Begins. - Livro único.

Capítulo 43 💛

Duas semanas. Duas duras e tristes semanas as quais Aquiles está falando o básico comigo, palavras e frases curtas, as vezes ríspidas ou sem sentimento de afeto transparecidas. Entendo a mágoa e a dor dele, ouvindo a sua esposa dizer que não sente mais esperança de ter conceber uma criança que ele tanto sonha é de ficar com raiva e com as palavras ácidas borbulhando na boca. Mas também entendo o meu lado, a minha dor, a minha frustação em saber que as minhas chances se tornam pequenas a cada mês que passa, com isso me fazendo continuar a tomar as vitaminas para me sentir com o dever cumprido.

Durante esses dias passei a conversar mais com a Josiane e quando fomos ajuda-los com a mudança, ela percebeu que eu e Aquiles estávamos mais distantes e cabisbaixos um com o outro. Ela está sendo um conforto pra mim, suas palavras amigas, seus abraços acolhedores e seus chás de camomila me deixam mais calma para quando chegar em casa não sentir tanto o impacto da dor.

O sábado amanheceu nublado prometendo uma chuva forte e aqui estou eu repassando as minhas falas decoradas para desejar um feliz aniversário para Aquiles.

Abro um sorriso para o meu reflexo e repito:

- Bom dia, feliz aniversário! Pensei em fazer uma comida diferente para você. - meu sorriso murcha assim como o meu corpo. - Até parece que ele vai me agarrar e transar comigo. - resmungo voltando para o quarto e quase salto de susto ao ver Aquiles de calça moletom revirando a sua gaveta.

- Ah oi, bom dia. - diz ele bagunçando a gaveta. - Desculpa entrar assim, eu só preciso de uma cueca.

O que? Meus olhos descem rapidamente para o seu material carnal e percebo que o pacote está livre. Balanço a cabeça e volto a realidade.

- O quarto é seu também, pode entrar quando quiser. - dou uma pausa para me aproximar dele. - Bem... o dia está... feio né? - puxo assunto fazendo Aquiles olhar para a janela e depois franzir o cenho pra mim.

- Sim, vai cair um pé d'água. - hm... está dando certo.

- Feliz aniversário. - indago tentando sorrir. Aquiles consegue achar a cueca, fecha a gaveta e me encara com os olhos levemente brilhantes.

- Obrigado.

- Pensei em fazer um almoço diferente pra nós, quero dizer, pra você. - por favor, me beije!

- Melhor não, eu ficarei no escritório o dia todo para reuniões.

- Ah... sim, tudo bem. - abaixo o olhar e de relance sinto a ponta de seus dedos passar próximo ao meu rosto, fazendo-me elevar o olhar e sentir o vento passar sob o meu corpo, avisando a saída de Aquiles do recinto.

Duas horas se passaram e não há nada para eu fazer. Já liguei para minha mãe, falei com ela e a minha sogra, importunei a Helena por chamada de vídeo, brinquei com os meus sobrinhos, mandei mensagem para a Jô e a conversa foi rápida e eu já fiz tudo que tinha para fazer na casa, apesar que não havia muita coisa já que eu e o Aquiles somos bem organizados.

Abro as portas para a varanda e ali fico olhando o céu cinzento, sentindo o vento ficar mais forte e gélido, o ambiente faz a estufa parecer uma retrato melancólico numa cena de filme dramático. Suspiro frustrada, sentindo saudade do meu marido, saudade dos nossos dias ensolarados simplesmente por rirmos e conversarmos sobre tudo, saudade das suas caretas carinhosas e confusas com as minhas piadas sem pé e nem cabeça, saudade das nossas noites quentes e elaboradas... e quando dou por mim, estou parada na porta fechada do seu escritório. Escuto a sua voz falando de negócios e datas de entrega dos pacotes. Sua voz soa rouca e decidida, nada comparado com a voz sem sentimento quando é direcionada a mim.

Penso em bater a porta, mas algo dentro de mim diz para entrar e falar logo de uma vez o que penso e o que quero. Sendo assim, eu o fiz. Aquiles fica surpreso por eu fazer tal ato. Ele fecha o notebbok e volta para a sua fisionomia ao qual usa comigo, seus dedos corre pelos seus lábios e seus olhos estão avaliadores, mas ao abrir a boca para me dizer algo, eu o interrompo levantando a mão.