Eu não queria contar quem eu era. Não queria que ele soubesse que eu havia sido usada, tocada por aquele homem que ele odiava.

Eu soluçava alto, sem controle algum das minhas emoções. Mal conseguia respirar e me agarrei a ele, queria me fundir ao meu amor. Queria que aquele pesadelo acabasse. Queria ser uma garota normal, com um namorado lindo e incrível. Caio me abraçou e me consolou, senti seu carinho e apertei meus olhos, forçando ainda mais meus braços ao redor da sua cintura. Aos poucos fui me acalmando sentindo seu cheiro, o calor do seu corpo agarrado ao meu. Sua camiseta estava molhada pelas minhas lágrimas.

Eu teria que contar tudo a ele. Não poderia mentir, já havia escondido a verdade por tempo demais, nenhuma relacionamento funciona com meias verdades. Ele não merecia ser enganado. Não merecia ficar com alguém que escondia seu passado sujo.

— Eu tô aqui, amor. Tô aqui com você!

— Ele... Ele me bateu e... me estuprou.

Caio me afastou e me encarou com uma expressão sombria. Seus olhos estavam nublados. Ódio emanava dele. Me senti a pior das criaturas, imunda.

— O que você disse?

— Por favor, Caio. — Solucei alto e abaixei meu olhos para o chão. Senti minhas pernas fracas e cai de joelhos. Eu precisava terminar, iria contar tudo, acabar com isso de uma vez. Foi assim que ele me ensinou a ser: corajosa, forte.

— A minha mãe arrumou um emprego na casa dele. Nós morávamos em um lugar horrível, um barraco, mas eu não ligava. Eu juro que não ligava. — Caio se ajoelhou na minha frente e esperou que eu continuasse. Queria tocá-lo, sentir qualquer parte sua em mim, mas não faria isso, não colocaria minhas mãos sujas sobre ele.

— Por conta do emprego, nos mudamos para o fundo da casa principal, uma casa de empregados. Eu não sabia quem ele era, não sabia que era um senador, não conhecia o sobrenome dele. — Contando tudo em voz alta, me dei conta do quanto fui burra, estúpida, ingênua. Fiquei com o Téo e nem sabia o sobrenome dele. Meu Deus!

— Conheci o filho dele, Téo. Eu nunca tive nada na vida e ele foi carinhoso, me deu atenção, me agradava. Acabamos nos aproximando e tivemos um relacionamento. Mas foi tudo muito rápido. No início o pai dele nem aparecia na casa. Às vezes chegava de helicóptero e na mesma noite ia embora. E eu nem sabia pra onde.
Um dia ele me viu, eu evitava entrar na casa, porque não gostava de lá, não me sentia bem. Mas depois desse dia, ele passou a ficar mais na casa e de um dia para o outro, o Téo foi embora do nada, disse que tinha conseguido um emprego importante, mas que voltaria pra falar comigo direito. — Suspirei, minhas mãos tremiam tanto, e estava sentindo muito frio. Caio ainda permanecia calado, só me ouvindo. Ajoelhado na minha frente ele ouvia tudo sem me interromper.

Marina (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora