Capítulo 62

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Cecília

"Cecí," sou chamada pela quarta vez. Não queria levantar por agora, não depois da noite de ontem. Gustavo me fez pirar nessa cama. Estamos melhorando nessa coisa aos pouquinhos. "Se você não levantar vou fazer você gozar no meu dedo novamente," ele sobe até meu pescoço e sussurra. Sua voz rouca me enlouquece, gosto de como ele seduz o momento.

Sorrio e sem abrir os olhos sussurro: "Seu pervertido," por fim abro os olhos.

"E você é uma preguiçosa! Já são quase 12:00H! Temos que aproveitar nosso último dia."

"Meio dia?" Tenho um sobressalto da cama fazendo ele sair de cima de mim. Nunca dormi tanto em toda minha vida. Mas quando estou com esse homem tudo parece sair do normal, aos pouquinhos tô ficando tão pervertida quanto ele. Não posso acreditar que ontem depois do jantar dei em cima dele, passamos altas horas nessa cama nos amando e agora estou morta e mal consigo mexer minhas pernas.

"Sim, dormimos demais. E você... meu Deus! Você estava babando em cima de mim."

"Oi? Eu não babo!" E eu realmente não babo, ou babo?

"Eu tirei uma foto e vou postar no meu Feed do Instagram", ele sorri e eu percebo que está apenas tirando sarro de mim.

"Ai... seu... bobo!" Jogo o travesseiro nele e ele ri.

"Você acreditou... Mas olha, se você não levantar dessa cama, eu vou te comer em cima da mesa da sala de jantar. Você não me deu esse privilégio ainda."

Arregalo os olhos. Suas palavras ainda me assustam e não sei se um dia vou me acostumar com isso. "A cama foi feita pra isso além de dormir."

"E a mesa está incluída," reviro os olhos e ele sorri.

"Eu queria te levar pra almoçar fora hoje. E temos que comprar no mínimo mais umas duas malas. A gente comprou muita coisa para Dulce."

"Tudo bem... Falando em presente, eu comprei um pra você."

"Pra mim? Como que eu não vi?"

"Aproveitei sua distração com alguns brinquedos e fui numa livraria ao lado." Me levanto e começo a procurar entre algumas sacolas misturadas. A Dulce vai ficar feliz com esses presentes. Gustavo começa a olhar para minha lingerie "sexy, não sexy" e morde o lábio inferior. Não me lembro de ter colocado essa lingerie no meio da madrugada, mas isso não importa agora. "Achei. Espero que você goste." Estendo a mão e ele a pega. Gustavo se senta e encosta a cabeça na cabeceira.

"Por que um presente agora?"

"Hmm porque eu acho que é algo importante pra você ou se não foi; pode ser. Abre," ele sorri antes de revirar seus lindos olhos azuis e abre a sacola. Ele olha para mim, olha para o presente, olha pra mim de novo e olha para o presente...


"Um livro?", ele olha pra mim com os olhos marejados. Eu vou descobrir o que aconteceu, eu prometo.

"Você não conhece esse clássico?"

"É... N... não... Por que eu conheceria... Dom Quixote!?"

"Porque o livro é bom e eu achei que você conhecesse."

"'Bom'? Eu acho que Dom Quixote era um louco. Ele leu alguns livrinhos e ficou louco por criar ficções na cabeça e sair pelo mundo afora naquela coisa de 'eu sou um cavalheiro em busca de aventuras,'" ele levanta as mãos e faz aspas com os dedos. Quando ele percebe o que acabou de dizer, ele leva as mãos à boca.

"Você tá mentindo pra mim?" Cruzo os braços.

"Tá, eu li essa merda, mas faz muito tempo."

"Dom Quixote representa o lado espiritual e nobre da natureza humana. Como você diz isso?"

"Dom Quixote estava à procura de aventuras que ele um dia encontrou nos livros mas tudo não passava de um fruto de imaginação. O padre concordou em queimar os livros dele e Quixote achava que estava dentro de um livro de fantasia e queria dar uma prova de amor para 'Dulcineia'"

"E você?"

"Eu o que?"

"Gustavo, todo mundo tem o direito de criar fantasias na cabeça e a fantasia sempre é melhor que a realidade porque com a fantasia vivemos o improvável. Dom Quixote mostrou à humanidade o que é improvável, ele mostrou que a vida é perfeita do jeito que é; e que, com vontade, dignidade, persistência e pessoas certas ao nosso lado - como seu amigo Sancho -, podemos mudar o mundo por onde todos pertencemos. Você acha mesmo que a história é tão ruim assim?"

"Eu vou... mijar!", ele se levanta e sai do quarto sem dizer nada, deixando o livro para trás.

O que pode ter acontecido de tão ruim pra ele não querer tocar em um livro? Achei que ele fosse gostar do livro! Não pensei que ele pudesse reagir tão mal... Me aproximo da porta e ouço alguns soluços, ele está chorando? Meu Deus! Tadinho! Eu acho melhor pedir desculpas... acho melhor você deixá-lo sozinho.

Diz meu subconsciente.

Ele só pode ter algum trauma e eu prefiro não insistir mais se não vou piorar a situação.

New Life - Depois Do Casamento (Parte 1) Onde histórias criam vida. Descubra agora