Ajeitando no ombro a mochila quase vazia de Carl, eu me afastei da casa após trancar a janela, segurando a faca entre os dedos com firmeza enquanto analisava os arredores com atenção. Nenhum caminhante à vista, a não ser os seis que eu matei na noite anterior. Era uma manhã fria, o Sol fraco de começo do dia acariciava com sutileza minhas bochechas um pouco mais coradas por ter comido um pouco na noite anterior.Das latas que o garoto guardava na mochila restaram apenas duas de reserva, antes eram quatro. Era um alívio que ainda tivesse água na casa, o ferimento de Carl estaria muito pior sem a limpeza, mas a comida escassa e a febre mesmo que um pouco mais baixa do garoto, ainda eram um problema.
Eu andava em silêncio por entre as árvores, marcando seus troncos com setas indicando o caminho de volta por precaução. Considerando o ferimento na perna do garoto, deduzi que a casa não deve ser muito longe da clareira onde nos conhecemos, ele não conseguiria me carregar por muito tempo sem desmaiar.
Confirmando que meu palpite estava correto, encontrei a clareira em apenas alguns minutos de caminhada, tendo que me esconder atrás de uma árvore ao notar que mais monstros foram atraídos até o lugar pelos tiros. Eram mais de trinta deles, senti meu estômago revirar com o mero pensamento de que aquelas coisas poderiam facilmente encontrar a casa.
Cuidadosamente, eu me afastei do grupo de monstros, tomando o máximo cuidado possível para não fazer barulho. Tive que correr por mais alguns minutos até ter certeza de que estava longe o suficiente, teria que me lembrar de desviar o caminho um pouco para a esquerda na volta.
Depois de mais ou menos três horas de caminhada, senti um pouco do peso sair dos meus ombros ao encontrar uma estrada. Após alguns passos hesitantes pelo asfalto finalmente encontrei uma placa com o número da rodovia, me ajoelhei no chão e desenhei em uma das folhas velhas que trouxe na mochila um mapa improvisado, seria nossa chance de ir embora assim que Carl melhorasse.
Quando terminei o mapa e me levantei olhando em volta, um pensamento incômodo invadiu minha mente. "Por que estou incluindo aquele garoto nos meus planos? Eu não sei nada sobre ele!" Era uma dúvida válida e consideravelmente preocupante. Eu estava planejando o futuro com um desconhecido que poderia me matar a qualquer instante, ou pior, me entregar para algum grupo de psicopatas.
A verdade é que o garoto Grimes estava bem cuidado demais para um sobrevivente solitário, não parecia desnutrido ou coisa assim, e pensando melhor, seus cabelos não estavam mal cuidados ou ressecados, com certeza deveriam ter sido lavados a menos de duas semanas. Nada de dentes detonados também, e me lembrando agora, o garoto tinha cheiro de desodorante no meio de um apocalipse. Com certeza não estava sozinho antes de me encontrar, talvez tivessem pessoas procurando por ele, pessoas ruins...
Quando comecei a ficar sem fôlego, sentindo meu coração acelerado no peito, balancei a cabeça e respirei profundamente para me acalmar. Os riscos eram reais, eu tinha ciência disso, mas a ideia de simplesmente fugir e deixar para trás um garoto ferido à mercê da própria sorte era intragável demais para mim. Assim, deixando para trás os pensamentos tenebrosos, segui meu caminho pela estrada em busca de algum alimento.
XXX
Algumas horas se passaram desde a minha saída da casa e julguei ser mais de meio-dia pela posição do Sol quando voltei, frustrada por não ter encontrado muita coisa útil em minha pequena viagem. Tudo que havia na mochila agora era um mapa improvisado e alguns ramos frescos de Freixo, que eu usaria em chá para abaixar a febre do garoto. Encontrei no caminho a árvore e me lembrei do formato daquelas folhas, a voz calma de minha mãe pronunciando o nome da planta voltou a minha mente, ela me ensinou aquilo.
Eu ainda era criança quando cozinhava com minha mãe, me lembro de passar horas com ela na cozinha amarela da nossa casa, mamãe sempre foi tão paciente para explicar cada coisa que eu perguntava e meu coração ainda doía quando eu me lembrava de seu sorriso doce. Gostaria de ser forte como ela um dia.
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Putrified Love - Carl Grimes
FanfictionSozinha, em meio a um mundo devastado por uma doença que transformou boa parte da população mundial em monstros comedores de carne humana, Clarisse vagava pela floresta como um fantasma, tomando coragem para atirar na própria cabeça. Porém, algo at...