02 avião

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• Narrativa de Joseph •

- Você deve estar louco da cabeça, isso sim! - Charlotte grunhia enquanto dava empurrões bruscos em sua mala pra enfiá-la no bagageiro.

- Não fala assim comigo! - Revidei em um tom descontraído pra disfarçar a vergonha que estava sentindo no momento. - Não sei explicar tá bom? Só foi de primeira, sei lá. - Me indignei ao perceber que não achava palavras pra explicar o que havia acontecido horas antes.

- É o que? Teve imprinting agora? - Disse em um tom debochado enquanto se ajeitava na poltrona ao meu lado e afofava sua enorme bolsa em seu colo.

- Tive o que? - Espremi o rosto todo em um gesto afim de mostrar minha confusão tentando entender a bobagem que ela queria dizer em meio a uma conversa que precisava ser levada a sério, ou quase.

- Imprinting! Você não viu Crepúsculo quando mais novo não? - Me olhou por alguns segundos indignada e sem se importar com a minha cara de desaprovação prosseguiu. - Olha Joseph o lance é que não tem cabimento nenhum você simplesmente olhar pra uma pessoa e se apaixonar assim. Isso é carência, tá trabalhando demais. Logo passa!

- Não é assim Charlotte! - Agora quem se ajeitava na poltrona era eu, mais por indignação do que por conforto. - Eu me atrai por ela, só isso! - Dei de ombros brevemente me perdendo por um instante em meus pensamentos enquanto percebia a loucura que havia saído de minha boca horas antes.

- E se ela for uma aproveitadora? Me diz! Olha a dor de cabeça que você vai me dar! Sua carreira tá decolando agora, muita gente com interesse vai aparecer no seu caminho. - Torceu a boca de modo que fizesse questão de mostrar que estava certa enquanto me olhava com total desaprovação e ainda incrédula.

- Tá eu sei, mas pensa: foi eu quem me aproximei, foi eu quem sequei. Ela tava lá de boa lendo o livrinho dela. - Até eu pude ver nessa hora meus olhos brilharem com a lembrança. Voltei a realidade para prosseguir. - E tem mais: é exatamente por essas coisas que você listou que eu quero que você investigue ela. - Balancei as mãos no ar em um gesto de explicação.

- Ainda sobre a loirinha? - Steve que estava na poltrona de trás enfiou a cara no vão dos bancos deixando sua voz grossa soar entre nós dois como se estivesse ali.

- Ele tá louco Steve, louco! - Charlotte se virou pra trás rapidamente enxergando o rosto do meu segurança pelo mesmo vão. - Você tem que deixar de ser esse romântico incorrigível Joe. - Virou-se pra mim dizendo agora em um tom calmo e sóbrio.

- Você diz que eu preciso ter mais ataques de estrelismo, que preciso deixar de ser tão bonzinho. Pois esse agora é o momento! - Disse mais sério do que gostaria deixando um clima um tanto pesado entre nós.

Ela tinha razão, claro que tinha, mas não dizem que quando se tem a sorte de ver uma fagulha se quer de amor devemos nos agarrar cegamente a ela pra não se arrepender? Eu preferia arriscar a lamentar mais tarde sobre algo que talvez eu não sentiria de novo. Até então nos meus vinte e oito anos não havia sentido.

- Charlotte, investigar não vai fazer mal a ninguém vai. - Steve ainda com a cara enfiada no vão disse em um tom baixo, como se isso fosse possível vindo de sua voz grossa e estridente. - Eu ajudo. - Eu sabia que estava dizendo aquilo mais pra apaziguar o clima do que outra coisa. Ele havia percebido como de repente o meu brilho se foi ao sem querer ser rude, e de como ele também ia se indo quanto mais eu percebia que aquilo era loucura.

- Você ao menos perguntou o sobrenome dela? - Charlotte me perguntou ao fim de um suspiro longo e alto para deixar claro sua posição sobre o assunto. Ela já escolhia o filme que ia ver durante o voo. O silêncio pairou no ar por mais segundos do que havia pairar normalmente.

- Mas Joseph!!!! - Steve espalmou as suas coxas fazendo o barulho ecoar junto de seu tom de indignação. - Assim você não se ajuda também!

