•44• Uma difícil decisão

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2031, Coimbra

Enquanto Joyce inalava o máximo possível de ar que podia para encher o seu balão verde, Augusto terminava de secar a pequena loiça que, outrora, estava suja - resumia-se em dois copos, pratos, duas colheres e uma faca - todos foram colocados em seus devidos lugares. No final, Augusto soltou o ar de forma mais pesada ao recordar-se do que acontecera há dois dias atrás.

Pelo menos, agora, Augusto reconfortava-se ao pensar que aquilo tudo passou a ficar no passado, que eles estavam bem e tudo passaria a ficar normal. Sem mais ataques surpresas, sem mais pessoas feridas ou mortas desnecessariamente.

Agora o que faltava para Joyce era enterrar, de uma vez por todas, todo o mal que ela sofrera por causa da família DiFalco. E era por isso mesmo que Joyce estava a encher aquele balão - pelo menos ela enchia, pois fechar a boca do material insuflável era um grande percalço naquele momento - para ir libertá-lo ao ar livre tal como iria conceder o perdão ao Marco e ao resto de sua família.

Depois de saber que fora o Randal a criar a FAC, das suas razões e também o porquê de ter vindo até Portugal, Joyce conseguia perceber finalmente que mesmo sendo uma difícil decisão, perdoar era importante, totalmente vital. A falta de perdão levou o Randal a viver várias décadas na amargura, envolvido em várias camadas de raiva, ódio e revolta. Randal e seus filhos tornaram-se escravos desses sentimentos tóxicos e pagaram um preço muito alto.

Marco suicidou-se, sendo o primeiro a partir, Randal também morreu na sua busca sedenta por vingança e sangue. Já Paolo fora operado e ele agora não podia mais andar. Paolo ficou paraplégico. O resto de sua vida fora condenada a passar numa cadeira de rodas e também ele tinha uma longa pena a cumprir pois todos os crimes em que ele está envolvido junto com o seu pai foram descobertos.

Com os pensamentos voltados em tudo isto, Joyce parou, respirou calmamente soltando o ar com mansidão e teve uma ideia. Joyce resolveu escrever um texto - numa simples folha de papel - aonde expressou todas as suas sensibilidades sobre tudo o que ela passara há dez anos atrás. Terminando de ler o texto, quando Joyce soltasse o balão ela estaria finalmente libertando um peso sobre o seu espírito fustigado há muito tempo atrás. Isto era uma cerimónia simbólica, em que ela queria ter por perto Deus e seu esposo.

Saindo do seu lar psíquico, Augusto passa a prestar atenção na sua esposa que refilava com ela mesma acerca do tal balão que, aparentemente, não queria fechar a boca de vez. Augusto riu do cenário indo a passos largos até sua amada.

- Problemas com o balão? - indagou Augusto sentando-se ao lado da Joyce que deixou, mais uma vez, o balão esvaziar fazendo aquele barulhinho escandaloso que passou a irritar Joyce.

- Muitas. Os balões não gostam de mim. - disse Joyce, sendo dramática. Ela sorriu pois esse dramatismo todo fazia-a recordar da sua irmã mais nova. Ayla era a rainha dos dramas - Nunca consigo fechar isto! - disse com um tom de voz mais exaltado - Ajuda-me, por favor!

- É por isso mesmo que estou aqui. Para resolver todos os teus problemas com os balões. - disse Augusto com escárnio. Joyce sorriu.

- Obrigada. Aqui tens o bendito. - Joyce entregou o balão, tendo os olhos esbugalhados no início, e sentindo que logo esse pequeno problema seria resolvido. Rapidamente, Augusto encheu o balão e fez um nó rápido deixando Joyce, no final, boquiaberta e com uma sobrancelha arqueada.

- Mas... - Augusto fizera uma careta engraçada e Joyce permaneceu perplexa - Não gozes com a minha cara, por favor... - Joyce colocou a mão no rosto, envergonhada.

Uma Difícil Decisão ▪︎ Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora