"E então, a princesa estendeu a mão para que o cavaleiro também montasse seu cavalo, e os dois fugiram juntos para a liberdade."
Finalizei minha curta história inventada, com a frase mais clichê que poderia, observando Judith já adormecida a minha frente, com Jack aninhado na beirada de sua cama também dormindo, como uma grande bola de pelos dourada. Ela insistiu até que eu o deixasse dormir junto dela, e eu não pude dizer não à fofura dos dois.
Arrumei com cuidado os cobertores no corpo da garotinha e me virei para Carl, que surpreendentemente também havia adormecido durante a história. As mechas lisas de seus cabelos castanhos se espalhavam pelo tecido escuro do meu casaco, sua cabeça repousava pacificamente em meu ombro, a respiração constante indicando seu sono tranquilo.
Me senti um pouco mal por ter de acordá-lo, mas me apeguei ao fato de que ele descansaria melhor em sua cama. Acariciei o rosto tranquilo do meu namorado por alguns segundos, e então o chacoalhei de leve para que acordasse. Ele franziu o cenho e resmungou algo incompreensível, antes de erguer a cabeça do meu ombro e coçar de leve o olho, fixando sua atenção em mim um pouco depois.
-O que aconteceu...? Está tudo bem...? - ele perguntou sonolento, mas pareceu subitamente acordado quando deixei um rápido selinho em seus lábios para que fizesse silêncio, suas bochechas assumiram um tom sutil de rosa.
-Quieto... Deixe Judy descansar. - sussurrei, me levantando do puff em que estava sentada e caminhando até a porta do quarto.
Ele me seguiu a passos preguiçosos, me esperando do lado de fora enquanto eu conferia se a janela estava fechada e a babá eletrônica ligada. Confirmei por fim se a faca que eu mantinha escondida no quarto da garota, longe de seu alcance, mas acessível pra mim, estava no mesmo lugar.
Era um segredo estranho que eu não revelei a ninguém da casa, mas haviam armas escondidas por todos os cômodos, uma precaução extra em caso de ataque que meu pai me ensinou a fazer desde que essa bagunça começou. Eu mantinha aquela tradição em todo lugar que me estabelecia, e esse pequeno hábito já salvou minha vida mais vezes do que eu posso contar.
Por fim, apaguei a luz do quarto e fechei a porta com cuidado. Um dos irmãos Grimes já foi, faltando apenas mais um. Carl estava encostado na parede, com o olho fechado e os braços cruzados. Pensei que estivesse praticamente dormindo em pé, mas me assustei quando o garoto me agarrou pelo pulso esquerdo e me puxou contra seu corpo.
-Não deveria baixar a guarda, confiando apenas no que pode ver... - ele murmurou com um sorrisinho, se divertindo com meu pequeno susto, lhe dei um soco fraco no braço.
-E você, não deveria confiar tanto... Que não vou te dar uma joelhada no saco se me assustar de novo. - sussurrei, separando vagarosamente as pernas do mais alto com um dos meus joelhos.
Ele me olhou assustado e consideravelmente vermelho, acabando por até mesmo esquecer de me segurar contra seu corpo, lhe dei um sorrisinho sacana e me afastei.
-Vá dormir! - ordenei por fim, dando as costas ao garoto para caminhar em direção ao meu quarto, mas não consegui dar sequer quarto passos.
Antes que eu pudesse compreender o que se passava, senti apenas quando meus pés deslizaram em um giro sobre o piso de madeira, e então minhas costas estavam coladas à parede fria. Carl estava a minha frente, as duas mãos firmes em minha cintura e o rosto a meio palmo de distância do meu.
- Não me trate como uma criança... - ele falou, o tom subitamente rouco em sua voz fez os pelos da minha nuca se arrepiarem, sua respiração quente acariciando minha face a cada palavra me deixou quase tonta.
Maldito garoto que consegue causar tanto efeito em mim, sem nem mesmo se esforçar...
-Carl... Estamos no meio do corredor... - avisei, tentando sem muita vontade me soltar do garoto, a essa altura meu coração já batia com a velocidade de um carro de corrida no peito, martelando minhas costelas o suficiente para quase as quebrar.
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Putrified Love - Carl Grimes
FanfictionSozinha, em meio a um mundo devastado por uma doença que transformou boa parte da população mundial em monstros comedores de carne humana, Clarisse vagava pela floresta como um fantasma, tomando coragem para atirar na própria cabeça. Porém, algo at...