A convocação

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A união dos Clãs



Nigrus, ao receber a notícia, encolhe-se no chão de joelhos e com as mãos nervosas na cabeça, rangendo os dentes num esgar angustiado. Depois ergue-se, silenciosamente, e se recolhe na tapera onde morava o casal. De lá, ouviam apenas gemidos e arquejantes rosnados. A verdade, é que bem poucas lágrimas ele derramou, e as únicas que foram autênticas, haviam sido derramadas antes dele cometer o ato covarde e no instante que o consumou. O que ele lamentava, de fato, era a partida de Avellana, que todos passaram a chamar de Yasai, em respeito ao seu pedido. Embora não tenha sido difícil para a maioria aceitar o novo nome, visto que ela deixou marcada na memória deles, a cena deprimente, na qual ela chega agarrada ao cacho de frutas, que junto com suas lágrimas, banhavam sua face.


Naqueles dias que Nigrus ficava sem a companhia de Tonka, por este retirar-se para ficar com a esposa, o recluso homem aproveitava o tempo vagando sozinho por terras ermas, chegando nos limites meridionais da floresta, a partir da qual estendia-se um lago comprido de águas escuras. Além destas fronteiras, ele enfim satisfaz as suas expectativas, visitando a paisagem que ansiava por ver, desde o primeiro dia de existência. Neste extremo sul, entre as nebulosas e frias montanhas da Garganta do Touro, ele funda sua comunidade, que ele chamou de Irundy, em um futuro próximo. Antes, porém, ele retorna à aldeia, passando um tempo entre eles até reunir um bom número de fiéis seguidores.


Dias atrás, nas encostas das colinas do norte, Livyo e Kaynã, descem à procura dos amigos, no ponto onde se separaram e firmaram o voto de lealdade. Rapidamente chegaram, sobre a montaria alada que cada um conduzia.


— Tu acha que eles foram para que direção? — questiona Kay.


— Só penso que para o leste eles não foram. Restando apenas duas opções, ou desceram o rio, para o sul, ou rumaram para o oeste.


— Então, talvez seja melhor nos dividirmos.


— Sim. Vou pelo oeste, e tu vai para o sul. Mas não toquemos a corneta, pelo menos até acharmos alguém diferente de nossa raça. Daí nos reunimos no ponto onde estiver quem primeiro soar o toque. Do contrário, se apenas encontrarmos nossos amigos, voltamos todos para este ponto. Entendeste? — pronuncia-se Livyo.


— Sim. Combinado.


Desse modo, cada qual faz o seu achado: Kaynã encontra os quatro amigos e mais três mulheres de raça distinta, um pouco dentro da floresta às margens do rio; por sua vez, Livyo se depara com Avellana chorando nas bordas do abismo, levando-a em seguida ao acampamento do Clã da Noite, onde ele ouve o sinal de seus irmãos e dá a resposta, sob a luz das três luas.


Na mesma noite todos se reúnem no grande ajuntamento dos Castiros, o Povo das Estrelas e das castanhas cor de mogno. Passam quase a noite inteira acordados, admirando o céu enluarado, conversando e consolando a enlutada viúva. Nigrus estava chegando na borda da floresta, retornando ao vilarejo, quando ouviu o toque estridente da buzina. Ele fica receoso e em dúvida do que pode significar aquilo, por isso decide não apressar o passo, chegando lá depois que já haviam partido.

A Noz DouradaOnde histórias criam vida. Descubra agora