Capítulo 14

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Um, dois, três degraus...

Eu descia devagar a escada curta que me guiava até a pequena prisão de Alexandria, com o coração aflito martelando incansavelmente minhas costelas e um medo irracional de que pudesse ser um deles naquela cela me corroendo. A lembrança vívida preenchia minha mente por completo, o maldito momento em que Simon disse o que tinha feito com meu irmão e a forma como eu tirei sua vida em seguida estavam entalhados profundamente em minha alma.

Não queria fazer aquilo de novo, céus, eu não quero matar mais ninguém. Porém, sei que cedo ou tarde vai acontecer de novo, e mais uma pedra vai ser adicionada ao saco que vai me levar até o fundo do oceano. Teria somente de arrastar o saco pesado e cheio de pedras de culpa até o dia da minha morte.

Quando cheguei ao final da escada com Rick, Daryl e Carl em meu encalço, foi a hora de mudar de personalidade. Ajeitei a postura e assumi uma expressão fria, quando o mundo inteiro se transforma nessa grande merda, você perde o direito de ter medo se quer permanecer vivo.

Porém, quando meus olhos se fixaram no bloco das celas em busca do tão famoso homem capturado, perdi completamente o ar e a compostura ao encontrar apenas uma cela vazia com o vigia desmaiado em frente à grade aberta. Branca como um fantasma e sentindo as mãos tremerem, me virei para os outros a um passo de desmaiar.

-Não fiquem parados! Temos que encontrar esse desconhecido antes que faça mal a alguém! - gritei, com o estômago embrulhado.

Talvez não devesse gritar dessa forma com o líder de uma comunidade onde eu sou uma mera intrusa, mas a ideia de ver alguém morto ou ferido novamente me fez perder a razão. Minhas pernas agiram sozinhas e sequer fui capaz de ouvir os outros me chamando quando subi as escadas em um único salto.

Meus olhos imediatamente varreram toda aquela rua, se prendendo a uma figura masculina inteiramente vestida de preto quase dobrando a esquina. Apertei o passo na direção do desconhecido e quando notei já corria com todas as minhas forças atrás do mesmo, ignorando todos os sinais do meu corpo que diziam que eu desmaiaria se continuasse fazendo tanto esforço.

O Sol brilhava forte naquele início de tarde, o céu azul presenciava a minha perseguição insana, e a cena inteira seria cômica se eu não estivesse tão desesperada. No momento em que consegui me aproximar o suficiente do homem e o mesmo notou minha presença, me senti como as personagens de video-game da minha infância, saltando os obstáculos que o desconhecido passou a deixar em meu caminho.

Tive de pular uma, duas, três latas de lixo derrubadas, desviar de uma série de moitas e saltar por sobre duas malditas cercas. Já estava exausta, sentia meus pulmões queimarem com o esforço da corrida e o suor me cobria por completo. Vi a sorte sorrir pra mim, porém, quando o homem subitamente pisou em falso no final de uma calçada e quase foi ao chão.

Os segundos que ele precisou para recuperar equilíbrio foram tudo o que precisei para arrancar a bota do pé e a arremessar com força em sua direção, o homem caiu no chão quando acertei sua cabeça em cheio. Cheguei a ele em menos de um minuto, e antes que ele pudesse reagir, o cano de meu revolver estava colado em sua testa.

-Não... Se mexa...! - falei completamente sem ar, estava tonta, mas apertaria o gatilho ao primeiro sinal de ameaça.

-É sério, Clarisse?! Um sapato?! - o homem falou de repente, o som de sua voz me fez paralisar, e eu perdi minha precária capacidade de respirar quando ele abaixou a bandana que recobria sua face e revelou sua identidade.

-Paul...? - perguntei devagar, me perguntando internamente se aquilo não era um sonho.

-Você cresceu, priminha... - ele falou baixinho, com aquele sorriso doce que me fez tanta falta e os olhos marejados.

Putrified Love - Carl GrimesOnde histórias criam vida. Descubra agora