Os três reinos

0 0 0
                                    


       A caravana


Magnólia, enfim recebeu a benção e a permissão do pai de partir e aceitar Akademus como marido. Eles se casaram antes da abertura das aulas. Juntos, plantaram em seu novo lar uma muda de plátano, o qual passou a ser o símbolo da nova família. Assim, surgiu a sexta ordem de Kayolius. Na ocasião que Akademus apresentou a noiva ao pai, tanto Nokaihi como muitos outros ficaram se perguntando de onde havia saído aquela moça.

— Ora, ela despertou sozinha no meio da floresta, assim como Geode, e assim como as irmãs das luas — tentou justificar o noivo.

— Mas depois de tanto tempo? Ela viveu sozinha no meio do mato durante esses anos todos?— indaga Noka, sem estar muito inclinado a acreditar.

— Eu despertei tardiamente, senhor. Esse tempo que Akademus passava na mata foi para me atualizar a respeito de todas as novidades. Ele não queria que eu me sentisse deslocada em meio a um mundo novo — justifica a dócil Magnólia.

Diante da resposta quase suplicante de Magnólia, Noka amolece e decide acolher a explicação, encerrando o assunto.

Geode, no entanto, reconheceu a donzela no instante que a viu. Ele espera a comoção das bodas passar, mantendo a discrição, para que não desconfiassem do vínculo existente entre os dois. Mas, quando tudo se acalma e volta ao ritmo habitual, ele encontra uma oportunidade e a chama para conversar a sós.

— Irmã, como nosso pai permitiu a tua saída? — ele falava quase esganiçado, temendo que aquilo fosse resultar em algo negativo para si.

— Assim como ele permitiu a tua — respondeu a moça, secamente.

— E por que fizeste isso só agora? Teria sido melhor teres partido junto comigo na ocasião que eu deixei vocês.

— Eu era muito nova na época. Tive medo do que fosse encontrar cá fora. Mas também não gostava de viver daquele modo. Eu encontrei uma passagem longa que dava até o lugar onde Akademus me achou. Eu gostava de ir até lá pra sair um pouco do subsolo e respirar o ar da floresta, sem que nosso pai visse.

— E ele nunca te descobriu?

— Creio que não. Do contrário, teria me proibido de continuar indo lá durante esses anos todos.

— Ele não mandou nenhum recado pra mim?

— Nenhum, além daquele que já recebeste no dia que se separou de nós. O mesmo que ele te impôs, impôs a mim também. Nenhum de nós deve voltar ou comentar sobre eles com alguém.

Uma semana antes da inauguração da Academia, Attalea e Ticum resolvem partir de Kayolius, em busca dos parentes, Anydria e Pati. Eles comparecem na casa real, a fim de comunicar os amigos, Livyo e Yasai, de sua decisão.

— Mas por que isso agora Attalea? Vocês já conviveram tanto tempo entre nós, que acabaram tornando mais difícil aceitarmos um adeus tão repentino — protesta Yasai, com o menino Calíodo no colo.

— Qual será o destino de vocês, exatamente? — pergunta Livyo, com ponderação.

— Não sabemos o local exato. Vamos até o Canto do Pássaro, o mesmo lugar onde acampamos duas vezes há anos, na Grande Convocação. De lá, vamos em busca deles — Anydria tentou parecer confiante, mas viu que sua circunstância atual, com dois filhos pequenos, a contrariava. Com isso Yasai argumenta:

— Vocês vão sair mundo afora, sem destino certo e com duas crianças? Isso é loucura Ticum. É muito arriscado! —insiste mais avigoradamente a preocupada Yasai.

— Amiga, eu só fiquei todos esses anos por tua causa. Não me conformava de te ver naquele estado. Mas agora tu estás mais do que bem acompanhada. Pati e Anydria podem estar precisando de nós — admite Attalea, já dando indícios de comoção.

A Noz DouradaOnde histórias criam vida. Descubra agora