•29• Encontros e reencontros

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2031, Coimbra

O dia estava ensolarado, sem nuvens brancas ou cinzentas, e muito menos redondinhas ou fofinhas. O céu azul estava limpo, apenas com um pequeno rastro das nuvens como se tivessem sido rasgadas e o que sobrava ficava suspendido naturalmente no ar. O que era aliviador era a brisa fresca e forte que subia pelas casas, rondava os quarteirões e acertava, precisamente, os corpos aquecidos e meio suados das pessoas, que ao sentirem a brisa agradeciam espontaneamente por este acalento invisível.

Ao pôr seus pés fora de casa, Quimera já sentia a mistura entre os elevados graus celsius deste dia e a revigorante brisa. Tal como previu a bocado antes de sair de casa, ela colocou um elástico no cabelo para prendê-lo, fazendo assim um "rabo de cavalo" médio. Sua roupa era confortável e refrescante tal como este dia exigia para ela, caso contrário as consequências não seriam das melhores.

Sorrindo, ainda meio inebriada com o perfume de sua mãe que ficou nela ao ir dar-lhe um beijo na testa como forma de a desejar um excelente dia de trabalho, Quimera caminhava até ao posto de autocarro para ir ao centro hospitalar aonde ela trabalhava e sentia muito gosto em trabalhar ali. Não havia forma nenhuma de não fazê-la sentir-se abençoada pois ela conseguira o trabalho que ela estava certa de que era sua vocação, o seu chamado neste mundo hostil.

Quimera carregava sua bolsa preta de tamanho médio, ela olhava para a rua e para as pessoas com atenção, apreciando ambas as partes sem deixar de dar passos largos até ao posto de autocarro. Ela ainda tinha tempo de sobra - mesmo quando estivesse no autocarro - porém o que a fazia sair um pouco mais cedo era esta caminhada calma e focada na apreciação do belo.

Quimera não era daquele padrão de pessoas que amam tagarelar, - ou de forma mais suavizada - pessoas que gostam de falar muito. Ela era introvertida, reservada e observadora. Muito observadora. Então, fazer este trajeto era uma espécie de terapia aonde ela não só analisava o exterior como também fazia sua introspeção interna, reparando nos pontos que ela evoluía e diluía no espetáculo imperdível de sua vida.

Era de manhã - o que espantava Quimera, pois se de manhã o sol estava assim, imagina agora a partir do meio-dia - algumas pessoas já passavam pela rua na sua habitual pressa para o trabalho, alguns sem olhar direito por onde passavam e outros mostrando o quão desastrados eram, arrancando sorrisos meio ingénuos por parte de Quimera.

Faltava pouco para Quimera chegar no seu primeiro destino, que era o posto de autocarro, para de seguida ir ao hospital fazer uma das coisas que mais a deixava feliz, que era ajudar pessoas enfermas tanto a nível físico como psicológico, dando assim todo o apoio necessário para essas pessoas fustigadas por doenças crónicas, outras que foram acidentadas e a outra classe que se encontrava em uma fase terminal de suas doenças.

Um pensamento vai, outro vinha e Quimera orava em prol de todos os doentes no mundo, com uma doença grave ou nem tanto. Uma buzina súbita invade as vias auditivas dela, distraindo-a e tirando-a assim do seu monólogo interno para agora sentir alguém esbarrando nela. O indivíduo era um homem. Seu porte físico era atlético, mas ele não se encaixava no padrão daqueles grandes. O homem era loiro e bonito. Muito bonito por sinal.

Quimera sentiu-se desnorteada em função do esbarro com o Cristiano. Ela olhava atentamente para o rosto do sujeito, até então, desconhecido para ela. Mesmo com alguns fios do cabelo dele a frente dos olhos, Quimera podia jurar que seus olhos eram azuis. Uns azuis bem cativantes e que mesmo Quimera estando desconfortável com o ocorrido, ela não parava de olhar para o Cristiano com inquietação. E também admiração!

Uma Difícil Decisão ▪︎ Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora