Acima das nuvens

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Ainda no Mergus, eles seguiram pelo rio Flechal, até certo trecho navegável, onde havia um destacamento de pessoas conhecidas da Resistência. Pausaram para um lanche rápido e prosseguiram a pé, mata adentro. Fizeram trilha por duas horas, parado em alguns pontos para descansar. Só quando estavam em um trecho considerado seguro, eles abriram as castanhas que trazim ao pescoço. Dentro de um segundo apareceram diante de cada um, criaturas magníficas e aladas. Jamil e Jamile não tiveram reação alguma. Estavam petrificados. Não só pelo susto, mas devido ao deslumbre que as cores e brilho das asas produziam, quando sacudiam nas frestas de luz. Hima abre os braços e anuncia caricaturalmente:

_ E esses são os Gutus de Alaranil. Esse é Amih; aquele do lado de Hazim é Prunus; e temos ainda o esquilo Dimi; e a borboleta Dhara.

_ Já esses são os Gutus de Cauabori, o urso Oby; e Leo, o Gutu de meu avô.

_ Eles mordem?_ pergunta Jamil, olhando para o leão, o raposo e o urso, dividido entre o medo e o encanto.

_ Mordo, sim. Principalmente línguas que não sabem ficar quietas dentro da boca._ responde Leo.

_ Estou morrendo de fome._ declara Oby._ Esses garotos são o nosso lanche? Não tinham uns moleques mais nutridos que isso?

_ Isso?_ interroga Jamil.

_ Eu estou com vontade de apertar ele._ confessa Jamile, olhando para o urso.

_ Eu deixo. Só porque você tem o sangue de meu irmão Cauã._ diz Oby.

_ Irmão?_ estranha Jamil.

_ Quando um Gutu irmana-se com você passa a ser sua alma irmã._ explica Dimitri.

_ Como você sabe que fazemos parte da genealogia desse tal Cauã?

_ Gutus sentem cheiros sutis. Eles captam sentimentos, emoções e até genética._ explica Hazim.

_ E onde está o Gutu do moreno violinista?_ questiona Jamil.

_ Primeiro que eu não sou moreno. Sou negro, com orgulho, e Orgulho com O maiúsculo. Segundo, que vocês já conheceram ele ontem. Foi Sy quem orquestrou o concerto para Hima dançar.

Os garotos exclamaram perplexos, olhando para o passarinho no cabelo de Syagrus.

_ E como eu faço para ter um?_ pergunta Jamil, sorrindo.

_ Já é a segunda idiotice que esse menino fala hoje._ se queixa Amih.

_ Primeira, hoje. Porque ontem ele falou da música de Hazim._ diz Hima.

_ Eita! Se deu mal, hein?_ disse o raposo, fazendo uma careta.

Hima aproxima-se de Jamil e apoia-se com os braços em seu ombro.

_ Entenda, rapaz: Gutus devem ser tratados assim como humanos. Você ia gostar que andassem dizendo: 'como eu faço para ter um Jamil?'. Os Gutus tem sentimentos, assim como nós. Pra ser bem sincero, na verdade as faculdades emocionais deles são muito mais afiadas que as nossas.

_ Acho que tratando-se desse garoto, até as faculdades mentais..._ diz Amih.

Jamile intercede pelo irmão:

_ Gente, parem de implicar com meu maninho. Esse é o jeito dele. Ele faz por puro deboche mesmo. Ele gosta de música antiga; tira as melhores notas em arte e biologia; além de ter uma redação excelente.

_ E por que ele age como se fosse o oposto de tudo isso?_ pergunta Adhara.

_ Porque eu sou modesto._ responde Jamil, todo faceiro para o lado de Adhara.

A Noz DouradaOnde histórias criam vida. Descubra agora