— Estou ouvindo minha filha. — Senti meu peito apertar com as palavras. Já fazia muito tempo que eu não via o padre Toninho. Meus olhos encheram, mas respirei fundo segurando as lágrimas. Não era hora de chorar.
— Não sei por onde começar, Padre.
— Faça como achar melhor, estou aqui por você, sempre estive Marina.
E como sempre acontecia quando estávamos juntos, eu falei, contei tudo, a maneira como eu vivia com a minha mãe, as loucuras que ela aprontava, a forma negligente que me criava. Recuperei no fundo das minhas lembranças todos aqueles momentos que me fizeram de alguma forma ser quem sou hoje. A fome, o frio, a solidão.
Contei sobre o senador, sobre o Téo, narrei todos os momentos que passei nas mãos daquele monstro, até conhecer o meu anjo, Caio.
Sorri relembrando nossos momentos, meu trabalho, os meninos da academia, Tony. Não esqueci uma vírgula de tudo que passei. Não vi as horas passarem, não vi quando as lágrimas teimosas começaram a cair. Não vi o momento que o padre Toninho saiu de dentro do confessionário e me acolheu em seus braços.A dor parecia diferente agora, eu estava diferente. Ter ouvido tantas vezes do Caio como eu sou forte e corajosa, fez com que eu realmente acreditasse naquilo. E saber que eu o tenho ao meu lado me deixa ainda mais segura e confiante.
O senador Olavo pode até ser mais rico, poderoso e influente do que eu, mas eu duvido que ele tenha tanta sede como eu em vê-lo arruinado.
E eu não irei desistir até ver aquele monstro destruído.🚔
Já passava da hora do almoço, perdi totalmente a noção de tempo. Acabei saindo de casa assim que amanheceu, sem celular, sem o Tony, Caio deveria tá muito preocupado comigo, pois como ainda dormia, não avisei que iria até à igreja.
Com o caderno dentro da minha mochila, voltei pra casa, o caminho não era tão longe, e preferi ir caminhando, assim teria mais tempo pra pensar.
Agora era descobrir o que eram todas aquelas informações e saber porquê elas eram tão valiosas para o senador.O prédio com o apartamento do Caio ficava em uma rua próxima a uma avenida bem movimentada. Haviam várias lojas, lanchonetes, bares, restaurantes, cafeterias. Estava concentrada nos pensamentos quando em um dos cafés vi algo que me paralisou. Não podia ser!
Meu estômago retorceu de nervoso e procurei pelo meu celular. Que droga, havia deixado em casa. Forcei meus olhos para ter certeza que estava mesmo vendo aquilo.
Téo e Stefan. Juntos, sentados em uma mesa no canto no fundo do café. Eu só os vi porque quando passei um casal entrou com um cachorro dentro do lugar e fiquei prestando muita atenção, já planejando ir com Caio e Tony.Me afastei correndo, com o coração a mil, quase saindo pela boca. O que aqueles dois estavam fazendo juntos?
O que eles tinham em comum?
Meu Deus! Corri o mais rápido que pude, peguei o elevador, graças a Deus, vazio e impaciente esperei até que ele chegasse ao meu andar. Sai correndo pelo corredor e abri a porta tremendo, mal conseguindo enfiar a chave no buraco da fechadura. Entrei, e tranquei novamente. Com os olhos procurei por Caio, ele não estava. Apenas Tony veio animado me receber. Me sentei no chão, ofegante e enquanto tentava me acalmar tentei encontrar algo que fizesse sentido. Que loucura! De onde aqueles dois se conhecem?Sentia como se tivesse participado de uma maratona, não conseguia controlar a respiração. Tony, acho que percebendo meu estado se deitou ao meu lado e ficou quietinho com a cabeça sobre as minhas pernas. Respirei fundo, Stefan é policial, Téo é filho da peste. O que os dois têm em comum? Procurei meu celular e o achei em cima da bancada na cozinha, haviam várias ligações do Caio.
Pensa Marina!
Mandei uma mensagem avisando que já estava em casa e que iria para a academia. Eu precisava trabalhar, e falar por telefone com o Caio era impossível. Tinha que ser pessoalmente. Mil teorias passavam pela minha cabeça. Será que o Stefan é um policial corrupto? Se ele conhece o Téo então sabe sobre mim? Ele me beijou.
Será que é por isso que ele fica querendo se aproximar, sempre me rondando? Se ele sabe sobre mim, então o demônio também sabe.
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Marina (CONCLUÍDA)
Historical FictionUma jovem de origens simples, desconhecendo o rosto do próprio pai, e negligenciada por uma mãe egoísta e altiva. Forçada a suplicar por alimento nas ruas para subsistir, descobriu na fé um abrigo contra a solidão e o sofrimento que a envolviam. Apó...