Minha voz baixa se mesclou à fria brisa noturna, o vento acariciava minhas bochechas com seus dedos gelados enquanto distraída eu cantarolava a letra de Angie dos Rolling Stones. Já havíamos chegado ao fim da última semana de Novembro, sendo assim, o Outono chegaria ao fim logo e com o início de Dezembro viria o rigor gelado do Inverno.
Observando a escuridão que engolia o horizonte, eu me mantinha alerta a cada detalhe, mesmo que minha mente tentasse repetidas vezes levar minha atenção aos pensamentos conturbados em minha cabeça. Faziam quatro dias que havíamos chego em Alexandria, após a cansativa viagem de volta, na manhã seguinte sairemos cedo para a ida ao Reino.
Ficou combinado que após nossa visita ao Reino, com ou sem a aliança, um grupo seria enviado a Hilltop para iniciar os treinamentos de todos que quisessem lutar. Sendo assim, eu teria uma semana consideravelmente cheia com os treinos e viagens entre as comunidades.
Entretanto, assumir um turno na vigia e fingir que não existo, foi uma ideia mais atrativa do que enfrentar uma conversa assustadora sobre sentimentos com Carl. Estava fugindo constantemente do garoto desde que voltamos à comunidade, sempre inventando algo pra fazer quando ele se aproximava, mesmo que isso me deixasse exausta.
A verdade é que admitir mesmo que apenas em minha mente, o fato de eu estimar o garoto Grimes como muito mais do que um simples amigo, me fazia tremer da cabeça aos pés. Por tudo que é mais sagrado, é a primeira vez que eu me apaixono de verdade, como eu saberia o que fazer?
É ridículo que eu esteja preocupada com algo tão banal dada a situação em que nos encontramos, mas está sendo quase impossível refrear meu nervosismo. Eu já tive um "quase relacionamento" antes disso, quando eu tinha 16 anos e tinha fugido a pouco tempo do posto avançado dos Salvadores.
Ela era bonita, me fazia bem e éramos boas juntas, mas sempre fomos mais amigas do que "namoradas". Eu realmente gostava dela e o que tivemos foi muito importante pra mim, mas gostar nunca foi o mesmo que amar. Não como eu amo Carl...
Meus pensamentos foram interrompidos quando uma movimentação em minhas costas chamou minha atenção. Um suspiro estrangulado de susto escapou de minha garganta ao mesmo tempo que eu erguia meu rifle, mas senti meu corpo relaxar quando encontrei apenas uma Enid, com os braços erguidos em rendição atrás de mim.
-Não deveria chegar de fininho nas costas de uma pessoa armada, poderia estar morta agora! - reclamei a olhando feio, Enid riu de minha carranca.
-Eu diria que você não precisaria desse rifle para me matar, soube de um pássaro azul que você é letal com uma faca de cortar pão. - a garota brincou, ajeitando nos braços o próprio rifle e se postando ao meu lado.
-Esse pássaro azul é um baita fofoqueiro... - murmurei contendo uma risadinha, sabia que era de Carl que ela estava falando. Naquele momento, pensei ter visto um breve vulto nas árvores, não muito longe do portão.
-Não posso discordar. Qual o nome da música que você estava cantando? Sua voz é bonita. - Enid questionou tirando minha atenção por um instante.
Quando virei o rosto novamente não havia mais nada lá, então apenas ignorei o tal vulto, decidindo ser apenas uma alucinação do cansaço de várias noites mal dormidas. Foi teimosia minha não ter ido descansar, mas agora não tinha muito como voltar atrás.
Eu adorava a companhia da garota, a forma como ela consegue tornar qualquer coisa mais leve e o jeito como cuida dos outros sem nunca ser invasiva, senti falta dela em meio a correria dos últimos tempos. Enid era o que eu tinha de mais próximo a uma melhor amiga de infância do mundo antigo, mesmo que tenhamos nos conhecido a pouco tempo, eu sentia profundamente que podia confiar nela.

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Putrified Love - Carl Grimes
FanfikceSozinha, em meio a um mundo devastado por uma doença que transformou boa parte da população mundial em monstros comedores de carne humana, Clarisse vagava pela floresta como um fantasma, tomando coragem para atirar na própria cabeça. Porém, algo at...