• Narrativa de Mariana •
Era meio dia em ponto. O sol ardia sobre minha cabeça e meus olhos se espremiam com a claridade mesmo dentro dos óculos escuros. Carregava duas caixas como conseguia. Parecia que ia deixar cair a qualquer instante mas consegui equilibra-las em um braço só enquanto girava a chave do portão do prédio do meu novo apartamento. Charlotte havia ajeitado o contrato daquilo rápido demais para o meu gosto e fazia me perguntar como ela havia conseguido aquilo e porque não deixara que eu fizesse isso. "Eu insisto", ela disse.
Assim que finalmente consegui adentrar ao meu novo apartamento respirei fundo pensando em todas as novas possibilidades que eu tinha ali. Arrastei as caixas para dentro e logo comecei a ajeitar as poucas coisas que eram minhas ali dentro. Ia anotando mentalmente tudo o que eu precisava comprar para a nova casa e sinceramente eram muitas.
"Preciso de comprar tanta coisa pra casa, você sabe onde tem algum lugar que venda isso aqui Char?"
Claro que Charlotte saberia. A mulher havia passado tanto tempo em Nova York em sua vida que conhecia aquele lugar como a palma da sua mão.
"Conheço sim, a Bed, Bath & Beyond! Vou te mandar o endereço e te encontro lá, pode ser? Estou acabando umas coisas com o Joe aqui perto."
Lembrei por um segundo de todas as intenções que tive no dia anterior ao ler o nome de Joseph na tela. Suspirei tentando esclarecer na mente que tudo aquilo ali havia sido só um flerte barato entre amigos com uma boa história sexual no passado. Como as de "lembra que a gente perdeu a virgindade juntos?" ou como as de "lembra quando fomos pra praia e a gente fodeu gostoso num hotel e no outro dia brigamos porque você não queria ser conhecida mundialmente como minha namorada?". Revirei os olhos brigando com os meus próprios pensamentos enquanto ajeitava a última gaveta de meu armário.
Eu já estava de pé na porta da loja há dez minutos com uma bela pose impaciente quando notei um táxi parar na minha frente. Charlotte desceu já pedindo desculpas.
- Amiga, você me perdoa, mas é que tudo lá atrasou. Se bem que dez minutos, o que são dez minutos de atraso não é? - Dizia enquanto me abraçava me cumprimentando. Me impressionava como as vezes ela nem respirava entre as palavras, mas já havia me acostumado com o seu jeito. Eu ainda estava com o queixo em seu ombro, dentro de nosso abraço quando pude notar Joseph sair do carro também. Ela seguia murmurando palavras que a essas alturas eu já não escutava mais. - E ah, Joe veio comigo porque também precisa de algumas coisas. - Senti um frio medonho na barriga mas agi como se aquilo fosse nada. Ele acenou para mim sabendo que Charlotte não pararia de falar tão cedo. - Compras Joseana, yei! - Ela levantou as mãos comemorando e esperando nossa reação que claro foi de desprezo. - Não? Tá, não!
- Você tem que parar com esse nome ridículo! - Eu disse para Charlotte quando finalmente tive a oportunidade. Assistia Joseph caminhar até mim. Passou um braço em meu pescoço e me apertou num abraço por ali.
- Não é tão ruim assim vai! - A sua voz ali perto de meu ouvido me fez estremecer mais uma vez. Eu o olhei com julgamento assim que ele me soltou do abraço.
- Não de forças, Joseph, pelo o amor de Deus! - O riso de nós três soou alto e em uníssono.
Começamos as compras, eu com um carrinho e Joseph com outro. Andávamos em silêncio nos corredores, um ao lado do outro enquanto Charlotte em nosso meio tagarelava sem parar sobre coisas que via ali, que havia feito na semana ou até mesmo histórias constrangedoras e não solicitadas de sua vida. Ela não dava uma trégua se quer mas ninguém ali achava ruim. As vezes eu e Joe nos olhávamos por trás dela, inclinando os nossos corpos para trás. Ele sorria e eu também, as vezes sobre a história da assessora mas as vezes só por encontrar o olhar um do outro mesmo. Era como uma breve conversa de olhares.
- Espera, eu preciso pegar algo no setor que passamos! - Charlotte rumou a outro corredor finalmente nos deixando em silêncio. Joe e eu assistimos até que ela saísse de nossa vista.
- Ô mulher que fala! - Ele disse brincando e rindo. Estava com as duas mãos em seu carrinho, quase que debruçado ali. Aquilo tudo me fez rir também.
- Ela está impossível nesses últimos dias, não está? - Coloquei a mão na cintura demonstrando a indignação.
- Se prepara viu? Porque quando ela fala assim mais do que o normal, que já é muito... - Joseph apontou brevemente para mim em um ato de aviso. - É porque ela tem um segredo que não pode contar. E se ela não pode contar nem pra mim e aparentemente nem pra você, ela tá aprontando pra cima de nós dois.
Claro que tava, e ainda era uma coisa das bravas. Até hoje não entendi como ela teve a audácia de fazer aquilo. Não que ficamos bravos ou coisa assim, pelo contrário, agradecemos até hoje, mas ainda sim foi um plano e tanto. Até para Charlotte.
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o conceito do amor » joseph quinn
Romance"Ninguém sabe do tamanho da profundeza do que é o amor até o encararmos dentro de outros olhos. Joseph levava uma vida calma até ter o estouro de sua carreira atuando em Stranger Things vendo seu mundo virar um turbilhão de emoções. A contra ponto...