A água das garrafas já estava no fim, minha garganta estava seca e o meu estômago doía de fome. O sol já estava se pondo, tínhamos andado o dia inteiro e ainda estávamos longe demais da tal comunidade. Carl caminhava com mais dificuldade do que deveria ao meu lado, estava suado e sua respiração estava pesada, ele também parecia mais pálido do que deveria.
Suspirando frustrada eu contradisse o que tinha gritado a ele uma hora atrás e me aproximei do garoto, tentando passar o braço do mesmo por meu ombro pela milésima vez desde que chegamos àquela maldita estrada. Tínhamos brigado exatos cinco minutos depois de eu ter aceitado acompanhar o garoto a sua comunidade, e então nas horas seguintes ele se recusou ferrenhamente a aceitar qualquer ajuda de minha parte.
Por fim, eu perdi o resto da minha paciência e o mandei pastar, dizendo ao mesmo que nunca mais o ajudaria, é uma pena que minha afirmação tão convicta não valha mais nada considerando o estado do garoto. Eu sempre me considerei uma pessoa orgulhosa e teimosa, mas Carl Grimes me fazia parecer um doce de coco quando encasquetava com alguma maldita ideia. Ele me lembrava um pouco meu irmão na teimosia...
-Não... Eu consigo... Continuar... - Carl resmungou tentando se afastar de mim, mas acabou cambaleando para o lado e só não terminou no chão porque eu usei toda a minha força para aparar seu corpo fraco. Merda, ele não estava nada bem...
-Me escuta, caralho! - xinguei, respirando fundo em seguida e tentando não gritar - Eu não estou fazendo isso por você, pode ser? Estou me ajudando a ter um lugar seguro para ficar, mas eu nunca vou encontrar essa comunidade se você morrer aqui, sua mula empacada! - ralhei em tom baixo, ajeitando o braço do garoto em volta de meus ombros e o ajudando a andar.
-Você... É insuportável... - ele resmungou me olhando feio, mas claramente não consiguia respirar bem pela exaustão, dessa vez ele não tentou se afastar. Jack lambeu a mão do garoto e ele acariciou fracamente a cabeça do mesmo, resmungando algo inteligível ao meu cão.
Mais duas horas de caminhada se seguiram, percorremos uma distância curta considerando a velocidade reduzida de nossos movimentos, a escuridão nos cobriu como a terra que recobre os caixões. Sufocante. Carl estava ardendo em febre, o curativo em sua perna estava encharcado com o líquido carmesim, e ele chiava de dor a cada vez que precisava encostar a perna ferida no chão.
Meu corpo também já estava no limite, eu tremia de fome e fraqueza, minha garganta estava seca e minhas pernas e pés doloridos com o esforço, meus pulmões queimavam dentro de mim e eu sentia uma camada nojenta de suor envolver todo o meu corpo, minha bolsa parecia pesar uma tonelada ao lado de meu corpo.
O medo me corroía como um monte de vermes, consumindo a carne abaixo da minha pele. Tudo a minha volta era um motivo para ter medo, até os sons de nossos próprios passos eram um motivo para o meu coração bater assustado no peito. Precisávamos urgentemente de um abrigo, se os monstros nos cercassem agora eu sabia que não seria capaz de defender a todos nós sozinha.
A ideia de fugir e deixar o garoto para trás, à mercê da própria sorte, passou algumas vezes pela minha cabeça. Eu sabia que ele sequer protestaria contra a minha decisão. Porém, a culpa imensurável e excruciante que sempre me atingia ao simplesmente pensar em deixá-lo para morrer, me vencia todas as vezes. Eu não teria estômago para conviver com isso depois...
-Vamos, Carl... Só mais um pouco... Precisamos continuar... - supliquei quando o garoto quase caiu de novo, tendo novamente que usar toda a minha força para fazer com que ele não caísse. Meus olhos arderam, segurar o choro estava cada vez mais difícil.
-Eu não... Consigo mais... Está... Tão frio... - ele sussurrou com dificuldade, sua voz fraca era apenas um sopro descompassado, eu sabia que ele estava quase apagando, seu único olho estava quase se fechando.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Putrified Love - Carl Grimes
FanfictionSozinha, em meio a um mundo devastado por uma doença que transformou boa parte da população mundial em monstros comedores de carne humana, Clarisse vagava pela floresta como um fantasma, tomando coragem para atirar na própria cabeça. Porém, algo at...