Traidor do Sol [VERSÃO ANTIGA]

Capítulo 1 - Parte 2/3 - O dia em que tudo mudou

Após uma longa caminhada, ele chega em casa, como havia ordenado o seu pai. Era uma casa modesta para membros do alto clero losariano, porém, luxuosa para a maior parte dos outros. A casa tinha dois andares, com pisos, pilares, vigas e paredes de sustentação feitas de mármore, permitindo a existência de várias paredes de vidro que deixavam o sol passar.

A estética até lembrava casas contemporâneas, porém, sem os traços de aparelhos eletrônicos, como televisores ou celulares. A mobília e estruturas internas da casa seguiam a seguinte paleta de cores: branco mármore, marrom carvalho negro e ouro - nos detalhes e acabamentos.

Thomas entra na casa, sobe as escadas e começa a despir aquela roupa ridiculamente desconfortável, largando-as pela casa - não fazia diferença, seus pais basicamente moravam no trabalho.

Viu? Eu disse: ele é obediente... Ele seguiu a ordem que lhe mandava ir para casa, e para a sua sorte, os termos não incluíam continuar na casa. Por isso, ele entra no seu quarto, troca de roupas, escolhendo um traje menos apertado: uma mistura de roupão com kimono, um vestimento que os jovens losarianos comuns usavam no dia a dia - e como ele gostaria de ser um jovem comum...

O seu quarto era básico também, tinha uma janela com vista para a escola, uma escrivaninha, um guarda-roupa e cama de solteiro, todos seguindo a paleta de cores da casa. Ah claro, não podemos esquecer da bagunça generalizada de roupas, panfletos, desenhos e tudo o que se pode imaginar.

Após trocar de roupas, ele começou a fuçar o seu quarto bagunçado, procurando panfletos recentes anunciando eventos em cidades vizinhas - aquele era o dia do equinócio, tinha de haver alguma coisa.

Enquanto procurava, ouviu um impacto seco na janela, ele se virou para olhar e percebeu que lá estava o seu gato: Cavaleiro, pelagem inteiramente preta como asfalto e olhos verdes como esmeraldas. O dia horrível que ele estava tendo acaba de melhorar muito. Aquele gato era uma das únicas fontes de felicidade na vida dele, por isso, vê-lo foi como uma injeção de ânimo... Thomas não demora a catar o gato e abraçá-lo.

— Cavaleiro! Que bom que você tá bem! — diz Thomas com um tom de alívio, enquanto acariciava atrás das suas orelhas — Tava começando a pensar que realmente tinham feito churrasquinho de você...

O gato mia em resposta.

— Ah, mas o que é que eu tava pensando? Você é 10 vezes mais inteligente que esse bando de cretinos esnobes né? Num é?— Disse Thomas com uma voz infantilizada, enquanto erguia o gato à frente de si e o balançava.

Ele deixa o gato em cima da cômoda e torna a procurar por panfletos no quarto, até que finalmente acha o que procurava. O panfleto anunciava um festival de equinócio, na longínqua cidade de Plumas de Aurinko, uma cidade portuária - uma das principais cidades da ilha de Aurinko, famosa pelo cultivo de flores.

Ele não perdeu tempo, pôs o gato em seu ombro e partiu em direção àquela cidade. Após sair de sua casa, dirigiu-se numa trilha pela floresta de morangos do campo - eram iguais aos morangos normais, porém, nascidos de árvore - com pelo menos 10 vezes o tamanho natural.

Aqueles morangos foram o almoço dele - seus pais não tinham pisado em casa e ele era um desastre na cozinha. Não foi a primeira vez que aquilo aconteceu - mal sabia ele que era a última.

As árvores eram altas e densas, a trilha era o único espaço livre para caminhar, e mesmo assim, tinham o teto coberto pela copa das árvores, formando uma espécie de túnel extenso. Centenas de metros depois, o túnel desemboca numa estrada cercada de uma florida campina, no alto de uma serra. Já era possível ver a borda ilha flutuante, a pequena cidade e vários navios atracados no porto.

Após cerca de uma hora de caminhada, ele finalmente chega na entrada da cidade - é de costume que as cidades sejam cercadas por muros, então era comum o formato circular. A entrada era um majestoso arco, de 5 metros de altura, com um grande sol de mármore pintado e acoplado ao topo da curva - a própria entrada era um monumento.