Capítulo 19

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Algumas pessoas passam despercebidas pela vida, já outras constroem para si uma forma de marcar sua presença em outras vidas. Senti que Ezekiel, ou Rei Ezekiel como gostava de ser chamado, teve trabalho para construir sua presença como líder nesse lugar. Ao nos afastar do estábulo, eu e Carl nos juntamos ao resto do grupo de Alexandria, dois soldados do Reino trajando uma espécie de armadura improvisada nos guiaram por um corredor até uma porta larga no final do mesmo.

Ao atravessar a porta, um grande auditório se abriu para mim, com fileiras e fileiras de cadeiras em tom azul escuro, todas viradas na direção de um grande palco que ocupava toda a extremidade oposta à que entramos. No centro do palco, sentado em um chamativo trono acolchoado em veludo vermelho, estava o homem que imaginei ser o tal "Rei Ezekiel", com dois outros soldados ao seu lado. Ele era negro, a barba cheia era grisalha como os dreads grossos que caiam por seus ombros, vestia um grosso casaco de couro marrom e segurava uma corrente ligada a algo que quase fez meu queixo cair.

De trás do trono surgiu uma enorme tigresa, que caminhou com elegância e imponência até a beira do palco e rugiu para nós, em seguida se deitando aos pés do Rei. Carl e eu nos entreolhamos surpresos, mas nenhum dos dois ousou dizer algo. Quando eu achava que já tinha visto de tudo, esse mundo sempre me provava o contrário. É surreal.

-Jesus! Agrada-me vê-lo, velho amigo! - o Rei declarou teatral, mordi os lábios tentando não rir e Carl me empurrou de leve com o ombro em repreensão.

-E agrada mesmo! - um dos "soldados" ao lado de Ezekiel disse, esse parecia diferente dos outros, como uma espécie de conselheiro real, tinha corpo roliço e vestia uma túnica vermelha ao invés da armadura. Parecia simpático demais se comparado aos outros.

-Jerry... - o Rei resmungou ao cara da túnica.

Tive que cobrir a boca com a mão para não rir, Carl franzia os lábios e estava lentamente ficando vermelho, deixando nítido que também tentava não rir do jeito caricato das pessoas desse lugar.

-Diga-me, que notícias traz ao bom Rei Ezekiel? São novos aliados que me trazes? - Ezekiel retomou a postura e perguntou a meu primo.

-Sim, eles são, majestade. - Paul respondeu se virando para nós, mas pareceu um pouco desconcertado ao perceber que não tinha avisado a todos sobre a trigresa. - Ah, eu esqueci de avisar a alguns sobre... - ele começou, mas eu neguei com a cabeça saindo do lado de Carl.

-Não se preocupe, ela não me parece querer atacar ninguém. - falei baixo em tom divertido, Paul assentiu com um sorriso leve.

-Esse é Rick Grimes, o líder de Alexandria, os outros são alguns do pessoal dele. - meu primo explicou, se aproximando do palco com Rick e eu em seu encalço.

-Sejam todos bem-vindos, bons viajantes! O que traz vocês a nossa terra justa? Por que buscam uma audiência com o Rei? - Ezekiel perguntou, sempre eloquente e teatral.

-Ezekiel... Rei Ezekiel. - Rick começou incerto, se corrigindo no meio da frase, mas logo retomou a postura e entrou no teatro que o homem no trono fazia - Alexandria, Hilltop e o Reino. Todas as três comunidades tem algo em comum, um desentendimento com o grupo conhecido como os Salvadores. Nós de Alexandria já lutamos contra eles uma vez, mas sabemos que não foi uma vitória, tememos que um confronto maior aconteça e por isso estamos montando uma força tarefa para combater o problema pela raiz. - o Grimes mais velho explicou, mas a julgar pelo olhar de Ezekiel, o homem não estava satisfeito.

-Nosso acordo com os Salvadores não é de conhecimento do meu povo. - o Rei respondeu, dando ênfase na palavra e se virando para Paul - Confiamos esses segredo a você, Jesus, porque nos contou sobre as dificuldades de Hilltop. Por que quebrou nossa confiança? - Ezekiel perguntou seriamente, mas meu primo não se deixou abater.

Putrified Love - Carl GrimesOnde histórias criam vida. Descubra agora