011 quarto de hotel

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• Narrativa de Mariana •

Eu escutava o coração de Joseph enquanto tinha a cabeça debruçada sobre seu peito quente. O dia na janela já dava sinais de surgir e ele me acariciava no braço com as pontas dos dedos com o olhar perdido naquele horizonte. Os lençóis tão bagunçados agora se encontravam enrolados em nós que também estávamos do mesmo modo.

- Posso te fazer uma pergunta? - Ele disse quase sem voz sem querer se mover muito para não atrapalhar a perfeita sintonia de nós dois.

- Pode, claro. - Olhei em seus olhos como pude sem me distanciar muito. Temia o que vinha por ali, tinha curiosidade mas também anseio.

- Você acredita em amor à primeira vista? - Sua pergunta me fez gelar. Quer dizer, não queria mentir sobre o assunto mas de fato também não queria quebrar o clima maravilhoso ali entre nós.

- Não. - Neguei com a cabeça. Preferi ser sincera, no fim das contas, só sabia ser assim. Apertei meus lábios um contra o outro na esperança que Joseph não ficasse tenso ou tímido voltando a escorar a cabeça completamente em seu peito.

- Ao menos em amor acredita? - Apertou brevemente o meu ombro em um breve e estranho abraço. Parecia repudiar tal resposta minha. Levantei meu corpo lentamente assim que o escutei e sentei na cama ao seu lado.

- Olha, Garcia Márquez disse em um de seus livros que o amor é um sentimento contra a natureza, que condena dois desconhecidos a uma dependência mesquinha e malsã. - Recitei um de meus livros favoritos enquanto alcançava o maço de cigarros na mesa de cabeça ao lado e acendi um. Traguei, soltei a fumaça ao ar e olhei nos olhos de Joseph. - E eu concordo totalmente com ele. - Dei de ombros brevemente tentando achar alguma leveza para a minha resposta que tão negativa.

- E se alguém te fazer provar ao contrário? - Joe levou uma das mãos atrás da cabeça para apoiá-la enquanto com a outra agarrava o cigarro que eu o passava. Tragou e voltou a me olhar curioso. - Quer dizer, e se chegar alguém na sua vida e te fazer sentir amor?

- Você é um romântico incorrigível, acertei? - Sorri de maneira um tanto sofrida tentando levar o assunto numa boa sem acabar com a atmosfera prazerosa.

- Pra ser sincero eu sou. - Alisou sua nuca pensativo. Não gostava do termo pelo visto. Se sentou do mesmo modo que eu recostado na cabeceira da cama ainda perdido em seus pensamentos. Passou a barba levemente em meu ombro enquanto me observava. Disse em um tom baixo. - Eu poderia te conquistar. - Beijou no mesmo local sem tirar os olhos de meu rosto esperando minha reação.

- Joseph... - Sussurrei perdida em meus pensamentos. Eu até toparia aquilo mas de fato fé no amor era algo que eu havia perdido muito cedo e sabia que não seria tão fácil assim de reconquista-la. E no mais o que ele poderia fazer para me conquistar? Ele era um cara bacana, mas as coisas não funcionavam assim para mim.

- Se ao menos você deixar, posso te provar... - Joe seguia no mesmo tom baixo, me olhava de baixo ainda com beijos concentrados em ombro e pescoço.

- Provar o que Joe? - Espremi os olhos por um segundo, um tanto por arrepios ao sentir seus beijos mas também um tanto por confusão e refuto ao assunto. - Que o amor existe e que tudo é lindo? - Ri brevemente debochando da ideia.

- Por que você pensa assim? - O rapaz parou de beijar meu pescoço e ajeitou mais uma vez o seu corpo para estar com os olhos na altura do meu. - Alguém te fez tanto mal assim? - Tragou o cigarro com uma vontade que eu ainda não tinha visto.

- Várias pessoas pra ser sincera. - Levei os joelhos para perto de meu peito, os abracei e debrucei a cabeça ali ainda olhando para Joseph. Ele colocou o cigarro em minha boca e esperou que eu tragasse até tirá-lo.

- Eu posso imaginar. - Levou a cabeça até a minha e encostou o queixo no meu joelho também como conseguiu deixando a sua testa quase colada na minha. - Mas veja bem, acontece com todo mundo. É a vida. - Disse no mesmo tom baixo o qual adorava levar essa conversa. Depois disso me beijou.

Sabia que não queria mais prosseguir com o assunto para não atrapalhar o clima, não naquele momento. Adormecemos logo ainda enroscados como os nossos lençóis. Joseph me abraçava com toda força enquanto eu descansava profundamente em seu peito mais uma vez. Era tudo o que nos restava no momento.

o conceito do amor »  joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora