Capítulo 18

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Gustavo •

A Cecília é uma das mulheres mais sensíveis e delicadas que eu já conheci, a forma como ela chora nos meus braços só prova isso. Eu fico totalmente sem jeito de vê-la assim, me machuca ficar sem saber o que ela está sentindo ou pensando. Como eu posso conformar a minha princesa? Não sou um poeta e não sei dizer coisas bonitas como ela diz. Apesar dos dois anos de aprendizagem, não foram o suficiente pra me aprender tudo. Mas, eu não posso ver ela assim e não fazer nada, que porra de agonia! Desse jeito vou chorar junto com ela 

"Quer conversar?" Que pergunta mais tola, Gustavo. 
Ela tá arrasada e eu tenho que dizer coisas bonitas pra e se sentir melhor. 

"Eu... eu só me lembrei de quando eu morava no orfanato com as freiras. Eu queria tanto ter conhecido meus pais, saber se eu tive mais irmãos. É triste."

"Meu amor…" A abraço forte. Não sei nem o que dizer. Eu não sabia que a Cecília ainda sofria por isso e dói não poder ajudar ela. Minha família sempre foi tão bem estruturada, entre aspas. Sempre fui muito bem sucedido e mimado por minha mãe. Meu pai sempre foi um babaca… mas mesmo assim eu tive uma família! Eu não sei qual é a sensação da Cecília por ter crescido tão sozinha, sem uma família. "Eu imagino como deve ter sido difícil pra você." Mentira, eu não imagino. Mas se for preciso mentir pra ela se sentir melhor, eu vou mentir. "Olha, o que importa é que agora você tem uma família. Eu sou sua família. Você tem uma casa, um lar; uma enteada que te adora e um marido que te ama muito, com todas as partículas." 

"Eu sei. Eu tô muito feliz por isso, de verdade. É muito bom ter com quem contar. É uma sensação tão boa." 

"Eu sei. Ter uma família é muito gostoso, passar momentos com nossas pessoas amadas… você nunca mais vai passar por esse sofrimento, eu te prometo."Acaricio seus cabelos de mechas douradas. 

Ela sorri e beija minha bochecha "Eu te amo." 

"Eu também, muito. Não chora por favor, pensa só nas coisas boas. Eu não gosto de ver você triste."

"Então promete me compensar com uma sobremesa no almoço?" Ela me olha, ainda com lágrimas nos olhos mas com um grande sorriso que me faz derreter. Dou um selinho nela e a respondo: 

"Vai virar uma bolinha." Digo num tom brincalhão, sem intuito de ofender. Amo a Cecília pelo coração que ela tem. A primeira coisa que me fez amar a Cecília desta maneira é pela forma como ela ama a Dulce e a segunda coisa é esse jeito tão espontâneo que ela tem de olhar pra literatura.

Esse jeitinho "Cecília" de ser. Um jeitinho só dela. Ninguém pode substituir minha princesa, e pra mim não faz diferença se ela estiver desajeitada, gorda, ou estressada. Eu sempre vou amar ela. 

Ela faz um biquinho pelo comentário "Pois então você vai virar uma bolinha junto comigo." Solto uma gargalhada e ela ri junto. 

"Eu acho que eu e você já estamos falando besteira demais." Digo e passo o dedo indicador em seu nariz perfeito. "Eu conheço um lugar legal que podemos almoçar, ou você prefere cozinhar?" 

"Eu adoraria sair no frio com você... Mas a noite vou fazer minha especialidade: Strogonoff." 

"Uau! Eu quero provar." Digo já ansioso. A Cecília me disse que não sabia fazer nada, mas pra quem não sabe fazer nada; ela está ótima. 

"Vou colocar uma roupa bem quentinha para irmos", ela diz, se levanta do meu colo e entra no closet. Fico aliviado por não estar mais chorando, é uma sensação angustiante vê-la com lágrimas nos olhos; a não ser por filmes patéticos, claro. 

