Capítulo 7

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Deslizei as pontas de meus dedos pelo corrimão enquanto subia os degraus, a nuvem de poeira que cobria o resto do mundo não tinha chegado à Alexandria e era surreal como aquele lugar parecia apenas mais uma alucinação. Segui Carl por um corredor cheio de portas entreabertas, não gostava da sensação de estar alí sem ter revistado todos os cômodos da casa, o apocalipse te faz criar uma série de hábitos estranhos que te fariam precisar de um psiquiatra antigamente.

-É aqui. - o garoto avisou, abrindo uma das portas espalhadas pelo corredor e indicando com a cabeça que eu entrasse primeiro.

Fazendo o que o mais alto queria, apenas cruzei a porta um pouco sem graça e varri o cômodo com um olhar curioso. Boa parte da decoração tinha tons de azul, desde as roupas de cama até alguns enfeites aleatórios.

Notei também alguns pôsteres de diferentes bandas e alguns action figures, que eu imaginava terem sido encontrados nas buscas por suprimentos. Havia também uma escrivaninha simples, um guarda-roupas com fotos de polaroide coladas na porta, uma estante repleta de livros, sendo em sua maioria HQs. Não consegui conter a admiração em minha expressão ao observar a estante.

-Pode escolher o que quiser pra ler, mas se tiver uma página amassada depois... Eu vou ser obrigado a te dar um tiro. - o garoto falou muito sério enquanto me olhava diretamente nos olhos, mas caiu na gargalhada quando arregalei os olhos - Estou brincando... Eu só te daria um tiro se você não me devolvesse. - disse ao parar de rir, caminhando até sua cama e se sentando com as costas apoiadas na parede. Eu não gostaria de descobrir o quanto de verdade havia naquilo.

-Justo. - dei de ombros rindo levemente e me voltei para a estante, escolhendo uma das revistas depois de alguns instantes.

-Pode se sentar aqui se quiser, eu não me importo. - o garoto falou quando me virei para ele, indicando um lugar a seu lado na cama.

-Certo... - murmurei engolindo em seco.

Estar sozinha em um quarto com um cara que eu mal conhecia provavelmente não foi a ideia mais prudente que eu já tive, mas esse cara em específico não parecia me oferecer perigo.

Me sentei ao lado do garoto cama, o mais distante que podia, e encostei as costas na parede creme atrás de mim, Jack apenas se deitou no tapete ao pé da cama. Abri a revista e tentei me concentrar no conteúdo, mas apesar de não sentir ameaça alguma vinda de Carl, eu simplesmente não conseguia me manter calma na presença do garoto. Um silêncio sufocante se instalou no quarto até que um dos dois não suportasse mais a situação e iniciasse uma conversa.

-O almoço está com um cheiro bom... Carol é muito boa na cozinha. - o moreno murmurou, também parecendo um pouco desconfortável com a situação.

-Conhece ela a muito tempo? - questionei abaixando a revista, aliviada por ele ter falado primeiro.

-Desde o início da infecção, estávamos indo pra Atlanta quando a conheci, ela nos ofereceu comida... Carol é uma das pessoas mais fortes que eu conheço. - explicou sem entrar em muitos detalhes, seu olhar se perdeu no quarto por alguns instantes.

-Acho que todos tivemos de nos tornar fortes em algum momento... Esse mundo não permite a fraqueza... - dei de ombros, me lembrando de todas as mortes que já havia presenciado, pessoas boas, mas que infelizmente não conseguiram sobreviver à essa realidade brutal.

-Sente saudade da sua família...? - o garoto perguntou de repente, sem coragem suficiente para direcionar seu olhar a mim.

-Todos os malditos dias... - sussurrei, meus punhos se fecharam inconscientemente - Eles não eram perfeitos, sabe...? Meus pais estavam se divorciando quando a doença chegou... Meu irmão mais velho brigava com eles o tempo todo... E eu tinha acabado de fazer 12 anos... Eu odiava minha vida naquela época, mas daria tudo pra voltar no tempo... - desabafei baixinho.

Putrified Love - Carl GrimesOnde histórias criam vida. Descubra agora