As aulas de Aysú

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O corpo docente



O dia em Aysú terminou igualmente a tantas outras vezes já relatadas: com muita gente reunida, em volta de muita comida junta e muito amor compartilhado. Além de música, é claro. No lar coletivo que começaram a chamar de Casa dos Cinco ( Ivaí, Hima, Syagrus, Hazim e Cauabori), os professores discutiam com Akademus sobre a divisão das turmas e matérias da Escola, o conteúdo que deveria ser abordado em cada disciplina e como deveria funcionar o cronograma letivo.

Ayo tocou um pouco de bossa nova em seu violão, com a ajuda de diferentes vozes. Até mesmo as crianças e jovens quiseram fazer um participação. Mainá, Laglina e Doris Day regiam o coro de vozes infantis.

Depois elas três coroaram o crepúsculo com o doce som de suas vozes, à medida que a tarde esmaecia nas linhas e cores aguadas do horizonte.

_ Cantem um pouco de jazz, minha caras. Por favor! Nada melhor que o enlanguescente ritmo do jazz-blues para arrematar esse fim de tarde gostoso._ sugere Syagrus, deitando-se em um divã e ponto os braços atrás da cabeça.

Elas então deixam o solo para Doris Day, destilando "In the garden" nas veias. Hazim balançava o corpo, de olhos fechados. Jamil percebe e comenta:

— Você gosta dela, hein.

— Ouvir Doris é sentir a própria tarde vaporizando-se nas meigas ondas do som, enquanto se despede debaixo dos agasalhos quentes do horizonte. A música dela tem cheiro e gosto de café. É doce, com pinceladas cálidas e veludosas — elogia ele, fazendo com as mãos no peito um gesto de coração pulsando. Doris ri e faz uma reverência, à medida que continua cantando.

—E por falar nisso, vou já preparar um pouco do preto velho. Depois delas, será a minha vez. Vou cantar "If i give my heart to you", para a rainha das árvores e do meu coração — Hazim envia um beijo à esposa, enquanto se dirigia à cozinha, para preparar a bebida favorita.

Ele quase esbarra em uma das crianças.

_ Cuidado, Oriba! Seria melhor brincar no jardim. Saiph e os outros estão jogando queimada. Por que não se junta a eles?

_ Papai Ivaí disse que Índigo está contando histórias. Estou indo chamar Kadu e Caubi._ esses eram os filhos de Allam e Kauri, respectivamente.

_ Ah, é? Pois vá, então.

O episódio fez Hazim ter uma ideia. Após preparar o café, ele retorna à sala, oferendo a bebida aos presentes e sugerindo a eles um acréscimo no corpo docente.

_ Que tal pormos Índigo para dar aulas de História?

_ Índigo? O coruja?_ Syagrus se assusta que quase derrama o café em si.

_ Por que não? Ele conhece fatos da história de Aleph e Alaranil melhor que nós._ argumenta Hazim.

_ Não vejo objeção para isto._ opina Ilméria.

_ Os outros Gutus ficarão com ciúmes._ fala Hima, pensando logo em seu Gutu ciumento e orgulhoso, Amih.

_ Na minha opinião, acho os Gutus tão qualificados quanto nós para ocuparem um cargo de responsabilidade. Afinal, em Alaranil, a cultura tradicional é admitir os Gutus em posições de responsabilidade muito mais elevada. _ comenta Inia.

_ Pode ser. Todavia, quem dá a palavra final é o Akademus. Ele é o diretor da Academia, não você, Hazim. Além de tudo, meu aval como rei de Aleph, deve contar também._ diz Syagrus, torcendo o bico para o amigo.

A Noz DouradaOnde histórias criam vida. Descubra agora