Capítulo 105

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Cecília •

Abro os olhos cautelosamente para ter certeza de que Gustavo está dormindo. Pretendo evitar ele ao máximo até encontrar a melhor maneira de dizer que eu não posso ter filhos. Como vou dizer isso? O problema não é ele, o problema sou eu... ele pode ter filhos com qualquer pessoa já eu sou um caso sem solução. Hoje é sábado e vai ser difícil evitar ele já que não vamos para nenhum lugar, mas eu não consigo nem olhar nos olhos dele.

Me viro para o lado e pra minha surpresa, ele não está em seu lado da cama. Não sei se isso é bom ou ruim, mas eu prefiro não pensar muito se não vou entrar em desespero novamente. Me levanto e vou direto para o banheiro tomar banho. Preciso relaxar! O banho sempre me ajuda a colocar os pensamentos no lugar, mas desta vez não é isso que acontece. Me sinto perdida, totalmente perdida! Assim que escoro a cabeça na parede ouço uma batida na porta que me tira dos pensamentos no mesmo instante. Preciso sair daqui antes que o Gustavo entre nesse box! Pego minha toalha, desligo o chuveiro, me enrolo e saio do box, mas fico surpresa ao ver Gustavo sentado no chão, escorado na porta e com a cabeça baixa.

"Gustavo?" Me aproximo delicadamente.

"Eu vi," ele diz com os olhos cheios de lágrimas.

Encho meus olhos de lágrimas. "O quê você viu?" Pergunto já sabendo a resposta.

"É que... tava lá em cima da mesa, escrito o nome do hospital no envelope e eu não pude deixar de olhar... porque você não me disse ontem?"

"Eu disse mais você não entendeu... eu tava procurando a melhor maneira pra te contar isso melhor, mas como eu ia te dizer que eu nunca vou gerar um filho seu, Gustavo?" Digo. Ele coloca as mãos no rosto e chora descontroladamente. "Eu sinto muito mesmo, meu amor..."

Ele se levanta do chão, limpa o rosto com as costas da mão e se aproxima de mim. "Eu também sinto! Mas eu te prometo que vai ficar tudo bem," ele diz com a voz embargada e eu choro mais ainda.

"Não vai! Você sabe que não vai e isso tá doendo muito dentro de mim, Gustavo!"

"Eu juro que em mim também... mas... pra mim não importa se você pode ou não ter filhos... eu nunca vou deixar de te amar e... e a gente pode... sei lá... adotar um neném."

"Nunca vai ser a mesma coisa. Você diz isso agora mas uma hora isso vai pesar em você! Você não tem problema algum e você pode encontrar alguém que faça isso por você..."

"Cecí, como você tem coragem de dizer isso? Você é o meu único amor e não existe nenhuma mulher nesse mundo que possa tomar o seu lugar no meu coração e você sabe disso."

"... eu preciso ficar sozinha!"

"Claro... eu posso sair..."

"Não. Você não tá entendendo, Gustavo! Eu preciso mesmo ficar sozinha. Eu vou ficar na casa da Fátima por um tempo."

"Mas Cecí... ficar longe por que? Isso não faz sentido!"

"Eu preciso de um tempo pra pensar, preciso que você me dê um tempo pra processar isso na minha cabeça."

"Eu entendo... quanto tempo você vai ficar na sua irmã?"

"Não sei." Seco as lágrimas.

"Tudo bem."


Tomo café com Gustavo e ele diz que Dulce saiu com Emílio, acho até melhor. Não quero ela aqui nesse momento de tanta tristeza. Gustavo não falou nada comigo desde que eu disse que iria pra casa da Fátima, ele apenas disse que iria me levar na casa da minha irmã. Sei que ele está sofrendo tanto quanto eu, mas eu não estou pronta para falar disso agora, não consigo dizer nada. Após o café da manhã eu subo as escadas correndo deixando ele sozinho na sala e ligo para Fátima perguntando se posso ficar na casa dela por alguns dias e na mesma hora ela diz que sim...

"Pronto." Gustavo estaciona o carro na frente da casa de Fátima e eu finalmente olho nos olhos dele depois de horas de silêncio. Não há nenhum tipo de brilho em seus olhinhos azuis, apenas gotas de lágrimas que ameaçam descer.

"Obrigada por me trazer."

"... eu vou pegar sua mala," ele aperta o botão fazendo o porta-mala abrir. Gustavo sai do carro e pega minha mala. Tiro o cinto de segurança e saio do carro. "Eu vou trazer seu carro mais tarde pro caso de você precisar."

"Tá. Obrigada." Pego a mala e começo a sair caminhando, porém volto e dou um selinho nele. "Te amo."

"Também te amo," ele me lança um sorriso forçado e eu faço o mesmo. Entro pelo portãozinho e assim que chego na porta eu toco na campainha.

"Cecília." Fa abre a porta e me puxa para um abraço. "Eu sinto muito, irmã."

"Cecília, cadê o Gustavo?" Cristóvão pergunta.

"Acho que ele ainda tá lá fora."

"Eu vou falar com ele." Cristóvão sai correndo.

"Vem, senta aqui. Me conta essa história direito." Fátima me puxa e me faz sentar à força.

"Foi por acaso que eu descobri. Eu e o Gustavo decidimos que iríamos nos proteger com anticoncepcional e eu fiz alguns exames, a médica disse que eu tinha cistos no útero e ontem fui buscar o resultado... e... e foi assim que eu descobri."

"Você precisa ficar calma."

"Como eu vou ficar calma, Fátima? Eu não posso ter filhos!"

"Claro que você pode. Sei que são poucas as chances mas não é impossível, irmã."

"Fátima, você tem ideia dos riscos que eu corro se eu engravidar? Você sabe que eu não vou suportar." Digo em lágrimas.

"Calma, calma.", ela me abraça. "Existem tratamentos, irmã. Eu tinha uma vizinha que tinha infertilidade..."

"Você tá mentindo pra me animar?"

"Eu juro que não. Ela conseguiu engravidar depois de 4 anos de casamento."

"E aí?"

"Bom... ela teve um aborto espontâneo com dois meses de gravidez." Coloco as mãos no rosto e choro como uma criança sem lar. "Bom, ela acabou adotando um casal de gêmeos e adotou um cachorrinho."

"Fátima, eu não quero adotar filhos! Eu quero ter um filho com o meu marido." Praticamente grito. Ela arregala os olhos e eu coloco as mãos na boca. "Desculpa! Eu tô nervosa."

"Tá tudo bem, relaxa. Que tal você deitar um pouco? Eu não tirei sua cama ainda. Eu preciso sair com o Cristóvão. A gente combinou de comprar umas coisas pra começar a preparar os doces... antes de sairmos eu posso preparar um chá de camomila pra você."

"Tudo bem, obrigada."

"Imagina. Você é a minha irmãzinha, lembra?"

Sorroio. Me levanto e saio puxando minha mala. Ao chegar no quarto, me aproximo da janela e lá está o Gustavo, escorado no carro e chorando ao lado de Cristóvão. Me parte o coração ver ele assim. Eu simplesmente não me sinto a mulher maravilhosa que o Gustavo vê.

New Life - Depois Do Casamento (Parte 1) Onde histórias criam vida. Descubra agora