08. Where Have You Been

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Respirei fundo antes de cortar o tomate em rodelas, a faca foi em um direção totalmente errado quase cortando meu dedo polegar, virei para a pia com algumas panelas para lavar.

Quem eu estava querendo enganar? Se forte as vezes é uma tarefa difícil, e como eu estou convivendo com um “demônio” era uma tarefa difícil, o medo às vezes aparece como uma linha fina. É assustador. O assustador fica bem pior quando você para pra pensar que a morte anda do teu lado todos os dias, você não consegue evitar, parece que seus dias são contados, a vontade de ir embora nunca desaparece. Eu nunca parei para pensar também que é bizarro ficar ao lado de um demônio, quais a chance de algo machucar você se você mora debaixo do mesmo teto com uma criatura enorme? Eu não faço mínima idéia.

Levantei o olhar assustada para a sala, eram gritos de dor, ela estava sentada na poltrona com a cabeça jogada para trás, mas o sofá impedia de enxergar o que estava acontecendo, pois ele cobria uma boa parte do seu corpo. Observei suas expressões e boca, como sua pele brilhava com os raios do sol entrando pela janela aberta, seus olhos azuis, seu pescoço estava suado com algumas mechas de cabelo grudados no mesmo, cruzei meus braços com os olhos vidrados nela.

O livro estava certo. Um rosto angelical destrói qualquer retardado.

Tem certeza que o livro está tão certo? — Sua voz rouca me tirou do transe, balancei a cabeça negativamente tentando voltar a realidade. — Qualquer retardado não, por favor, me ofende. — Sorriu de lado enquanto respirava fundo, novamente jogou a cabeça para trás.

— É errado ler a mente das pessoas. — Voltei a atenção para bancada com legumes.

— Nesse caso, mil perdões, Burnet, mas você pensou alto demais. — Seus sarcasmos me irritava na maioria das vezes.

— Não pensei alto, coisa. — Apoiei meus cotovelos em cima do balcão e fiquei encarando seu rosto.

— 'Coisa? Uau! Pensei que fosse mais criativa com apelidos. — Riu irônica.

— Vem cá, por que você cuidava de mim? — Perguntei séria.

— Você estava machucada. Pessoas machucadas sangram, e quando sangram, é uma perdição para os demônios. Mesmo deixando você naquela floresta nua e machucada, eu voltaria mais tarde para matar você — Me olhou de lado, abaixei a cabeça envergonhada. — Eu não olhei para o seu corpo se é isso que quer saber. — Voltou a olhar para frente.

— Deveria ter deixado, assim eu morria de vez.

— Garota, você é uma desalmada, largou sua cachorra para se aventurar com os lobos. — Disse com o tom de voz um pouco elevado.

— Mas... — Fui interrompida.

— Não deixei largada naquela floresta, então não questione coisas que não a levará a nada. — Fechou a cara, observei ela respirar fundo enquanto fechava seus olhos.

— Impossível não questionar, até porque eu estou vivendo numa casa com um demônio, e lá se sabe por quanto tempo vou continuar viva. — Fechei meus olhos, passei minhas mãos em meus rosto afastando minha franja.

— Isso depende de você e não de mim. — Levantou da poltrona, meus olhos desceram para o seu corpo no automático.

Estava apenas com um sutiã e calça moletom, sua barriga tinha um corte fundo, tinha um duro perto do seu seio esquerdo, ela passou por mim pisando fundo.

— Quem fez isso com você? — Perguntei, olhando para sua barriga cortada.

— Isso em algumas horas some. — Respondeu curta.

— Precisa cuidar disso. — Pela primeira vez eu toquei em seu braço frio, seus olhos pairou em minha mão.

— Cuidar disso é mesmo que cuidar de uma pessoa morta achando que vai ressuscitar. — Tirou minha mão do seu braço.

Midnight | B.EOnde histórias criam vida. Descubra agora