Capítulo 30

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-Carl Grimes P.O.V

As pessoas geralmente cometem erros quando não pensam antes de agir, e eu imaginei que isso fosse uma regra para todos, mas da forma mais inexplicável que poderia, acho que os meus maiores acertos vieram de decisões impulsivas. Ela veio a mim por uma decisão impulsiva.

Não pensei antes de desobedecer meu pai e sair da comunidade naquele dia, nem quando peguei aquele carro, mesmo sendo o pior motorista do mundo. Não pensei quando me afastei da área que cobrimos nas buscas, ou mesmo quando decidi que era boa ideia ajudar uma desconhecida seminua caída no chão da floresta, mesmo que mal fosse capaz de caminhar sozinho com aquele ferimento na perna.

Eu iria morrer naquela floresta, senti isso no fundo dos meus ossos quando aquele zumbi me derrubou no chão. Eu vi nos olhos mortos daquela coisa, vi como estava tão perto do fim, e então veio o tiro. A primeira vez que a vi, em pé a alguns metros de mim, coberta de sangue e ainda com a arma que salvou minha vida em punho. Eu havia perdido qualquer fé em Deus há muito tempo, mas somente por aqueles segundos, acreditei com cada fibra de mim que um anjo tinha descido do céu exclusivamente pra me resgatar.

Desde então, acho que fui capaz de compreender o que meu pai dizia sobre o amor. Que o amor se sente, não é exato ou racional, ele simplesmente te preenche sem aviso. Clarisse preenche em mim um vazio que eu nem mesmo compreendo, e mesmo que eu não seja capaz de demonstrar o suficiente, eu a amo, como nunca amei ninguém na minha vida.

A imprudência me trouxe o amor, e eu sabia que também era capaz de me levar à morte, mas acho que morrer pela minha garota... Parece uma maneira interessante de partir, afinal.

-Ei, bundões!!! Filhos da puta de merda!!! Aqui!!! Venham aqui!!! - berrei o mais alto que pude, o suficiente pra sentir minha garganta arder, batendo meu fuzil com força nas grades daquele brinquedo e fazendo barulho para atrair a horda em minha direção.

Os mortos imediatamente começaram a se afastar de Clarisse, se arrastando em minha direção como mariposas em busca de uma lâmpada. Pude ver de longe quando aqueles olhos lindos de tempestade se encheram de desespero ao compreender meu plano, mas a única coisa pela qual me arrependi, foi por assustá-la.

Atirei em quantos monstros pude, os tiros se misturaram aos meus batimentos cardíacos ecoando nos meus ouvidos, mas perdi o equilíbrio quando um monstro emergiu de trás de mim e se jogou em minha direção sem qualquer aviso prévio. Empurrei o peito da criatura com toda a força que pude, seus dentes apodrecidos rasgavam o ar a apenas alguns centímetros do meu rosto.

Havia uma multidão deles a minha volta, se aproximando como a lâmina brilhante de uma guilhotina, imparável, como a bala que atravessou aquele servo e encontrou seu lugar abaixo da minha pele quando eu tinha 12 anos. Aquele servo, a forma como ele me olhou. Provavelmente ninguém acreditaria se eu contasse, mas de alguma forma, acho que ele sentiu que me devia um último favor.

Tudo aconteceu mais rápido do que eu pude processar, de canto de olho, pude notar apenas o vulto de uma figura esguia de pelagem marrom se movendo rápido em minha direção. O ser desconhecido saltou por uma brecha abaixo da estrutura metálica ao meu lado, e só pude ver finalmente o servo quando o animal se viu encurralado pelos mortos a minha volta.

Olhos grandes e escuros me encararam uma última vez, e então seu sangue cobriu a grama amassada antes que ele tivesse tempo de fugir de novo. Apenas fui capaz de voltar à realidade quando reconheci a voz de Clarisse, em um grito desesperado que se perdeu entre os grunhidos. Eu precisava sair dalí!

Reuni toda a minha força em um único braço, afastando o zumbi sobre mim apenas o suficiente para agarrar a faca em meu cinto. No momento em que o cadáver desfaleceu sobre mim, rolei por baixo de seu corpo até me enfiar na brecha pela qual o servo saiu. Chutei com força um dos mortos que se agarrou a minha perna, rastejando no espaço estreito o mais rápido que podia, com vários monstros em meu encalço.

Putrified Love - Carl GrimesOnde histórias criam vida. Descubra agora