- Eu perguntei o nome e ela só disse o primeiro, como eu ia fazer? - Espremi os ombros em uma posição de defesa enquanto jogava as duas mãos pro ar. - Já tava estranho o suficiente a minha aproximação. - Meus olhos estavam fixados em qualquer lugar que não me levasse direto aos olhos de Charlotte. Podia sentir o quanto agora ela estava me fuzilando com o olhar.

- Você me cansa! - Ela disse em um tom quase de desistência ajeitando o óculos enorme em sua cara. Mais uma vez se ajeitou em sua poltrona, afundou o corpo ali como podia pra começar assistir seu filme e esperava que sem interrupções nenhuma.

Antes que eu pudesse perceber cai em um sono profundo recostado na janela do avião enquanto pensava sobre as coisas que havia acontecido. Despertei com o som da voz do piloto vinda da caixa de som cheia de chiados abafados. Abri os olhos com dificuldade pela claridade e encontrei Charlotte afundada em seu caderninho favorito rabiscando algumas coisas. A vida dela estava ali.

- Já chegamos? - Eu disse me esforçando pra fazer com que a minha voz rouca saísse alto o suficiente pra ser compreendida. Esfreguei rapidamente os olhos com as costas dos dedos.

- Tá quase, vai descer já já. - Minha assessora disse sem tirar os olhos do caderno mas mesmo assim pude ver suas sobrancelhas arquearem. Eu não disse nada. Apenas me movia lentamente pra que meu corpo despertasse e foi quando Charlotte prosseguiu me surpreendendo. - Eu tive uma ideia. - Eu não compreendia sobre o que ela falava, então apenas a olhei esperando que prosseguisse. Percebendo minha confusão ela seguiu depois de um suspiro. - Sobre a loirinha Joe! - Jogou a mão direita em forma descontraída para o ar pra que a ênfase do assunto se tornasse mais potente.

- Ah é? - Forcei a garganta pigarreando um pouco pra que a minha voz esquentasse e saísse direito sem esforço dessa vez. - Qual ideia? - Apertei as minhas coxas um tanto nervoso com sua resposta e um tanto ainda me espreguiçando levando meu ombro pra trás até onde eu podia chegar naquela poltrona.

- Ela tirou uma selfie com você. - Tinha voltado a anotar algumas coisas e ao terminar de dizer as palavras levantou a cabeça e me olhou nos olhos um tanto séria. - Não tirou? - Apenas confirmei com a cabeça tentando entender onde é que ela queria chegar. - Bom, a gente tem a senha do seu instagram. É só ficar de olho nas marcações e ao menos alguma coisa teremos dela.

- Mas são inúmeras... - A voz de Steve soou pelo vão me fazendo lembrar de que estava ali na conversa também.

- Pois é! - Charlotte deu de ombros assim que conseguiu enxergar a cara de Steve enfiada mais uma vez entre os bancos. - Mas não é esse o ataque de estrelismo que ele quer ter? Então vamos trabalhar nisso! - Mais uma vez ela jogou a mão que segurava a caneta pro ar e a repousou sobre a sua mão esquerda em um tom elegante. Ela sorriu afim de demonstrar que finalmente estava tudo bem com o assunto e que apesar de tudo ia me apoiar.

Charlotte era uma boa assessora, assim como Steve era um bom segurança, mas ambos eram melhores em ser meus amigos e me apoiarem no que fosse. Eu gostava de ser simpático com os fãs, gostava de vê-los tanto quanto eles gostavam de me ver e isso as vezes causava confusões em portas de hotéis e eventos, mas esses dois acima de tudo sempre me apoiavam e me deixavam seguro de ser como eu era. Erámos como uma rede infinita de proteção. 

- Então agora é só esperar? - Suspirei rapidamente assim que terminei a frase. Não sabia se estava mais nervoso sobre o assunto ou sobre meus amigos terem aceitado tamanha doideira. Mas a verdade é que agora se tornara mais real do que eu podia crer. Sim, era só esperar. Não importasse o quanto, eu ia esperar.

o conceito do amor »  joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora