Capítulo 31

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Cecília •

Vou até a cozinha, pego alguns produtos e volto para a sala. Gustavo ri da minha cara por eu ter pego vários produtos de limpeza. Eu não sou exagerada! Eu só gosto de ver tudo bem ajeitado. O Gustavo vai ter que se acostumar com o meu jeito de organização e aí dele se deixar toalha molhada na cama, banheiro sujo ou documentos espalhados pelo nosso quarto. Espero que ele não seja o tipo de homem bagunceiro. Ainda não vi nenhuma bagunça dele e espero que continue assim. Se ele for mesmo bagunceiro, vamos ter sempre um motivo pra brigar. Enfim, após limpar o chão digo ao Gustavo que vou preparar o jantar. Ele me diz que prefere ficar na sala se aquecendo e vendo TV, concordo com a cabeça e vou para cozinha. 

Lavo as mãos e começo a pegar os ingredientes necessários. Ainda bem que fazer strogonoff é fácil. Pego outra panela para fazer um arroz e começo a preparar, assim que coloco a água e fecho a panela, ouço passos em direção à cozinha. Olho e vejo Gustavo parado com o corpo encostado sobre a porta. Mesmo ele não querendo, ele consegue ser sexy e atraente, imagina se quisesse? Ele me olha fixamente com seus belos olhos azuis, cruza os braços e continua me olhando como se quisesse me devorar. 

Eu adoraria…
 

 Meu Deus Cecília, para com isso agora! 

"O que foi? Vai ficar parado aí me olhando?", por fim, decido perguntar e ele morde o lábio inferior. Será que ele quer fazer amor comigo de novo? Tomara que sim porque eu quero muito, mas eu não tenho jeito de pedir. 

"Eu tô só imaginando." Ele me mostra um sorriso de canto, sem os dentes e vejo a perversão em seu olhar indecifrável. Meu desejo de saber o que está pensando ou imagino toma conta de mim e eu sorrio de volta para ele. 

"Imaginando? Imaginando o que?" Rio de nervosismo e coloco os cubos de peito de frango na panela. O que ele está imaginando? Estou mais curiosa que qualquer coisa. Será que devo colocar meu plano de dar em cima dele em ação? 

Não Cecília, você está fedendo a alho e cebola.

     Diz meu subconsciente e realmente ele está certo. Não seria muito legal me aproximar dele com esse cheiro terrível. 

"O que eu poderia fazer com você em cima desse balcão." Ele morde o lábio inferior novamente e eu faço uma cara de desentendida, afinal… eu realmente não entendi!

O que ele pode fazer comigo em cima desse balcão? 

"O quê?" Volto a realidade. 

"Esquece!" Ele ri e revira os olhos. Acho que sou ingênua o bastante pra não entender o que

ele quer me dizer. Reviro os olhos assim como ele, mas de raiva de mim mesma. 

"Achei que você queria se aquecer." Digo afastando meus pensamentos. Pego uma pitada de sal, coloco na panela e por fim mexo com a colher. Espero que nosso jantar fique bom. 

"É… Na TV só está passando porcarias. Eu prefiro ficar aqui te olhando." Ele se aproxima, se senta na cadeira do balcão e permanece me olhando; com as mãos cruzadas em cima da mesa. Suspiro e mordo o lábio inferior. Ele é atraente de qualquer maneira, ele não precisa medir esforços algum pois sua beleza é natural e a cada gesto ou posição, ele aparenta ser mais belo. Minha pele se arrepia com esses pensamentos e espero que ele não perceba esse descontrole, mas acho difícil isso acontecer. Meus ombros estão pesados, meu coração tá quase saindo pela boca e sinto meu corpo estremecer... Se ele não me dizer que quer me levar pra cama agora, eu vou acabar tendo um ataque. 

"Coloca o creme de leite pra mim? Eu preciso subir... pra fazer... xixi." Minto. 

