A Casta da Tarde

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As Kermísias



O segundo grupo a despertar era formado apenas por sete imponentes mulheres. Coroando a altiva cabeça, as mechas cascateavam pelas espáduas nuas, e apresentavam pigmentações na escala cromática entre o vermelho e amarelo, como o cerne da Aniba, cujo cheiro parecia também exalar de suas carnes nacarinas e macias. Tinham uma visão aguçada nas retinas brilhantes e coloridas, com mesclas de verde e azul. Possuíam uma disposição de ânimo fervorosa, sendo determinadas na mente e dinâmicas.


Havia nessa ilha um minúsculo inseto de cor avermelhada. Embora pequeno, o animal as atraiu por causa do intrigante motivo deles possuírem exatamente a mesma tonalidade de seus cabelos e pele. O pequeno artrópode extrai de algumas espécies de árvores a cor que elas chamaram kermisia, ou carmesim. Essa passou a ser a denominação do belo harém_ as Kermisias. Esse pigmento elas usaram para colorir suas vestes.

Delonixia tornou-se o nome daquela que escolheram como sua matrona. A cabeleira dela tinha o vermelho intenso da resina da itaúba. Ela também tinha um porte nobre, além de ser vigorosa como as fibras dessa árvore; seus olhos eram verdes e intimidadores. As outras tinham cabelos mais alaranjados com as pontas rubras; os olhos podiam variar entre verde e azul, às vezes raiado de violeta.

O lugar onde despertaram era, na verdade, uma ilha que cresceu sobre os destroços de um antigo asteroide. Tecnicamente, tratava-se de um lago, pois suas águas eram doces e salobras. Ele, curiosamente, tinha biodiversidade marinha em sua parte leste, como as conchas que havia em abundância; mas também continha fauna fluvial nas desenbocaduras de alguns rios. O impacto que o meteoro infligiu no planeta, formou uma bacia com um lago no centro. Sobre o leito do qual repousava o bloco esfacelado, como um enorme baú rochoso de três partes, revelando um interior incrustado de pedras cor de carmim. Foi esse o cenário submerso que as acolheu quando elas abriram os olhos. Viram primeiramente o intenso vermelho faiscando nas paredes do reduto, em seguida perceberam que estavam imersas em águas de um turqueza claro. Essa beleza ainda hoje estampa seus semblantes.

A mais velha, ao ganhar ânimo, nota que há outras flutuando de ambos os lados. Prontamente dirige-se a elas, passando a mão por sobre os seus olhos, que logo refletem as cores daquele mundo.

O bando olha as arestas de luz vindas da superfície, e começam a impulsionar os corpos em coleios feminis. No busto liso, apenas um par de rijos pomos assomavam, cristados por um grão de rubor. Na convergência das pernas delgadas, delineava-se apenas um tênue veludo. As longas madeixas fulvas bailam com o movimento das águas, enquanto as estrias de luz brincam em sua nudez pueril. Quando a rubra coma emerge, imediatamente a membrana que lacrava suas narinas retrai-se, e elas respiram pela primeira vez aquela atmosfera.

A ilha era coberta por uma rica vegetação composta por palmeiras, arbustos, ervas e árvores frutíferas. Havia abundância de flores de diversas cores e espécies. Entretanto, era a Aniba com suas cores, a que mais atraía o bando.

Da madeira de Itaúba elas confeccionaram embarcações fortes para navegarem por aquelas águas. Pois embora fossem excelentes nadadoras, preferiam usar os barcos para pescar ou transportar grandes cargas.

Seus nomes eram: Delonixia( a matriarca), Myrciaria, Cerulia, Carmina, Strelizia, Glicínia e Acácia.

Delonixia era bem torneada e alta, de pele rosada, olhos verdes e cabelos vermelhos. Tinha a determinação que uma líder exigia. Quase sempre era ela quem estimulava o bando ou que promovia o progresso como grupo, como a escolha da madeira para a fabricação de suas fortes embarcações. As primeiras eram simples botes, que suportavam apenas uma passageira; depois ela projetou barcos maiores, até por fim fabricar uma grande balsa capaz de levar as sete.

A Noz DouradaOnde histórias criam vida. Descubra agora