Após colocarmos uma roupa quentinha nos direcionamos à garagem. Ligo o aquecedor e coloco no meu som favorito. Meus clássicos antigos! Ai, como eu amo. Me deixa tão relaxado e tranquilo no trânsito. Faço movimentos com a mão no volante pra acompanhar as batidas da música "Bring Me To Life", até que Cecília decide "se pronunciar".

"Eu acho seu gosto musical muito relíquia." Ela sussurra baixo, sem a intenção de eu ouvir. Ela tem uma certa mania de falar sozinha do nada as vezes. Como se estivesse conversando com alguém no subconsciente. 

"Oi?" Digo indignado sem acreditar. "'Relíquia'?"

"Desculpa! Eu não quis dizer isso", ela diz apreensiva. "Eu... Eu só não gosto do seu gosto musical." Ela cruza os braços e olha fixamente pra frente. 

"Fala sério, princesa. Essas músicas são os clássicos dos clássicos. Não são 'relíquias', todo mundo ouve hoje em dia."

"Eu não sou todo mundo, neném." Ela esbraveja com um sorriso no rosto. Não acredito que ela esta irritada pelo meu gosto musical! 

"Ae? Então qual é seu gosto musical?" 

"Eu não tenho um gosto musical. Gosto de diversos tipos de música, mas não reli…" Ela se 

interrompe e revira os olhos. "Músicas velhas." Ela se corrige. 

"Minhas músicas não são relíquias; muito menos velhas. Aliás, 'Relíquia' e 'Velho' têm o mesmo significado."

"Se não são velhas, são o que?" Ela me olha e começa a me encarar. 

"Clássicos dos anos passados." Ela segura a risada com uma mordida no lábio inferior e revira os olhos. Pelo que conheço da Cecília, quando ela cruza os braços e revira os olhos, é porque está irritada. "Adoro te ver irritada." 

"Não estou irritada." Ela rebate e olha para janela. 

"Eu sei que está. Eu te conheço, princesa." Respiro fundo e troco a música para uma de Ed Sheeran, a tão conhecida "Perfect". 
Eu não acredito no que acabei de fazer; mas só podia ser mesmo eu. O que eu não faço por essa mulher? Isso é uma verdadeira idiotice, eu odeio esse tipo de música. Mas é tão bom ver o sorriso vitorioso da Cecília quando escuta a voz do loiro bonitão sair do som, que compensa qualquer coisa. 

Após mais algumas músicas melosas e cafonas, finalmente chegamos no restaurante. 

Saímos ao mesmo tempo e quando nos aproximamos, ela entralaça o braço no meu na tentativa de se aquecer. Sem demora entramos no restaurante e pegamos uma mesa no centro. O restaurante está tão aquecido quanto o carro. Cecília senta na cadeira, tira as luvas, as coloca sobre a mesa e esfrega as mãos uma na outra. Não consigo deixar de sorrir pela situação. Ela está tão perfeita no seu casaco peludo, com sua calça jeans e com sua linda botinha bege. Seus cabelos sempre estão em cachinhos, mas hoje ele está natural (liso), como no dia em que a vi no hospital após tirar o hábito. Já havia me esquecido como ela fica perfeita com os cabelos lisos. O vento quente do aquecedor faz seus cabelos voarem de um lado para o outro e como um marido prestativo que sou, sei que ela odeia quando as mechas ficam no rosto. Levo minhas mãos até o rosto dela e coloco as mechas atrás de suas orelhas. Ela não contém o sorriso por esse ato e me olha com os olhinhos brilhando. Suas bochechas estão vermelhas por causa do frio, a boca está coberta por um gloss que faz seus lábios darem um brilho fabuloso e seus olhos estão bem azuis como sempre. Ela é linda. Não minto quando a chamo de princesa. 

New Life - Depois Do Casamento (Parte 1) Onde histórias criam vida. Descubra agora