Rápido, por favor... Eu não quero morrer desse jeito, caralho!
Eu xingava mentalmente enquanto tentava me soltar desesperadamente, me debatendo naquela cama velha tentava fazer a corda ceder. Havia mais de um zumbi do lado de fora, provavelmente mais de quatro deles, e eu gostaria de gritar para todos eles irem se foder, mas considerando que eles tentavam raivosamente entrar por uma das portas do andar debaixo, não seria uma boa ideia.
Apenas alguns segundos se passaram, mas toda aquela angústia pareceu durar uma fodida eternidade até que eu finalmente consegui me soltar. Me sentando na cama, ofegante, fraca e com dor, esfreguei os pulsos e respirei fundo antes de levantar. Preciso dar o fora daqui!
Descalça de um pé, evitei os cacos espalhados pelo chão, abri a porta devagar e analisando o corredor inteiro saí de fininho do quarto. Descendo as escadas, observei que a porta da frente estava fechada com um sofá e uma corda amarrada à maçaneta, mas não era por ela que os zumbis queriam entrar.
Os barulhos vinham do cômodo que imaginei ser a cozinha e até pensei em ir até lá, mas algo atraiu minha atenção antes. Arregalei os olhos com a imagem a minha frente. Carl estava sentado no chão, desacordado, sua pistola estava largada próxima a sua mão e sua cabeça pendia para o lado, com o chapéu de xerife torto sobre ela. Estranhei ainda mais a cena ao notar que um dos braços do garoto estava amarrado, aparentemente por ele mesmo, ao pé do armário ao seu lado.
Sem pensar no que estava fazendo, corri até o garoto. Levei as mãos até seu rosto pálido com a intenção de acordar o mesmo, mas tive que conter um grito de raiva quando notei que ele estava ardendo em febre. O suor cobria sua pele alva e suja em uma camada fina, e ao olhar para baixo notei duas coisas.
A primeira era que o trapo usado como curativo no ferimento em sua perna estava completamente encharcado com seu sangue, chegando até mesmo a pingar no chão, e essa perda de sangue junto à febre provavelmente foi o que fez o garoto desmaiar, um péssimo sinal.
A segunda coisa que notei ao analisar o garoto, foi uma folha de caderno suja meio amassada sobre suas pernas. Percebendo que havia algo escrito na folha, peguei a mesma e suspirei irritada ao ler o bilhete. "Tem comida na minha mochila, pegue e continue seu caminho." Sua letra era torta, um pouco apressada e meio feinha, mas acho que ninguém mais tem tempo para treinar caligrafia nesse mundo.
-Não ouse morrer ainda, garoto... - sussurrei apreensiva, vasculhando os bolsos do mesmo até encontrar uma faca.
Uma voz no fundo da minha cabeça me dizia para apenas pegar a comida e fugir, mas meu coração sempre venceu as discussões com a minha mente. Eu não conhecia aquele garoto idiota e talvez ele me matasse quando melhorasse, ajudar pessoas no mundo de agora era praticamente um sinônimo de problemas, mas eu sabia que não seria capaz de deixá-lo alí para ser devorado.
Peguei a pistola jogada no chão ao seu lado e baguncei os cabelos um pouco desesperada ao perceber que ele também não tinha mais balas. Procurei até mesmo na mochila do garoto por algo que pudesse me ajudar, mas tudo o que encontrei foram alguns poucos enlatados, três HQs um pouco sujas e uma foto de uma garotinha loira e sorridente, mas nada de munição. Certo, vai ser do jeito difícil!
-Que hora adequada para desmaiar você escolheu, Grimes... - resmunguei baixinho com sarcasmo.
Peguei o garoto pelos braços e o arrastei com dificuldade pela sala até um armário entreaberto embaixo da escada, para que os mortos não o encontrassem se invadissem a casa. Determinada, tranquei o garoto lá dentro e ofeguei cansada com seu peso. Se eu sobrevivesse, chutaria a bunda desse "Harry Potter" de araque mais tarde.
Peguei do chão a faca que furtei de Carl, caminhando até a cozinha o mais silenciosa que podia. A porta estava rangendo e estalando com as investidas dos monstros, mas as tábuas pregadas em frente à mesma ajudavam para que a porta não caísse ainda, mas essa proteção não duraria por muito tempo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Putrified Love - Carl Grimes
FanficSozinha, em meio a um mundo devastado por uma doença que transformou boa parte da população mundial em monstros comedores de carne humana, Clarisse vagava pela floresta como um fantasma, tomando coragem para atirar na própria cabeça. Porém, algo at...