O recrutamento

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Townessi



Já era tarde da noite, quando todo o povo começou a viagem de volta a seus reinos e lares. Alguns, porém, a convite de Caliandro e Luaria, resolveram dormir aquela noite na pirâmide dos anfitriões.


Para quem visse o monumento de fora, concluiria ser uma habitação lúgubre; mas estando em seus aposentos internos, mudaria facilmente de opinião. Caliandro mentira no tocante ao ouro. Sua presença nos adornos eram marcante e em abundância. Havia muito capricho na decoração, e a arquitetura também não deixava a desejar; entalhes delicadamente esculpidos nas paredes, colunas e até mesmo no teto, alguns dos quais o próprio Cauã pintara; os cômodos também contavam com objetos de beleza ímpar, como vasos e estatuetas de vidro ou cerâmica, feitos por imigrantes de Burkan; também, o piso lustroso e os corredores e recintos especiais constavam de tapeçarias feitas com requinte e habilidade. No que diz respeito à quantidade de acomodações, não eram tantas quanto as de Kayolius, mas ainda assim, eram o suficiente para comportar muita gente. Tanto é verdade, que a boa parte que ficou hospedada não ocupou nem metade dos quartos. Pois haviam aposentos muito abaixo da parte externa da pirâmide. Foram nesses que os aparentados e amigos dos anfitriões ficaram.

Depois que parte da comitiva partiu, Dheam ficou ainda um tempinho com eles, em volta de uma fogueira.

— Calíodo não implicou sobre permitir que você ficasse? — Inia pergunta à sua amiga e confidente, Ilméria.

— Ele sempre implica, com tudo. Mas eu tenho meu jeitinho — diz ela, olhando cúmplice para a amiga.

O centro das atenções naquele momento era Townessi e sua irmã mais nova, Meala. Ilméria começou comentando sobre as duas:

_ Maninho, teu desejo de casar com uma mulher que voa se realizou literalmente. Agora o Domo está duas vezes simbolizado por um cisne. Pois se eu não estiver enganada, é um filhote de cisne, que Meala está segurando, certo?

— Sim. Ele chama-se Eala — responde a irmã mais nova.

— Todos os Gutus são machos? — indaga Hima.

— Não. Meu Gutu é uma fêmea. Ela chama-se Nessi — responde Townessi.

Ilméria, afoita como é, foi logo decretando:

— Como vocês já estão praticamente casados, depois terão tempo para conversarem e se conhecerem bastante. Então, essa é a nossa vez, tá maninho — disse ela, piscando para Cauã.

— Eu estou na mesma situação que qualquer um aqui. De modo que o que vocês perguntarem a ela será igualmente de proveito para mim — responde Cauã.

— A primeira coisa que quero perguntar, é: vocês sempre usaram a fruta de anil para esse fim? — interroga Ilméria.

— Apesar de ser uma planta abundante em nosso mundo, nós só a usávamos como diversão. Pois alguns dos animais que usamos têm tamanhos microscópicos. Então, comemos a fruta para podermos usá-los. Quando os pais de Cauã sumiram, eles na verdade… — aqui Townessi é interrompida por Hazim, que, de tanta euforia, completa o que ela ia dizer.

— … encolheram — acerta o rapaz, deixando a plateia confusa, mas tirando um sorriso de Dheam.

— Por que você está rindo? — pergunta Ilméria, sendo contagiada por aquele sorriso que ela foi a primeira a conhecer. Mas ela tentava fazer cara de séria.

A Noz DouradaOnde histórias criam vida. Descubra agora