Capítulo 1 - Parte 1/3 - O dia em que tudo mudou

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Paradoxos são fascinantes... eles brincam com nossa mente ao confrontar duas verdades que se desmentem, é absurdo pensar que algo pode ser verdadeiro e falso ao mesmo tempo.

Elementos paradoxais não ocorrem só no campo da lógica, eles permeiam a natureza e a cultura humana. Quer um exemplo? Eu tenho um ótimo!

Já ouviu falar de alguém que foi amaldiçoado por um talento? Um talento tão maldito que foi quase capaz de destruir a vida de seu portador?

Como um talento - algo tão apreciado, cobiçado e pilar de sucesso de inúmeras pessoas - pode ser algo ruim?

Não sabe? Então, você precisa conhecer o protagonista desse livro: Thomas Handare Olaye Rho e toda a sua história que começa antes mesmo da Aliança surgir, começa no dia em que tudo mudou.

O sol estava a pino - mas não em qualquer pino, o sol passava pelo centro geométrico do céu: o zenith - em um evento conhecido como equinócio. Normalmente, isso não quer dizer nada, a menos que você seja um losariano.

Os losarianos são acostumados a fazer rituais sobre qualquer evento astronômico envolvendo o sol, mesmo os mais banais. Quanto mais raro, mais importante, e equinócios só ocorrem duas vezes ao ano...

Uma turma - de teoricamente, 15 alunos e um professor - se reunia no teto de um alto e glorioso prédio escolar, construído em mármore, e detalhado com ouro. Todos eles dançavam em sincronia, cada um segurando duas varinhas: uma pessoal e outra cerimonial.

Era como balé, onde bailarinos dançam com fitas amarradas em palitos, porém, nesse caso, eram fitas luminosas que faiscavam em amarelo, dançando com tanta graça e sincronia quanto os próprios feiticeiros.

Eles se organizaram circularmente nas brasas de um o desenho do sol entalhado no chão, pisando com delicadeza em marcações previamente feitas em labaredas.

E como se tal espetáculo não fosse suficiente, uma luz fraca começava a se intensificar no centro do círculo, cada vez mais, sempre pulsando conforme cada nova faísca irrompia das varinhas.

Não demorou até que as roupas cerimoniais - túnicas com panos brancos e longos, com detalhes e acabamentos em dourados, cheio de símbolos e desenhos que remetiam o sol - começassem a interagir com todo aquele ritual. A partir daí, os elementos dourados começaram a brilhar e pulsar sincronizados com a esfera luminosa central, cada vez maior e mais brilhante.

O ritual avançava até um ponto em que todo o prédio parecia também começar a entrar no ritmo. Contudo, a esfera luminosa começou a sair da sincronia da dança e passou a pulsar rapidamente, mais do que deveria, comportamento que durou até que a esfera explodiu em luz e se desfez.

A explosão mágica derrubou todos os feiticeiros que se levantaram apreensivos, confusos e frustrados, olhando para o sol, e em seguida para o seu professor - de longe, o mais frustrado irritado de todos.

Ele nem precisou se esforçar para descobrir qual foi o problema, bastou contar o número de alunos para descobrir que haviam 14, e não 15. Ele reconheceu imediatamente quem faltava...

— OH CÉUS NUBLADOS!!! — berrou ele enquanto lançava um feitiço em direção ao desenho do sol.

O disparo fluiu através dos traços do desenho e quando terminou de percorrer tudo, todo o disco começou a descer, levando todos consigo, como um elevador. Após descer vários andares, a plataforma deixou-os em uma região centra que interligava vários setores da escola.

O menino poderia estar em qualquer lugar... Mas seus instintos o levaram a descer as escadas em direção a sala de aula, porém, não em silêncio.

— DIAS CINZENTOS! DIAS CINZENTOS! QUE DIAS CINZENTOS ASSOLEM A VIDA DELE!

Traidor do Sol [VERSÃO ANTIGA]Onde histórias criam vida. Descubra agora