Segunda página

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Precisei acordar praticamente de madrugada pra conseguir chegar na hora certa no colégio, depois da aula caminhei até a igreja do Padre Toninho.
Como eu sempre vazia, me sentei num banco e agradeci pelo pouco que tinha. Pedi que Deus me ajudasse a terminar a escola e conseguir um bom emprego. Agradeci pelo trabalho novo da Andreia e pela amizade do Padre.

Apesar de ser pouco, era tudo que eu tinha no momento. Quando me levantei o procurei com o olhar pela igreja e não o vi. Apenas algumas senhoras que eu já conhecia e eram minhas amigas rezavam o terço. Se ele não estava ali só podia estar no confessionário. Aproveitei a oportunidade e caminhei para o local.

Era uma espécie de armário largo de madeira, fechado na frente por cortina, localizado em um cantinho tranquilo na igreja, com janelinhas laterais cobertas por cortina, o padre, sentado no interior, ouve as confissões dos penitentes, ajoelhados em um degrau que fica do lado de fora.

Me aproximei e me ajoelhei. Ouvi a voz que me acolhia e enchia de esperança. Padre Toninho era um senhorzinho fofo, com voz calma e coração imenso. Sem ele eu não teria meu refúgio.

- Estou ouvindo minha filha - Ele sempre dizia exatamente essas palavras. Parecia mágica, como se elas destrancassem minha língua, eu desatava a falar e falar... Nossas conversas acalmavam meu coração.

- Minha mãe arrumou outro serviço. Currículo falso, Padre, um absurdo. A casa parece um castelo, coisa de rico, bairro chique. Tem casa para os empregados e nos mudamos ontem mesmo. Estou preocupada, porque quando o patrão descobrir as mentiras vai colocar a gente na rua - Após alguns segundos de silêncio, ele não disse nada então continuei - Ainda não conheci os donos, mas lá tem um rapaz muito bonito. A gente se falou ontem, aí ele me chamou pra conhecer a casa e eu vazei. Fiquei com medo.

Esperei mais um pouco e dessa vez ele falou - Cuidado minha filha, muito cuidado. Que Deus lhe dê proteção. Reza com o coração um pai nosso diante do nosso Senhor Jesus Cristo.

E assim foi, segui para o lugar onde ficava exposto um crucifixo enorme com o corpo de Jesus pregado na madeira. Quando o Padre me contou a história dele fiquei impressionada. Ele sofreu por mim, para pagar os meus pecados. Como Deus teve coragem de sacrificar um filho pelos outros? Eu ainda não consegui entender direito essa parte. Rezei o pai nosso e mais uma vez agradeci por tudo e pedi que Deus me protegesse como o padre Toninho tinha dito.

Já era quase noite quando cheguei a casa. Ajudei o padre e as senhorinhas separarem algumas doações que haviam chegado e ainda ganhei algumas roupas e uns trocados que elas sempre me davam pra ajudar na condução. Eram anjos! Ao passar pela portaria da casa notei vários seguranças. Será que o dono era famoso? As vezes só era rico mesmo, muito dinheiro, por isso esse monte de gente fazendo a guarda da casa.
Segui direto para o banheiro e tomei um banho delicioso. Água quente era uma bênção, odiava banho frio, mas como minha mãe não pagava as contas em dia a gente sempre ficava sem energia e eu tinha que enfrentar o chuveiro gelado, isso quando tinha água.

Já havia comido na igreja e fui repassar a matéria que foi dada na escola naquele dia.
Ouvi quando Andreia entrou na casa, a porta do meu quarto estava trancada mesmo sabendo que ela não iria até mim.
Foquei na minha leitura e depois de algumas horas, resolvi dar uma volta no quintal como ontem.
Mas e se o encontrasse lá fora?
Fiquei com dúvida se queria ou não vê-lo. Na verdade eu queria, mas estava com medo.

Andei de uma lado a outro do quarto e no fim resolvi sair. Caminhei por toda a extensão do muro. Era um bom caminho, já que o terreno era enorme. O muro era grande e nas laterais haviam homens fazendo a segurança.
Quando estava voltando o vi sentado em um banco, estilo de praça, entre as árvores. Téo tinha um livro nas mãos e parecia concentrado.

Marina (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora