Traidor do Sol [VERSÃO ANTIGA]

Capítulo 3 - Parte 1/4 - Bolar Opções de Otário

— Peço humildemente desculpas pelo atraso — Diz um varotiniano entrando às pressas num escritório, onde um kulvaniano de dois metros de músculo e um evorano de meia idade aguardavam — Desejo muitas boas vindas aos dois! Senhor Miass... Místico, gênio e inventor.... Muito respeitado dentre as guildas ilegais... Seja bem vindo! E claro! Boas vindas também ao príncipe dos cães de magma, senhor Tasuko! Me chamo Hento, e será uma honra fazer negócios com os dois!

— Só se tu tiver algo pra oferecer... — Desdenha o kulvaniano de 23 anos, pele negra, cabelo crespo e com um grande porte muscular, capaz de transparecer através do manto rúnico que trajava.

— Ora, mas é claro que tenho! — Insiste Hento, o elegante gerente do laboratório ilegal de poções.

Sua elegância vinha principalmente de sua roupa: um sobretudo de malha, parecendo couro, da cor preta vibrante, contrastando com sua pele branca. O traje era impregnado de detalhes florais verde musgo, tais detalhes formavam uma cadeia de ramos que percorriam toda a peça. Em contraste com seu belo visual, Hento carregava um rosto marcado por várias queimaduras, infecções e manchas, decorrentes de seu trabalho na produção em massa de poções. Sim, apesar de ser claramente um varotiniano, denunciado por seus olhos puxados, era um alquimista por profissão.

Os traços étnicos também eram presentes em Miass, o evorano, afinal, sua pele amadeirada, olhos pequenos e cabelos lisos não o deixavam mentir. Ele vestia uma armadura de batalha alquímica construída com placas baobá, sua estética lembrava samurais, que como de costume, ostentava muitos detalhes pintados e entalhados em preto e verde escuro.

O escritório assemelhava-se à escola gótica de decoração, ou seja: móveis de madeira densa pintados com cores escuras, acompanhados de acolchoados também verde musgo. A sala dispunha de estantes, livros e papéis com anotações para todos os lados, estava num estado quase calamitoso de pura bagunça que deixara apenas a parte central ilesa. Os três se sentaram em uma espécie de roda centralizada em uma mesa com um frasco de poção de arquitetura desnecessariamente extravagante, preenchida com um líquido turquesa pulsante, rodeada de copos vazios e pratos com biscoitos e bolinhos.

— Espero que durante o aguardo, tenham se entretido apreciando o grande laboratório, a linha de produção e o serviço logístico de armazenamento — Diz Hento orgulhoso enquanto se sentava atrás de uma cômoda que lhe servia de escrivaninha — Pegamos uma grande encomenda, dentro de uma hora os barcos irão partir com o carregamento.

— Tu tá se achando muita merda, né? — Afronta Tasuko, antes de soltar uma risada — Meu mano, isso não é nada perto de outras indústrias alquímicas que tem por aí... Vai precisar se esforçar mais pra me convencer...

— Bom... — Lamenta Hento constrangido, tentando decidir a melhor forma de se vender — Claro, ainda somos pequenos, começamos a pouco tempo, mas temos muito potencial! E apesar de não sermos tão grandes quanto nossas concorrentes, nós crescemos muito e nosso produto é de qualidade, diferente da concorrência

Miass ao ouvir essa afirmação, sente seu sangue ferver.

— Ousa insultar a inteligência de um místico, Hento? — Ele pergunta com uma voz sombria e ameaçadora. O som infiltrou-se pelos ouvidos de Hento e infectou o corpo e transmitiu um calafrio que percorreu o corpo inteiro, gelando sua alma

— Ora, não, claro que não, eu só... — Gagueja Hento, desestabilizado.

— Como se atreve a insinuar uma suposta qualidade superior em suas poções? — Contesta Miass, genuinamente ofendido, colocando o máximo de soberba que podia em suas calmas e lentas palavras — Até Tasuko, que não é sequer alquimista, sabe que não há poção bem feita ou mal feita, há apenas dois caminhos: ou você tem tudo ou você tem nada. Ou você produz a quintessência das artes humanas materializado em um fluido divino oriundo de plantas com propriedades mágicas, ou o que você tem é apenas vitamina repulsiva de folhas, com alto potencial explosivo, corrosivo e tóxico.