Capítulo 10

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Encarando o grande cadeado a minha frente, eu me afastei um pouco e tirei meu 38 do coldre. Um, dois tiros, o cadeado caiu estourado no chão e Daryl se aproximou para abrir as grandes portas duplas da entrada do lugar. Todos ficamos a postos, prontos para qualquer ameaça que saísse do lugar, atraindo e derrubando em instantes cinco zumbis que pularam para fora do prédio assim que as portas foram abertas.

Lá dentro haviam vários caminhões, todos abertos indicando que os zumbis dentro do lugar em algum momento foram moradores daquele galpão, eles com certeza viveram assim por um bom tempo. Ainda com armas em punho meu grupo se separou, não tínhamos muito tempo alí, o barulho que fizemos atrairia mais caminhantes e nossas munições estavam acabando.

Olhando em volta, passei a procurar por chaves enquanto vasculhava os caminhões em meu caminho, alguns dos abertos estavam cheios de latas vazias mau-cheirosas e camas improvisadas cobertas de sangue seco e poeira, achei até mesmo alguns maços de cigarros que enfiei rapidamente nos bolsos sem que ninguém visse.

Uma poça de sangue seco no chão me guiou até uma cena que fez até meus ossos tremerem, senti meu estômago revirar enquanto um calafrio horrível percorria meu corpo. No chão, havia um bebê conforto coberto de sangue e carne podre, a coisa que um dia foi apenas uma inocente criança ainda estava presa ao bebê conforto, rosnando e se debatendo com parte de seu corpo comido.

O cheiro podre invadiu minhas narinas sem permissão e eu sequer sei como consegui conter a vontade de vomitar. Minha mão trêmula alcançou a faca em minha bota e eu me aproximei do pequeno monstro, mordendo os lábios para conter um grito de pânico quando cravei a fraca em seu crânio podre.

Guardando a faca de volta no lugar, eu voltei até o caminhão sem respirar e puxei uma das cobertas lá de dentro, jogando a coberta sobre a criança morta como se pudesse fingir que aquilo nunca aconteceu. Nessa merda de mundo profano, espero que ainda exista um céu lá em cima, alguma coisa que faça valer tanto sofrimento... Porque mesmo que o meu destino nunca seja subir os degraus da escada angelical, sei que essa criança merecia.

Abalada, andei um pouco mais com a arma em punho, um pequeno suporte na parede chamou minha atenção e eu finalmente pude suspirar um pouco mais aliviada. Peguei as chaves no painel e levei até os outros, não participei da conversa enquanto eles decidiam qual caminhão levar e apenas ajudei a carregar as caixas que ainda continham enlatados, só queria voltar logo para a comunidade e passar o resto do meu dia jogada no sofá com algum livro roubado da estante de Carl.

Acendendo um cigarro, eu apenas segui inconscientemente os movimentos dos outros até estar dentro do carro novamente. Não percebi quando cheguei lá, nem quando nos afastamos daquele galpão, mas acordei de meu torpor quando a voz de Enid chamou minha atenção.

-Já é o terceiro em menos de uma hora... Vai conseguir um câncer bem rápido assim. - ela resmungou, se referindo ao cigarro entre meus lábios, mas eu simplesmente não conseguia me importar.

-Morrer por uma doença comum nesse mundo não chega a ser uma punição. - dei de ombros, sem emoção, a garota suspirou parecendo preocupada.

-O que aconteceu lá dentro? Você ficou tão estranha de repente... - ela perguntou em tom baixo, reduzindo a velocidade do carro para fazer uma curva.

Michonne e Glenn vinham no carro ao lado do nosso e Daryl e Rosita nos seguiam trazendo um caminhão grande e bem cheio de enlatados. Eu deveria estar feliz, nossa busca foi bem sucedida e toda essa comida serviria Alexandria por quase três meses, mas tudo o que conseguia sentir era o vazio.

Imaginei como seria para Carl ver sua irmãzinha no mesmo estado que aquela criança do galpão, o quanto doeria nele, mas a verdade é que as tragédias nesse mundo são inevitáveis e ninguém pode se salvar para sempre.

Putrified Love - Carl GrimesOnde histórias criam vida. Descubra agora