Capítulo 28

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Escolhas.

Acho que essas são as únicas coisas capazes de definir uma pessoa. Não é o que você veste, nem o que come, seu dinheiro, sexualidade e menos ainda a cor da sua pele. O preconceito humano é burro, porque branco ou negro, você sempre tem a escolha de mudar tudo.

Antes do apocalipse, eu acreditava ferrenhamente que o mundo estava dividido entre pessoas boas e pessoas más, e esse com toda a certeza foi meu pensamento mais ingênuo. No final de tudo, só existem as pessoas, suas escolhas e as consequências delas. Nada é unânime e bem e mal são a mesma merda no final da história, o bem de uns sempre será o mal de outros.

Encarei meu reflexo no espelho mofado do banheiro minúsculo do meu quarto, analisando o tom arroxeado do breve inchaço abaixo do meu olho esquerdo. Meu lábio inferior estava marcado com um largo corte avermelhado, e haviam marcas roxas e escoriações espalhadas por meus braços e tronco.

Cyndie havia realmente melhorado em combate, considerando que em nossos antigos treinos, era sempre ela que acabava com um olho roxo. Se sobrevivermos a tudo o está por vir, eu gostaria de retomar nossos treinos, assim como os treinos da população de Alexandria. Acho que agora, eu entendo porque minha mãe gostava tanto de lecionar artes marciais.

-Bom... Se sobrevivermos. - murmurei, vestindo a blusa limpa e saindo do banheiro. Guardei no cano da bota o meu trunfo para uma provável discussão com Natania.

Antes de ir para a cama na noite anterior, Cyndie me informou que teríamos uma "reunião" esta manhã. Eu, a garota, Carl e Natania, enfurnados num mesmo quarto discutindo os prós e contras de uma aliança entre Alexandria e OceanSide. Seria o inferno, mas era um mal necessário.

Quando abri a porta do quarto, ainda me atrapalhando com o terceiro casaco que estava vestindo, encontrei Carl me esperando na sala do chalé que disponibilizaram para nós dois. O garoto me observou por alguns instantes, parecendo querer dizer algo. O tom azulado em sua íris parecia estranhamente incerto.

-O que foi? - decidi perguntar, por fim, estranhando a expressão abatida do mesmo.

-Não é nada, temos que ir. - respondeu simples e tentou sair do chalé, mas o segurei pela barra do casaco antes que o fizesse.

-É alguma coisa, sempre é. Está sentindo alguma dor ou...? - questionei, virando o mais alto em minha direção e o afastando da porta - Podemos conseguir um remédio melhor se não estiver bem, eu vou...! - continuei falando enquanto procurava qualquer ferimento por entre as vestes do garoto, mas ele segurou minhas mãos interrompendo minha fala.

-Eu estou bem... É só que... Você não respondeu. - ele murmurou, desviando o olhar subitamente muito vermelho, fiquei ainda mais confusa.

-Do que está falando? - tomei coragem pra perguntar, ele suspirou alto.

-Por que você tem que ser tão lerda? - ele franziu os lábios impaciente.

-Eu não sou lerda, você é que parece uma adolescente de filme teen que acha que eu sou capaz de adivinhar o que você está pensando, e... Merda! Você não está... Falando daquilo na fogueira ontem, não é? - fiquei subitamente vermelha com a realização de que eu realmente não tinha respondido aquilo, simplesmente porque achei que era uma brincadeira.

-Eu não sou assim! E... É, eu estou falando daquilo... M-mas não de nos casarmos agora ou algo assim, e-eu só... Achei que oficializar as coisas s-seria bom, ou algo assim... E-eu... Merda, não sei fazer isso! Quer ser minha namorada ou não, Clarisse? - ele disparou a falar, gaguejando e se atrapalhando inteiro, até que no final perdeu a paciência e soltou a pergunta com a mesma delicadeza que um tiro de canhão.

Putrified Love - Carl GrimesOnde histórias criam vida. Descubra agora