Capítulo 59

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Gustavo •

Não contei toda a verdade para Cecília e isso me faz sentir mal! Eu amo ela mas eu não quero contar algo que possa fazer ela se sentir mal também. Quando uma pessoa é complicada e ela decide mudar de verdade, ela não quer ficar contando do passado; pelo menos eu não quero. Eu mudei de verdade e se eu nunca toquei nesse assunto é porque é uma coisa que me machucou muito no passado, é uma coisa que não precisa ser lembrada.

Fico pensando por alguns minutos no meio da sala. Eu confio nela, confio mesmo! Mas pra que falar do passado? Eu já vivi tudo isso e o passado não vai se repetir, sempre quando falo do passado eu me sinto péssimo, então qual é a necessidade disso? Eu vou começar a me sentir culpado novamente, vou começar a sofrer pelas escolhas que meu pai fez pra minha vida. Ainda não me conformo que ele tenha me impedido de realizar o meu sonho pra me tornar um empresário. Não o culpo por nada, afinal ele precisava de mim e eu continuo cuidado de tudo por amor a ele; por respeito e eu quero sempre manter seu legado. Sei que ele errou pra caralho, mas se tem uma coisa que eu aprendi com a Teresa é que o perdão é fundamental. Sei que apesar de tudo ele me amava e eu quero acreditar nisso do que me martirizar. Claro, eu não tenho sangue de barata, mas também não quero julgar meu pai, ele já morreu e se eu não perdoasse ele, a dor iria me perturbar até hoje.

Após longos minutos vou até a cozinha e assim que me deparo com Cecília ela está pensativa, uma carinha de tristeza nos olhos. Isso não combina com ela!

"Ei, o que foi?"

"Oi?... Ah, nada! Eu só estou pensando sobre ontem a noite. O que aconteceu foi totalmente descabido. Eu não devia ter agido daquela maneira tão impulsiva!" Ela diz segurando as lágrimas.

"Você estava bêbada." Pego um copo no armário e ligo o filtro da geladeira.

"Mesmo assim! Você sabe que eu nunca gostei de álcool, inclusive quando chegamos aqui em Bariloche eu me neguei a tomar vinho com álcool. Você acha normal eu beber, falar com todo mundo e ainda dar em cima de uma cara que eu nem conheço?"

"Você não tava exatamente dando em cima dele."

"Para de me defender, Gustavo. Eu já tava chamando ele de 'Joãozito'. Eu não entendia muito bem o que ele dizia, afinal ele falava espanhol, mas eu exagerei!"

"O quê?" Caio na gargalhada. Só a Cecília para inventar esses apelidos bregas. Eu sei que ela realmente exagerou, o que aconteceu ontem foi totalmente descabido. Ela não devia ter bebido aquele tanto, mas eu fico imensamente feliz que ela esteja percebendo seu erro. Vejo que minha menina inocente e certinha voltou novamente. Gostei daquela Cecília loucona de ontem, mas essa Cecília natural é mil vezes melhor e eu não mudaria nada nela. Cecí não é uma santa mas também ela não é o tipo de mulher que faz isso e eu quero que ela tenha sempre um pouco de inocência consigo. Ninguém é inocente ao ponto de ser chamado de santo mas a Cecília tem o direito de aproveitar, não ao ponto de se descontrolar e agir como uma louca. Ela errou ontem mas também não quero condená-la pra se sentir mais culpada ainda.

"E sabe o que é pior? Eu me desconheci totalmente dizendo aqueles palavrões e dando em cima de você como se eu fosse uma... sem vergonha!?", ela exclama mas sai mais como um interrogativo.

"Bom, eu não vejo problema de você dar em cima de mim, afinal somos casados. Mas do cara eu não gostei nada."

"Ahhh! Eu me odeio," ela leva as mãos ao rosto e começa a choramingar.

"Não." Rio e me aproximo dela. Abraço ela por trás e beijo seu pescoço. "Olha, você não precisa se sentir mal..."

"Preciso sim! Eu tô me sentindo mal pelo o que fiz. Eu não queria..."

"Ei, ei... Calma, princesa. Eu já disse que tá tudo bem. A culpa foi do álcool." A consolo.
Claro que não. A escolha foi dela encher a cara.
Diz meu subconsciente.
Ele sempre está certo. Eu realmente não quero fazer ela se sentir um monstro. Pelo que conheço da Cecília, se eu ficar concordando ela vai ficar o dia rezando e pedindo desculpas pra Deus e é capaz dela escrever mil vezes no caderno o ave Maria. Tá, ela agiu muito mal, mas quem sou eu pra julgar? Eu já fiquei muito pior que ela e a Cecília não deixa de ser quem é só por uma noitada de embriaguez.

"Não, não! A taça de vinho não veio até mim e mandou eu encher a cara. Eu bebi porque quis. Meu Deus, ai meu Deus!!! Você ouviu o que eu disse ontem pra você?"

"Ouvi," sorrio com malícia. "Você pediu pra mim..."

"Não, não fala! Eu nunca mais vou dizer isso na minha vida." Não consigo conter a risada. Cecília está péssima com essa história, mas ela não precisa se condenar assim.

"Para de rir," ela se vira e bate nas minhas costas.

"Desculpa." Controlo a risada e ela se vira novamente.

"Olha, que isso fique só entre eu e você. Não quero que ninguém saiba que eu fiquei louca e fiz coisas terríveis!"

"Seu segredo está escondido a sete chaves," faço um movimento com a mão até a boca, como se fosse um zíper.

"Acho bom," ela esbraveja de forma brincalhona e logo em seguida sorri. "Vamos tomar café," ela diz mudando de assunto. Sei que ainda está se sentindo mal pelo o que aconteceu, mas não quero que ela fique se martirizando por isso.

New Life - Depois Do Casamento (Parte 1) Onde histórias criam vida. Descubra agora