Carl franziu os lábios, sua expressão aos poucos perdeu a frieza e se tornou apenas angustiada, ele suspirou audivelmente mas não disse nada. O garoto caminhou até mim, passou meu braço por seus ombros e me guiou até seu quarto com cautela. Meu coração martelava loucamente as costelas com seu silêncio, mas eu não tive coragem de me pronunciar novamente.
Me deixando sentada em sua cama, Grimes caminhou até sua cômoda e tirou da gaveta alguns materiais de curativo. Ao olhar um pouco para baixo, notei que o meu estava encharcado com o líquido carmesim que, com toda a certeza, não deveria estar do lado de fora do meu corpo.
Não contestei nem questionei nada enquanto o garoto limpava toda a área em volta do ferimento, quase fingindo que não existia realmente naquela cena, sem coragem suficiente para erguer o olhar até seu rosto ou encarar seu corpo seminu. Ao terminar o curativo ele me lançou um rápido e indecifrável olhar e então caminhou até a porta, pensei que ele me deixaria, mas sua voz me fez estacar no lugar.
-Vou terminar o banho, espere por mim. - e assim ele sumiu porta a fora.
O barulho do chuveiro ecoou pelo corredor e sem ter muito o que fazer, eu me afundei entre os lençóis do garoto. O travesseiro coberto por uma fronha azul tinha o cheiro dele, o cheiro bom que sempre emanava de seu cabelo quando estávamos abraçados. Sem pensar muito, enterrei o rosto no objeto macio inalando profundamente o perfume.
Alguns minutos se passaram e permaneci no mesmo lugar, evitando prestar atenção em minha mente badernada. Queria aproveitar aquele perfume até o último segundo, porque se o garoto simplesmente me dissesse para ficar longe dele como eu fiz naquela maldita noite, eu gostaria de guardar na memória aquele cheiro tão reconfortante.
-Clarisse...? - ele me chamou da porta de repente e eu me levantei em um pulo, sentindo a vergonha aquecer minhas bochechas.
-Sabia que e-essa fronha é super macia?! - a pergunta saiu antes que eu pudesse controlar minha língua, o nervosismo sempre me fez falar idiotices, Carl assentiu um pouco confuso.
Nossos olhos se encontraram e nos encaramos pelo que pareceu uma eternidade. Observei lentamente a indiferença abandonar o mar tempestuoso em seu olhar e se transformar em angústia, até que a expressão do garoto se tornou mais branda e ele se aproximou em apenas uma passada.
Os braços longos me envolveram com um cuidado que fez meu coração se partir e eu afundei meu rosto em seu peitoral, apertando fortemente o tecido de sua camisa escura entre meus dedos. As lágrimas chegaram sem aviso e quando percebi eu já tremia e soluçava baixo envolta em seus braços protetores, murmurei diversos pedidos de desculpas entre os soluços, mas tudo o que ele fez foi acariciar meus cabelos enquanto sussurrava palavras reconfortantes.
-Está tudo bem... - ele começou, mas eu o interrompi, negando com a cabeça enquanto buscava ar para falar.
-N-não... Não está... Eu fui uma imbecil com você... Tudo porque eu sou medrosa demais... Eu fiquei com tanto medo que só quis fugir...! - falei ainda chorando, os nós dos meus dedos ficaram brancos com a força com que eu apertava o tecido da camisa de Carl.
-Por que ficou com medo, Clarisse...? Eu quero ouvir de você... A verdade... - ele falou enquanto lentamente ergueu meu queixo, acariciando minha bochecha com o polegar, senti as barreiras que eu passei anos erguendo derreterem.
-As pessoas perto de mim sempre acabam morrendo, Carl... E eu não quero perder você... Não vou suportar te ver morrer também... Porque você se tornou importante demais pra mim. - falei aos sussurros, as poucas lágrimas restantes de minha breve crise de choro ainda escorriam por minha face.
-Você... Vai acabar me enlouquecendo...! - Carl reclamou antes de me abraçar novamente, escondendo o rosto na curva do meu ombro - Você também é importante pra mim, Clarisse... E por isso eu quero enfrentar os problemas com você... Não quero viver nesse eterno "morde e assopra"! - ele falou em tom de súplica, senti meu coração doer.
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Putrified Love - Carl Grimes
FanficSozinha, em meio a um mundo devastado por uma doença que transformou boa parte da população mundial em monstros comedores de carne humana, Clarisse vagava pela floresta como um fantasma, tomando coragem para atirar na própria cabeça. Porém, algo at...