Prólogo - Parte 1/1 - A Origem do Mundo

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Que formas de apocalipse você conhece? Meteoros? Pandemias? Vulcões? Aliens? Zumbis? Diga o que quiser... nada do que disser será tão grandioso quanto o que é chamado de "A fúria dos oceanos".

Um cataclisma como esse só foi visto uma vez no universo conhecido. Aconteceu no planeta Narviriam - um mundo tão normal quanto qualquer outro, ninguém que o visse imaginaria o que veio a seguir.

Como eu disse, ele era um planeta comum, com continentes, oceanos e vida inteligente - um adjetivo questionável, considerando as guerras generalizadas orquestradas pelos tais "inteligentes". Acho que você sabe do que eu estou falando, e acredite, você não é o único.

Os oceanos por anos e anos, foram contaminados com ganância, ignorância e crueldade, males que escorriam em vermelho, invadindo os rios e tomando rumo à imensidão azul. Os oceanos sofreram calados por muito tempo... sofreram até o dia que deram um basta naquilo tudo.

Assim como o sangue invadiu rios, os oceanos invadiram os continentes, como poderosas lâminas de água, que explodiram em gêiseres, rasgando rochas como uma mordida de urso. Os oceanos não ficaram satisfeitos até reduzir as formações geológicas em um grande mosaico de ilhas flutuantes.

Um terremoto como aquele, em escala global, não deixou sequer uma casa em pé, todas elas foram varridas pela onda de impacto - impacto cinético e sônico, pois todos os rugidos dos gêiseres se somavam em um único rugido avassalador.

Não contentes com a destruição da civilização, os oceanos decidiram expulsar os destroços aos céus, arremessando cada sedimentos de continente em direção ao espaço, um a um, até não sobrar nada, se não, um único oceano.

Os pedaços arremessados ao céu não voltaram para contar a história, muitos deles se perderam ao mergulhar sempre nas profundezas do espaço.

O resto simplesmente pairou no ar e não tornou a cair, apenas flutuavam, indiferentes à gravidade ou à vontade oceânica. Tais pedaços foram ditos como: ilhas flutuantes.

A fúria marcou o fim do mundo como todos conheciam, não só devido a ruina da civilização, mas também pelo massacre da população - um genocídio de proporções inéditas no universo. Nações, identidades e culturas foram aniquiladas junto com o mais vital: os meios de produção - fazendas haviam ruído, plantações foram varridas e a água havia escoado de volta à grande gota azul.

Rios, lagos, açudes, praias... todos se foram, privando o mundo flutuante de água, com exceção das gotas de chuvas. Mas nem isso, pois naquela altura as nuvens quase tocavam o chão que muitas vezes, se perdia umidade ao colidir com qualquer superfície - não haveria o bastante para todos

Um mundo nunca havia sido tão cruel com os humanos quanto eles foram consigo mesmos, e assim como nas guerras, não havia piedade, e a barbárie não frearia até que não sobrasse mais ninguém de pé.

O desespero coletivamente e colossal reuniu os mais diversos ex-inimigos de guerra, todos sob uma mesma bandeira: sobreviver.

Mas não importava o quanto pensassem, ou o quanto testassem, nada funcionava, tudo dava errado... Falhas, e falhas, e falhas vieram, uma após a outra. E ainda durante as primeiras horas já haviam o desastre, discordâncias, discussões e agressões reinando. Tudo parecia perdido e após um certo tempo, apenas uma coisa foi capaz de unir a todos de novo.

Se aquilo era um castigo divino, talvez o único capaz de lidar com ele seria o próprio divino. Tal conclusão foi coletiva, todos, de todas as ilhas pensaram o mesmo. Por isso, todos - em cada uma das ilhas - deram as mãos e começaram a rezar, suplicando misericórdia... E então, após horas de oração, a misericórdia desceu dos céus.

Traidor do Sol [VERSÃO ANTIGA]Onde histórias criam vida. Descubra agora