"Eu?" Ele me olha.

"Sim, você. Só colocar o creme de leite na panela e mexer. Não é possível que você não saiba fazer isso."

"Claro que sim. Pode ir lá."

"Está bem. Eu já volto." Saio rapidamente dali. 

Subo pro quarto, entro no closet e começo a andar de um lado para o outro. Esse descontrole todo não combina comigo, mas quando estou com o Gustavo nada parece ser normal! Não tenho controle de nada, não tenho controle dos meus pensamentos, não tenho controle do seu subconsciente, nem das minhas palavras. Eu me sinto a mulher mais boba desse mundo. Eu sou casada, não deveria me sentir assim! Será que sou a única mulher que se sente envergonhada no casamento com o marido? Queria ser como o Gustavo, ele é tão espontâneo, não se sente envergonhado como eu. As coisas seriam mais fáceis se eu não fosse tão ingênua e envergonhada. 

Entre tantos pensamentos negativos, olho para uma gaveta entre-aberta, vejo um caderno preto, meu caderno! Em todos os lugares que vou eu sempre levo um caderno ou uma agenda para anotar algo importante. Eu sempre achei isso tão útil na minha vida. Talvez muitos me critiquem por trazer um caderno ao invés de trazer algo que possa agradar o Gustavo, como uma lingerie atraente. Mas eu trocaria todas as lingeries só pra trazer livros e cadernos. Eu sou tão apaixonada pela escrita, se não trouxe nenhum livro foi pro Gustavo não me achar estranha, mas se a Fátima não tivesse me impedido eu teria trago pelo menos um livro. 

Solto um suspiro aliviado, pego o caderno e o pressiono sobre o peito. Estou tão feliz, vou levá-lo até a cozinha, sei que meu nervosismo já passou e se eu for sem ele até lá, minha aflição vai voltar. Pego uma caneta na minha bolsa e volto à cozinha. Gustavo está mexendo a panela de um modo que desconheço. Se ele soubesse cozinhar seria tão divertido e com toda certeza seria uma bela visão aos meus olhos. 

"Demorou, hein." Ela faz uma careta como se estivesse fazendo algo que não gosta, o que não é uma mentira.

"Desculpa. Olha o que encontrei." Mostro o caderno sobre o ar com uma animação meio extravagante. 

Ele solta uma gargalhada. "Um caderno?" Tento esconder minha cara de ofendida, mas é impossível. Sei que ele não falou por mal, mas mesmo assim fico chateada. 

"O que foi?" Me sento na cadeira do balcão. 

"Você fala como se tivesse encontrado um tesouro." 

"Mas pra mim é sim um tesouro. Um dos meus tesouros favoritos." Abro o meu caderno pequeno e não vejo nada escrito. Estou tão no mundo da lua que nem lembrava do caderno que trouxe. 

"O arroz parece já estar seco." Ele diz me tirando dos pensamentos. 

"Sim. Agora desliga, espera esfriar um pouquinho e depois você coloca a segunda água."

"Segunda água?"

"É. A não ser que você queira comer arroz cru." Digo entre um sorriso. 

"Tá bem. Posso desligar o strogonoff também?" Aceno com a cabeça e ele desliga a panela de arroz e a panela de strogonoff. Não fiz muito, só um tanto que dê para nós dois. Gustavo se senta na cadeira e começa a olhar fixamente para parede, como se não tivesse nada a dizer; eu acho ótimo que não diga. Quero escrever... um poema! Eu posso fazer poemas para Gustavo, esse caderno vai ser pra isso. Vou fazer poemas para Gustavo, mas ele não precisa saber disso. 

"Tudo bem?" Ele finalmente me olha e pergunta. 

"Tudo." Sorrio e abro o caderno. Pego a caneta e começo a pensar. Olho fixamente para Gustavo, para surgir ideias. 

New Life - Depois Do Casamento (Parte 1) Onde histórias criam vida. Descubra agora