O coração de Nigrus e o Coração de Urso

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As três luas de Aleph já subiam além dos Montes da Carcaça. Em primeiro plano, um bar se escondia no meio do matagal, com telhado coberto de turfa e uma minúscula placa que mais estampava a omissão do que o título escrito nela: Pandarcetes. O casebre ficava oculto não só pela vegetação, mas também pela sombra dos rochedos sobre os quais se escorava.

Nove homens estavam diante dele, prestes a entrarem.

— Vão direto para os fundos. Vou trocar umas palavrinhas com o velho Turião — fala Taipan.

Os homens passam pelas mesas, cumprimentando alguns conhecidos, quase todos partícipes dos métodos e transações que circulavam pelo bar e dava-lhe a má reputação. Os frequentadores, de capuzes longos e cores que tornava impossível distinguir na escuridão e fumaceira dos cachimbos, retribuiam os cumprimentos erguendo as canecas.

Taipan chega no balcão e fica dez minutos conversando com um velho calvo, mas de aparência nada frágil.

— Quantos chefes de grupos você acha que passaram por aqui? — pergunta Taipan.

— Em torno de treze ou quatorze. Cada qual trouxe em média uns três rapazes — responde Turião.

— Eles vieram sós? Trouxeram algum ajudante?

— Não, senhor, não havia mais ninguém com eles, só os recrutas. Minha gente fica bem posicionada. Mas eles estão reclamando do pagamento. Eles têm família. Precisam comer.

— Tem certeza? — Taipan ignorou a parte que não lhe interessava. — Eu consegui passar tranquilo por dois deles. Só o Xicote é atento o bastante. Tu tem que ter mais homens como ele. Toma aqui — Taipan coloca um saquinho em cima do balcão. — Se algum daqueles frangotes com flores nos cabelos pisar aqui, eu ponho fogo nisso tudo. E faço questão de juntar as caveiras de vocês pra usar de lampião. Tu sabe que não gosto de ameaçar, Turião. Então já sabe: se eu demorar a ter essa conversinha contigo de novo, fica desconfiado.

Turião baixa a cabeça em reverência, mas seus olhos tremiam levemente.

— Só mais uma coisa: se vires algum dos rapazes recrutados saírem das cavernas, podes mandar um dos teus homens dar cabo dele.

— Entendido, senhor.

Taipan entra para o reduto, que ficava encravado nas paredes dos rochedos. Essas câmaras subterrâneas, no entanto, só eram acessadas por Taipan e os que ele aprovava.

Tinha vários pequenos átrios na parte mais externa, onde eram guardados mantimentos e bebidas. Contudo, era na parte mais funda que Taipan realizava seus treinos e atividades clandestinas.

Ele chega a um espaço mais aberto, onde muitos varões se exercitavam e trocavam de roupa. Taipan bate palmas, pedindo atenção.

— Vocês ainda estão assim? Já era para estarem prontos. Eu já não disse que tem um horário estipulado?

Ele se dirige a um dos rapazes despidos.

— Tu sabe pra onde está indo?

— Sei sim, senhor.

— Tu tens sangue Calib?

— Não, senhor.

— Hum — Taipan ria, e os chefes preferiam quando ele gritava. — Tu vens comigo. Vocês quatro também. Não. Virão do jeito que estão. Vamos. Se ficar alguém para trás, podem deixar. É só tomarem o mesmo caminho de volta.

Um jovem parecido com esse outro intervém:

— Senhor, eu posso ir com ele? Somos irmãos.

— Não. Tu irás com os que estão vestidos, os que se prepararam, os que sabem obedecer.

A Noz DouradaOnde histórias criam vida. Descubra agora